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O MISTÉRIO das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
Gases
como o carbônico (CO2) e o metano, que funcionam como um cobertor
sobre a Terra, aprisionando calor solar na sua atmosfera, processo
conhecido como aquecimento global árvores
O
valor da floresta e o sexo dos anjos
A coluna
da semana passada, sobre a péssima distribuição do valor da
Amazônia entre brasileiros e sobre sua inclusão nas barganhas internacionais
acerca da mudança climática, causou espécie em alguns leitores.
O denominador comum parece ser certa aversão à idéia de atribuir
valor econômico, no limite um preço, a um bem associado com valores
"mais altos", como a floresta.
"Será que todas as questões devem ser observadas e discutidas pelo
seu potencial retorno financeiro? Será que energia, arte, educação
e florestas, ao adotarem pespectiva de cunho monetário, não perdem
muito em qualidade?" -questionou Alessandro
Ivo da Conceição.
Enviou também versos de Alberto Caeiro,
o heterônimo de Fernando Pessoa, em apoio a seu ponto de vista.
Tenho o maior respeito por esse tipo de questionamento, que parte
-curiosamente-também de valores, mas valores em sentido oposto e
até contraditório com o econômico. No caso da Amazônia, a floresta
teria de ser preservada, segundo esse ponto de vista, porque é a
coisa certa a fazer. Vantagens pecuniárias não têm, e não poderiam
ter, nada a ver com isso.
O problema com esse outro gênero de valores é que eles são por natureza
incomunicáveis. Uns acreditam que o bem está em manter a mata de
pé; outros, não (em especial no Brasil, um país em que mato sempre
foi sinônimo de atraso). Ambientalistas contra desenvolvimentistas,
eis aí um exemplo acabado de diálogo entre surdos.
Não morro de amores pela valoração da natureza, mas sou capaz de
enxergar que partindo dela é possível encontrar um terreno comum.
Destruir florestas, cada vez mais, é algo economicamente irracional.
No curto prazo, pode dar um rendimento extraordinário, na forma
de madeira cara e pastos verdes, mas em poucos anos a exuberância
se esgota.
Se for possível mostrar com números que outras formas de exploração,
como o manejo florestal, podem gerar uma renda mais modesta porém
durável, e se o resultado final for mais preservação e mais empregos,
as pessoas deveriam pôr seus valores morais entre parênteses e sentar
à mesa para negociar e discutir.
Desenvolvimento limpo e sujo
Uma das formas de ganhar com a floresta é tentar incluí-la nas negociações
internacionais sobre formas de combate ao efeito estufa, no âmbito
do chamado Protocolo de Kyoto. O governo brasileiro é contra, e
com ele fecham muitas pessoas razoáveis, mas o mesmo se pode dizer
do campo oposto.
Não tem essa de um ser inimigo da pátria, ou agente da CIA. Quem
envereda por essa linha de argumentação só pode estar querendo confundir.
Uma dessas pessoas razoáveis é Laura
Valente, do Instituto Pró Sustentabilidade (Ipsus), que escreveu
para discordar da idéia de usar a Amazônia no chamado Mecanismo
de Desenvolvimento Limpo (MDL):
"Ao se incluir as florestas (em pé, ou por atividades de uso de
solo e florestamento), estaremos estabelecendo um mecanismo perverso
para o clima como um todo. Ademais, os recursos são poucos, floresta
tem de ser preservada de qualquer jeito e, 'vendendo' o carbono
das florestas, só estamos facilitando para 'eles' poderem emitir
mais", afirma Valente
"Não sou governo e também não tenho interesse em defender este ou
aquele interlocutor. Tecnicamente, porém, acho uma temeridade apoiar
a posição dos EUA, Canadá e Austrália. Pois é, pasme, os maiores
poluidores e os mais renitentes em relação ao protocolo são justamente
os que estão fazendo pressão para que as florestas sejam incluídas
no MDL! Existem também inúmeros argumentos contra a inclusão de
florestas no MDL -que, a meu ver, claramente significa incentivo
a desenvolvimento limpo, e entendo que florestamento e reflorestamento
são atividades de conservação de biodiversidade, não de desenvolvimento."
Respeito o ponto de vista de Laura Valente e gostaria de vê-lo mais
debatido, publicamente (e já aviso que discordo da idéia de que
manejo florestal, florestamento ou reflorestamento não sejam desenvolvimento).
O governo brasileiro -leia-se: Ministério
da Ciência e Tecnologia- faria sua parte se concluísse e divulgasse
logo o inventário nacional de emissões, quando então se tornará
claro que queimadas e desmatamentos são a maior fonte de gases-estufa
do Brasil.
O mesmo desmatamento que, para muita gente, ainda é sinônimo de...
desenvolvimento.
Documentos
Um texto representativo de argumentos contra inclusão de florestas
é a Declaração
de Mount Tamalpais, do Movimiento Mundial por los Bosques Tropicales
(WRM, na sigla em inglês), mas tenha em mente que suas ponderações
se referem a plantações florestais, ou seja, monoculturas para reflorestamento
(como no caso de eucaliptos).
Como contraponto, leia o texto "Manifestação da Sociedade Civil
Brasileira sobre as Relações entre Florestas e Mudanças Climáticas
e as Expectativas para a COP-6", manifesto
resultante de seminário organizado semana passada, em Belém do Pará,
pela ONG Ipam e pelo Ministério do Meio Ambiente (leia ainda reportagem
da Folha sobre o evento).
Debate feroz sobre ianomâmis
Ainda no capítulo Amazônia, mas em relação à polêmica antropólogos
vs. ianomâmis: a revista "Slate" acaba de publicar uma crítica
devastadora do livro "Darkness in El Dorado", de Patrick Tierney.
A obra, que ainda nem chegou às livrarias dos Estados Unidos, acusa
o antropólogo Napoleon Chagnon e o geneticista James Neel de fazerem
experimentos escabrosos com os ianomâmis da Venezuela, conforme
informou a coluna
de 25 de setembro.
Mais Amazônia
Descobertas arqueológicas recentes levantam mais dúvidas sobre os
modelos de ocupação humana antes do Descobrimento, relatou ontem
na Folha o repórter Claudio
Angelo. O tema também foi debatido numa reunião de arqueólogos
da América do Sul (leia artigo de
Lúcia Nagib sobre o encontro).
Imagem da semana
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NATUREZA VIVA - Parece um quadro de arte abstrata, mas é
uma imagem de Io (satélite de Júpiter) feita pela sonda espacial
Galileo em fevereiro. Mostra o mais longo derramamento de lava já
registrado no Sistema Solar. As áreas esbranquiçadas na parte de
baixo podem ser áreas cobertas de neve -neve de enxofre, não de
água. Veja
mais imagens de Io
Site da semana
Por falar em espaço, os aficionados podem divertir-se com a página
do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL)
da Nasa.
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colunas anteriores
23/10/2000
- Está
na hora de todos lucrarem com a Amazônia
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a cientista que mais fez pela soja
02/10/2000
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não tem QI de ameba, não
25/09/2000 - Quem
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