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marciafk@uol.com.br
  15 de setembro
  Leite derramado
 

Outro dia, um colega meu que escreve suas bem-traçadas linhas também aqui no Pensata, divagando entre um gole e outro (de coca-cola, se não me engano), sugeriu-me a seguinte pauta, fazendo a seguinte pergunta: "Porque não consumimos o leite de outros mamíferos que, além da cabra, vaca e búfala, também são criados para o abate?" Mais do que isso, deu nome aos "bois", levantando a seguinte "lebre": "Porque não consumimos leite suíno?" Como eu não estava bebendo coca-cola, e sim uma segunda e quase finda taça de Prosecco, (desses exageradamente doces que invadiram o mercado), comecei involuntariamente a pensar no assunto.

Sem maiores informações a respeito, apenas insistentes conjecturas, pensei no porco amamentando seus leitões. Concluí que, ao contrário das cabras, búfalas e vacas, as porcas costumam gerar e parir mais de um filhote por ninhada. Para alimentar seu múltiplo rebento, o animal deita-se para facilitar a extração do leite, para o deleite dos famintos porquinhos.

Além do mais, lembrei também do quanto ainda é ínfimo o consumo no Brasil da carne suína, por vários motivos. Entre eles, a impressão equivocada de se estar ingerindo um alimento nocivo, "colesteroicamente depravado".

Como se fosse uma heresia entregar-se aos prazeres desta carne, é preferível assumir socialmente em restaurantes e estabelecimentos do gênero uma comanda "light" de um grelhado de filé mignon insosso e supostamente "light".

Transporta-se à carne a incumbência de educar a alimentação do corpo, a preços de conceitos pré-concebidamente equivocados. Voltando aos porcos, cabe lembrar que estes animais costumam deitar-se para o ato da amamentação, e o lugar onde se esparramam recebe o nome de chiqueiro.

O que procede deste vislumbre não necessita maiores explanações. Porcos são criados enclausurados, ao contrário de bovinos "pastosos", e as condições de higiene necessárias para este tipo de criação devem ser rigorosamente supervisionadas. O porco, contudo, parece não ser um animal tão dócil e afagável como cabras, ovelhas e vaquinhas holandesas.

Berra "como um porco" quando o homem tenta aproximar-se, defende a cria com fuças e dentes, possui um aroma peculiar de porco carente de assepsia, além de confrontar-se corpo-a-corpo ao menor sinal de tentativa de aproximação humana.

Penso se ainda há algo que não tenha sido comercialmente explorado, já que, legalmente ou clandestinamente, da natureza nada se salva: é extraído o marfim de elefantes; do jacaré, crocodilo e cobra, o couro; da tartaruga, o casco e a carne; da baleia, o óleo; da vaca, o leite; do boi, a carne; da cabra, o leite; do cordeiro, a carne; da búfala, o leite; do búfalo, a carne; do javali, cateto, queixada, coelho e lebre, a carne; etc.

Acho, meu colega Hélio, que dificilmente vamos consumir um tipo de camembert, brie ou parmesão confeccionado com leite suíno. Tampouco as crianças vão clamar por uma vitamina de banana ou chocolate em pó batida com leite condensado de porco. Fica levantada, então, outra questão: porque no Brasil não se come carne de cavalo?

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