Escorado em Covas, Nunes completa 1º ano casado com a Câmara

Prefeito de São Paulo governa evitando embates e tendo no Legislativo seu reduto mais forte

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São Paulo

Em seu amplo gabinete no viaduto do Chá, no centro de São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) mantém um retrato em que está ao lado de Bruno Covas, morto há um ano de câncer.

Nestes 365 dias à frente da prefeitura, completados nesta segunda-feira (16), Nunes fez questão de atrelar suas ações ao antecessor, mas imprime cada vez mais sua maneira de governar: evitando embates e tendo na Câmara Municipal seu reduto mais forte.

No período, ocorreram mudanças no comando de ao menos oito secretarias —Casa Civil, Cultura, Direitos Humanos e Cidadania, Esporte e Lazer, Gestão, Habitação, Mobilidade e Trânsito, e Saúde—, além da reativação da pasta de Turismo —antes anexada ao Desenvolvimento Econômico e Trabalho.

Em seu primeiro ano de gestão, o prefeito é aprovado por apenas 12% da população - Zanone Fraissat - 19.nov.2011/Folhapress

Embora parte dessas trocas atendesse a pedido de secretários para que pudessem ser candidatos nas eleições de outubro, uma ala ligada a Covas e ao PSDB lamenta as escolhas feitas por Nunes. É o caso de Ana Claudia Carletto, exonerada da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania. Ela, que faz parte da executiva do PSDB, foi sucedida por Soninha Francine, filiada ao Cidadania.

A cobiçada pasta de Saúde, antes ocupada por Edson Aparecido, agora está nas mãos do médico Luiz Carlos Zamarco, aparentemente sem ligação partidária.

Outras mudanças, como as exonerações de Orlando Faria (Habitação) e de César Azevedo (Urbanismo e Licenciamento), ambos amigos de Covas, ainda não foram digeridas.

No caso de Faria, que declarou apoio ao gaúcho Eduardo Leite nas prévias do PSDB para a Presidência da República, Nunes cedeu à pressão de João Doria, que deixou o governo de São Paulo no mês passado para tentar ser o candidato tucano. No lugar de Azevedo, com graduação em direito, foi empossado o arquiteto e urbanista Marcos Duque Gadelho, sob a justificativa de priorizar a revisão do Plano Diretor Estratégico.

Já para Aline Cardoso, secretária de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho há cinco anos, o prefeito segue mantendo o que prometeu quando assumiu o cargo.

"Nas primeiras reuniões, o Ricardo dizia que deveríamos manter as decisões tomadas pelo Bruno. Em outros casos, o prefeito até questiona como ele [Covas] faria tal coisa. Vivemos uma continuidade bacana e que trouxe estabilidade", diz ela.

Fora da prefeitura, Nunes tem buscado manter um bom relacionamento com os governos estadual e federal –a quem evita criticar.

Em março deste ano, o prefeito assinou acordo com o governo federal encerrando uma batalha judicial de quase 64 anos pela posse do Campo de Marte, na zona norte. A União ficou com a área e, em troca, uma dívida de R$ 24 bilhões do município.

Em meio ao fogo cruzado entre os governos paulista e federal, o prefeito ainda manteve diálogo com a ministra-chefe da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, na tentativa de a União bancar a gratuidade de idosos no transporte público e evitar o reajuste da tarifa de ônibus —R$ 4,40 atualmente.

O município teria direito a quase R$ R$ 350 milhões de repasses do governo federal, de acordo com cálculos da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) —para isso é preciso que seja aprovado um projeto de lei que garanta R$ 5 bilhões para estados e municípios como forma de assegurar a gratuidade dos idosos no transporte público.

O projeto ainda não tem data para ser votado, o que coloca em risco o valor previsto para reduzir o subsídio do município ao transporte público neste ano –estimado em R$ 3,5 bilhões.

Recentemente, Nunes tem colado em Rodrigo Garcia (PSDB), governador paulista e que tentará reeleição em outubro. Ambos têm sido vistos de almoços de domingo a eventos como o Carnaval, e em inaugurações.

Enquanto Garcia tentará a reeleição em outubro, Nunes quer melhorar sua imagem. Pesquisa Datafolha, realizada em abril deste ano aponta que apenas 12% dos paulistanos aprovam a sua gestão.

"Quando a gente soma ótimo, bom e regular dá 58%. No momento, com a pandemia, todas as notícias eram sobre vacina, óbitos. Acabou tendo pouca cobertura das ações dos governos, por isso, acho que a população talvez não tenha percebido tudo o que estamos fazendo", diz o prefeito sobre a pesquisa.

O prefeito Ricardo Nunes junto com Rodrigo Garcia, João Doria e Milton Leite - Rivaldo Gomes - 10.ago.21/Folhapress

Já na Câmara Municipal, Nunes conta com apoio da ampla maioria. O Executivo tem conseguido entupir a pauta do plenário e aprovado seus projetos com celeridade.

Em contrapartida, opositores ouvidos pela Folha contam que Nunes tem cedido aos pedidos de vereadores, entregando-lhes cargos nas subprefeituras, e está cada vez mais ligado ao presidente da Casa, Milton Leite (União Brasil).

Na primeira troca de secretariado, aliás, em agosto do ano passado, o prefeito alçou o então vereador pelo DEM Ricardo Teixeira à pasta de Mobilidade e Trânsito, um pedido de Leite, que tem influência no setor de transportes.

"A equipe continua a mesma, evidentemente tem uma troca ou outra de secretário por questão de desempenho ou porque se descompatibilizou, mas não existem diferenças", diz Nunes.

Procurado pela reportagem, Leite não quis conceder entrevista, mas enviou uma nota, por meio da assessoria de imprensa da Câmara. "O prefeito sabe que se o projeto for importante para São Paulo não faltará base ou maioria, isso eu garanto", afirmou.

Nunes conseguiu aprovar propostas como a reforma da Previdência em sessão tumultuada no Plenário, enquanto, do lado de fora, manifestantes tentaram invadir a Câmara e a GCM (Guarda Civil Metropolitana) atirou bombas de gás. O texto retirou a isenção de contribuição (alíquota de 14%) dos aposentados e pensionistas que ganhem mais que um salário mínimo.

Vereador por dois mandatos (2013 e 2017), ele acredita que esta experiência facilita a interlocução. "Os projetos são bons. Trago os vereadores aqui, explico o porquê da proposta e onde queremos chegar. Em oito anos na Câmara, nunca vi tantos projetos serem aprovado em pouco tempo", comemora.

No No rol das medidas impopulares, a gestão obteve aval da Casa para aumentar os salários dos cargos comissionados e captar empréstimo de até R$ 8 bilhões. Neste último, o prefeito afirmou, em ofício enviado ao Legislativo, que pretendia realizar investimentos em habitação, inovação e tecnologia, cultura e lazer, meio ambiente e intervenções na área de mobilidade urbana.

"Somando até março deste ano, a prefeitura tem R$ 30 bilhões em caixa. Descontando as despesas, sobram, pelo menos, R$ 11 bilhões. Mas é um governo que não realiza nenhuma obra importante", critica o vereador Antonio Donato (PT).

"Não vemos também nenhum programa social abrangente sendo fortalecido", afirma.

Em um balanço, o emedebista cita que inaugurou nove UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) em dez meses, enaltece o índice de 100% da população adulta vacinada contra o coronavírus e a entrega de 4.420 mil unidades habitacionais.

A curto prazo, Nunes terá de encarar questões urgentes na cidade, como o aumento da população em situação de rua. Segundo o último levantamento feito em 2021, havia 31.884 pessoas sem teto na cidade, 31% a mais do que em 2019. Os números, tidos como defasados por entidades de assistência social, tendem a aumentar ainda mais com o prolongamento da crise econômica.

Com a recente dispersão do fluxo da cracolândia, que ocupava a praça Princesa Isabel, a gestão Nunes também precisará reforçar o encaminhamento e acolhimento de dependentes químicos.

Na Câmara, o próximo desafio será o envio da revisão do Plano Diretor Estratégico até julho. Na segunda-feira passada (9), a juíza Patrícia Persicano Pires, da 16ª Vara da Fazenda Pública, determinou, em caráter liminar, que a prefeitura suspenda a revisão e agendou uma audiência para o dia 27. Em sua decisão, ela apontou que as pessoas com deficiência e os idosos estão com dificuldades para acompanhar as discussões em audiências públicas através dos canais digitais.

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