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O
prêmio Nobel de economia James Heckman deu, como se dizia antigamente,
um tapa com luva de pelica nos economistas que encaram o mundo como
se estivessem diante de um balanço financeiro.
Um dia depois de saber que recebera do Prêmio Nobel deste ano, Heckman
participava, no Rio de Janeiro, da quinta Conferência Anual da Associação
de Economistas da América Latina e Caribe, quando veio a notícia do
agramento dos conflitos entre israelenses e palestinos.
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o diretor-gerente do Fundo Monetário
Internacional, Stanley Fischer, que se encontravam no mesmo evento,
deram declarações sobre as consequências do conflito sobre os preços
do petróleo.
Perguntado sobre o mesmo tema, Heckman deu uma resposta que surpreendeu
os jornalistas.
"Meu maior medo é de que comece uma guerra", afirmou o simpático professor.
Em seguida, explicou que os impactos econômicos não têm importância
diante da terrível ameaça do sacrifíco de vidas humanas.
Estamos tão acostumados a olhar o mundo pelo prisma econômico que
nos surpreendemos quando alguém, de forma singela, nos chama à realidade.
A declaração de Heckman, naturalmente, não teve impacto jornalístico,
porque há um consenso de que uma guerra no Oriente Médio vai desencadear
uma crise econômica nos países do Terceiro Mundo. Além de afetar nossos
bolsos _com o aumento do preço da gasolina_ ela pode prejudicar o
crescimento econômico dos países do Terceiro Mundo e ameaçar nossos
empregos.
No mesmo dia em que dois soldados israelenses foram linchados pelos
palestinos e Israel reagiu ao episódio bombardeando Ramallah e a Cidade
de Gaza, o preço do barril do petróleo bateu US$ 35,30, levando pânico
às bolsas e deixando atônitas as autoridades econômicas.
O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco atraiu sobre si os
holofotes ao defender o imediato aumento do preço da gasolina no Brasil
e ao acusar Fernando Henrique Cardoso de populista por postergar o
aumento. Para suprema ofensa dos tucanos, Gustavo Franco comparou
FHC a Itamar Franco, pelo que qualificou de "neura" para aumentar
as tarifas públicas.
O FMI aproveitou para vender a idéia de que o país deveria atrelar
o preço dos combustíveis à cotação internacional do petróleo. Se subisse
lá fora, subiria aqui dentro e o inverso também seria verdadeiro.
Até o momento, ninguém tem segurança do que vai acontecer e os prognóticos
e ameaças surgem sob uma capa de oportunismo.
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