O Mundo É uma Bola

O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro
Descrição de chapéu Pelé, o Edson

Um acróstico para Pelé

Há tantos substantivos, e tantos adjetivos, para personificar o Rei; minha homenagem à sua partida vem dessa forma

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Bola de meia dentro de réplica da casa em que Pelé nasceu, em Três Corações (MG)

Bola de meia dentro de réplica da casa em que Pelé nasceu, em Três Corações (MG) Washington Alves - 27.out.2021/Reuters

Uma página em branco poderia ser o mais adequado, a fim de transparecer o silêncio.

Pois, quando alguém importante no futebol morre, antes de cada jogo é executado "um minuto de silêncio", em deferência àquele que se foi.

Não sei quantos minutos de silêncio as próximas partidas terão.

Deveriam ser pelo menos dois, pois no máximo alguém jogou metade do que Pelémorto nesta quinta-feira (29), aos 82 anos– jogou.

Ou, melhor, espero que todo organizador de cada jogo vindouro exponha no telão do estádio um minuto (ou dois) de gols de Edson Arantes do Nascimento, para que os presentes possam apreciar o mínimo de sua obra.

Não tem telão no estádio? Que os alto-falantes emitam a narração de gols de Pelé –se não for no mundo todo, devido à limitação do idioma, pelo menos em alguns países.

Pensei no silêncio, os pensamentos levaram ao rumo oposto: falar. Não verbalizando, mas redigindo, pois é o que sei fazer.

Afinal, como silenciar diante da partida –quiçá fosse ela de futebol, com ele em plena forma, mas o significado aqui é outro– do melhor futebolista de todos os tempos?

Quase cinquentão, em longa carreira no meio esportivo, não vi Pelé ao vivo, dentro ou fora dos gramados. Jamais o encontrei ou falei com ele. Não era para ser.

Mas desde pequeno o vi muito na TV, uma ou outra vez no cinema (saudade do Canal 100). Embasbaquei invariavelmente. De assombro, de alegria, de admiração.

Há tantos substantivos, e tantos adjetivos, para personificar Pelé (talvez "imortal" seja o melhor) que minha homenagem virá em um acróstico.

Que, na definição do dicionário Priberam, é o "texto em que as primeiras letras de cada linha ou parágrafo formam verticalmente uma ou mais palavras".

R ei: por duas décadas, a bola foi sua principal súdita; fidelíssima.

E terno: o corpo se foi; sua história é viva e perdurará para sempre.

I ncomparável: quem tenta achar um melhor certamente não o viu jogar.

D ominante: ninguém foi mais preponderante à sua época; mais de 1.280 gols na carreira, três títulos e 12 gols em Copas do Mundo, bicampeão da Libertadores, bicampeão mundial, campeão brasileiro cinco vezes seguidas, campeão paulista oito vezes no intervalo de dez anos, 11 vezes artilheiro do Paulista, mais de cem gols marcados em um ano em três ocasiões... e por aí vai.

O riginal: o primeiro a dar o soco no ar, o primeiro a fazer um gol de placa, o primeiro a celebrizar a marca de mil gols.

F ominha: um defeito? Não. Exímio finalizador, ele podia ser o "dono" da bola.

U niversal: o nome Pelé, a marca Pelé, a imagem de Pelé; quem não conhece?

T emido: pesadelo dos marcadores, poucos conseguiram pará-lo (muitos só na pancada).

E ngraxate: para ajudar sua família, que era pobre, engraxou sapatos quando garoto.

B rasileiro: o melhor da história, o maioral, é nosso; ninguém tasca.

O nipotente: dentro das quatro linhas, ele tudo podia; ali, ele era deus.

L enda: no esporte, há algumas (poucas no futebol); ele é a maior de todas.

Muita gente se despedirá de Pelé. Eu me recuso.

Enquanto milhares vão chorar de tristeza e de saudade, e dizer palavras de lamento, eu reverei na internet os gols, os famosos não gols (na Copa de 1970) e as jogadas magistrais de Pelé pelo Santos e pelo Brasil.

Fazendo isso, posso até derramar lágrimas. Mas serão de felicidade, exprimindo uma saudade gostosa, e, assim que a telinha silenciar, balbuciarei, em meio a um sorriso, três palavras: "Isto é Pelé".

Em tempo: "Isto É Pelé" (1974), dirigido por Eduardo Escorel e Luiz Carlos Barreto, é um dos primeiros filmes a relatar a história do Rei. Nele, Pelé, que ainda estava na ativa –aposentou-se em 1977, no Cosmos (EUA)–, conta qual o gol mais importante de sua carreira, aponta qual o fundamento essencial do futebol e define qual seleção brasileira, a de 1958 ou a de 1970, ganharia um hipotético duelo de campeãs mundiais. O documentário está disponível no Globoplay e no canal Tela Nacional, no YouTube.

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