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Carlos Heitor Cony
cony@uol.com.br
  1º de agosto
  Abusos & usos
   
   

Crônica minha ("Usos e abusos") provocou uma enxurrada de e-mails no meu computador. Ensinaram-me macetes para selecionar aquilo que me interessa receber. Mas a maioria das mensagens atribuía-me orgulho, falta de educação etc.
Volto ao assunto, tentando fazer aquilo que em Portugal chamam de "clarificar" a questão. Uso o computador e só me utilizo da Internet em função do trabalho.
Como entretenimento, lazer, recurso para me inteirar com o mundo, como comunicação pessoal, prefiro outros meios. Fico assombrado com a solidão dos maníacos que descolam amigos, namoradas, confidentes, informantes e bate-papos virtuais, mas são incapazes de dar um bom-dia ao vizinho. E, em alguns casos, nem dão bom-dia aos pais e irmãos.
É fácil a relação com o mundo virtual, que pode desaparecer com um toque na tecla do deletar. O difícil, o que tem estragado o mundo, que sangra nas guerras, na violência urbana, no vale-tudo pelo mercado de trabalho é justamente essa falta de comunicação, de solidariedade entre dois seres humanos que habitam a mesma casa, a mesma rua, a mesma escola, o mesmo trabalho.
Muito cômodo acessar um sujeito na Tailândia ou uma jovem em Porto Alegre e trocar confidências, discutir cinema ou música, reclamar da repressão da família, da escola ou da sociedade.
O sujeito fecha o computador, sai para alugar um vídeo, dar uma volta de bicicleta. Abre o elevador. O vizinho do andar de cima está descendo. Não o cumprimenta, gostaria de estar sozinho no elevador, que, afinal, é de todos. Mas no andar de baixo entra uma vizinha com um carrinho de feira. Amarra a cara. Está perdendo tempo, já podia estar na rua.
Quando chega ao térreo, sai furioso, considera-se insultado pela demora e pelos vizinhos que simplesmente existem em carne e osso.
E não podem ser deletados, porque a polícia não deixa.

Leia colunas anteriores

25/07/2000 - Usos e Abusos
18/07/2000 - Seja Feita a Luz
11/07/2000 - O Demônio e a inflação

06/07/2000 - Lápis e papel
04/07/2000 - Minha doce secretária


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