Outro
dia, um colega meu que escreve suas bem-traçadas
linhas também aqui no Pensata, divagando entre um
gole e outro (de coca-cola, se não me engano), sugeriu-me
a seguinte pauta, fazendo a seguinte pergunta: "Porque
não consumimos o leite de outros mamíferos
que, além da cabra, vaca e búfala, também
são criados para o abate?" Mais do que isso,
deu nome aos "bois", levantando a seguinte "lebre":
"Porque não consumimos leite suíno?"
Como eu não estava bebendo coca-cola, e sim uma segunda
e quase finda taça de Prosecco, (desses exageradamente
doces que invadiram o mercado), comecei involuntariamente
a pensar no assunto.
Sem maiores informações a respeito, apenas
insistentes conjecturas, pensei no porco amamentando seus
leitões. Concluí que, ao contrário
das cabras, búfalas e vacas, as porcas costumam gerar
e parir mais de um filhote por ninhada. Para alimentar seu
múltiplo rebento, o animal deita-se para facilitar
a extração do leite, para o deleite dos famintos
porquinhos.
Além do mais, lembrei também do quanto ainda
é ínfimo o consumo no Brasil da carne suína,
por vários motivos. Entre eles, a impressão
equivocada de se estar ingerindo um alimento nocivo, "colesteroicamente
depravado".
Como se fosse uma heresia entregar-se aos prazeres desta
carne, é preferível assumir socialmente em
restaurantes e estabelecimentos do gênero uma comanda
"light" de um grelhado de filé mignon insosso
e supostamente "light".
Transporta-se à carne a incumbência de educar
a alimentação do corpo, a preços de
conceitos pré-concebidamente equivocados. Voltando
aos porcos, cabe lembrar que estes animais costumam deitar-se
para o ato da amamentação, e o lugar onde
se esparramam recebe o nome de chiqueiro.
O que procede deste vislumbre não necessita maiores
explanações. Porcos são criados enclausurados,
ao contrário de bovinos "pastosos", e as
condições de higiene necessárias para
este tipo de criação devem ser rigorosamente
supervisionadas. O porco, contudo, parece não ser
um animal tão dócil e afagável como
cabras, ovelhas e vaquinhas holandesas.
Berra "como um porco" quando o homem tenta aproximar-se,
defende a cria com fuças e dentes, possui um aroma
peculiar de porco carente de assepsia, além de confrontar-se
corpo-a-corpo ao menor sinal de tentativa de aproximação
humana.
Penso se ainda há algo que não tenha sido
comercialmente explorado, já que, legalmente ou clandestinamente,
da natureza nada se salva: é extraído o marfim
de elefantes; do jacaré, crocodilo e cobra, o couro;
da tartaruga, o casco e a carne; da baleia, o óleo;
da vaca, o leite; do boi, a carne; da cabra, o leite; do
cordeiro, a carne; da búfala, o leite; do búfalo,
a carne; do javali, cateto, queixada, coelho e lebre, a
carne; etc.
Acho, meu colega Hélio, que dificilmente vamos consumir
um tipo de camembert, brie ou parmesão confeccionado
com leite suíno. Tampouco as crianças vão
clamar por uma vitamina de banana ou chocolate em pó
batida com leite condensado de porco. Fica levantada, então,
outra questão: porque no Brasil não se come
carne de cavalo?
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