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Carlos Heitor Cony
cony@uol.com.br
  30 de maio
  Bom assunto
   
   

Cada vez que abro o notebook, tenho vontade de digitar dois começos de crônica. O primeiro - e o mais antigo - é "três vezes rodou" - fragmento de um poema de Fernando Pessoa que nem sei porque sempre me vem à cabeça quando penso iniciar qualquer texto.
Já procurei explicação para isso. Nem se trata de banal falta de assunto. Mesmo quando estou motivado, com um tema preciso e inadiável, os dedos procuram as teclas e surge na telinha o "três vezes rodou". Funciona mais ou menos como uma senha, um código de acesso à memória ou à cólera. A tecla que mais uso deleta as três palavras e eu sigo adiante.
Esse "sigo adiante" é força de expressão. Vencida a primeira barreira, surge outra, mais recente nem por isso menos frequente. É iniciar qualquer texto, sobre qualquer tema, com um "abro a janela e vejo..."
Deve ser, também, força de expressão. Abrir janelas é recurso tradicional de cronista sem assunto. Um truque que funciona para qualquer situação, inspirado naquela baratinha que varrendo a casa encontrou um tostão. Foi para janela espiar a vida, ver quem passava e perguntar se alguém queria casar com ela. Diante de sua janela passaram o boi e o cavalo, o leão e o canguru, o gato e o rato. Passou o mundo.
No meu caso ( se eu fosse poeta parnasiano, aqui colocaria um "ai!" ), não tenho tantas janelas assim, que valham a pena ser abertas. Tenho um janelão que dá para a Lagoa, lá em baixo nunca passa um boi ( cavalo às vezes passa, da Hípica, que é pertinho). De qualquer forma, há uns 20 anos nunca por aqui passaram um leão ou um canguru.
Passa uma moça todas as manhãs, loura, num collant negro, de óculos escuros, passo atlético. É com ela que mais ou menos começa o meu dia. E é com ela que eu acabo esta crônica que de repente ficou com um bom assunto.


Leia colunas anteriores
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Assunto pessoal: as mãos

 


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