Jovens que odeiam Carnaval dizem preferir o Halloween porque 'tem menos bagunça'

Mesmo avessos à festa, adolescentes contam que dariam uma chance aos blocos de SP se os amigos fossem junto

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São Paulo

Música alta, ruas lotadas, bebida correndo solta, calor… Tudo que os amantes do Carnaval mais curtem na festa é também o motivo por que vários jovens têm calafrios só de se imaginar indo a um bloco de rua em São Paulo. "É barulhento, tem cheiro de álcool e suor, é um caos, tem sujeira e falta banheiro", completa a lista Manuela L. R., de 15 anos, que acha que isso de gostar de Carnaval é coisa de "pessoas mais velhas".

SAO PAULO, SP, BRASIL, 03-01-2013. Foliões no bloco A Confraria do Pasmado, na Vila Madalena - Silva Junior/Folhapress

Para Manu, os responsáveis não deveriam levar os filhos para o meio da folia. "A vida das crianças já é um caos, então não precisa de um extra", diz. José R. V., 15 anos, passou por isso na infância. "Eu costumava ir para bloquinhos quando era pequeno, mas justamente porque meus pais me levavam e eu não tinha muita opção. Hoje em dia eu realmente não me vejo participando muito desses blocos de Carnaval", afirma.

José até curte a cultura por trás da festa, com as músicas e carros alegóricos, desfiles e "mega produções", mas quando pensa sobre a aglomeração desanima totalmente. "Você não consegue se mexer de tanta gente que está lá pulando junto com você", diz. Ele também acha tensa a forma como as ruas ficam cheias de lixo produzido pelos foliões e como toda essa sujeira sai se espalhando pelas ruas se chove ao longo do dia.

"Eu nunca curti Carnaval. É muito alta a música, é muita gente junta, grudada, então tem que prestar atenção que tá todo mundo sujo, muito cheiro de cerveja, sei lá, de xixi, então pra mim é tudo uma bagunça", completa Maria Flor F. O., 13 anos.

"Eu não gosto da muvuca e de ficar grudada com um monte de gente suando, e muito barulho me irrita um pouco", concorda sua irmã Nina, 14 anos. Cecilia, que ainda tem 11 anos, também pensa parecido. "O Carnaval tem muitas pessoas, muito barulho e adultos bêbados", diz.

Detestar essa época do ano é algo que todos eles têm em comum, mas sabe o que eles também compartilham? O amor pelo Halloween, a festa mais legal do ano, na opinião deles e de vários jovens da mesma idade.

"Halloween? Amo, é o meu feriado favorito de todos! Eu adoro pirulito e adoro doce, mas não é nem por isso, porque, tipo, eu não como bala e esses outros doces, mas é porque eu amo me fantasiar de várias fantasias diferentes, sempre uma original. Poder se fantasiar de algo original, que vai ser engraçado de você ir na festa, é a melhor parte do Halloween", explica Nina.

Junto com Maria Flor, elas comemoram o Halloween desde pequenas, quando batiam nas portas dos apartamentos do prédio em que moravam dizendo "Doces ou travessuras". Hoje, elas mesmas se maquiam e ainda maquiam as amigas. "No Halloween, muitas pessoas fazem festas, então você pode se arrumar com seus amigos, ir de fantasia combinando, criar novas fantasias, e eu acho isso muito legal", diz Maria Flor.

Tanto Carnaval quanto Halloween têm a proposta de chamar as pessoas para a rua, botar roupas divertidas, dar risada e comer besteira. Será, então, que não dá para gostar das duas festas?

José tem uma teoria. "Eu nunca vejo adultos com mais de 40 anos comemorando o Halloween, porque não é uma data cultural brasileira como é o Carnaval. O Carnaval não é especificamente você se fantasiar de uma coisa só, você pode se fantasiar de muitas coisas, e é uma data comemorativa no Brasil cultural muito antiga e muito grande", diz.

"Justamente por isso, eu acho que as pessoas que são mais velhas costumam participar mais do Carnaval do que do Halloween. Eu acho que o Halloween no Brasil é visto como uma coisa mais para pessoas mais novas, para adolescentes, jovens adultos ou crianças. Já no Carnaval, eu acho que todas as idades podem participar dos blocos, por mais que eu não seja muito fã, mas eu acho que existe essa diferença, uma diferença de idade, uma diferença cultural."

Ele não está errado —pelo menos de acordo com o que diz um levantamento feito pelo Observatório de Turismo e Eventos da SPTuris (OTE), em cooperação com o Centro de Inteligência da Economia do Turismo (CIET-SP), com o Conselho de Turismo da Fecomercio-SP e com a Bites. A ideia era descobrir a importância do Carnaval de rua de São Paulo.

Os jovens de 12 a 17 anos são apenas 4,1% dos foliões nos blocos. Entre 18 e 24 anos, esse índice sobe para 17%. A faixa etária que mais participa do Carnaval de rua de São Paulo é entre 30 a 39 anos, segundo a pesquisa, que também mostrou que no desfile das escolas de samba na Sapucaí há ainda menos jovens: 2% entre 12 e 17 anos, e 14,4% entre 18 e 24 anos.

Isso não significa, no entanto, que a relação de quem ainda é adolescente com o Carnaval seja totalmente impossível. "A única coisa que não gosto tanto sobre o Carnaval é que faz muito barulho na rua, mas entendo que é para ser divertido", diz Laura C., 15 anos, que passou anos morando na Inglaterra e ainda não teve a chance de participar dos blocos.

Ela, que adorava o Halloween inglês, tem planos para o Carnaval 2023. "Eu e minha amigas estamos combinando de ir no Carnaval juntas. Eu gostaria de ir para ter uma experiência boa do Carnaval, pra ver como realmente é."

"Provavelmente eu iria, porque é legal experimentar coisas novas", afirma Manu, sobre a possibilidade de se juntar a amigos que resolvessem cair na folia dos bloquinhos. "Eu gosto muito de sair com os meus amigos, então acho que se fosse um bloco com todos os meus amigos, a gente até conseguiria se divertir com a música, mesmo não sendo o tipo de música que a gente amaria", pensa Maria Flor.

"Se os meus amigos decidissem ir para um bloquinho e me convidassem eu iria com circunstâncias muito, muito específicas", diz José. "Se vários deles fossem, se estivesse um dia ensolarado, que não tivesse chuva mas também não tivesse muito calor, se fosse num bloquinho pequeno, que não tivesse muita gente, muita música, e fosse num lugar menor, com menos aglomeração de pessoas. Seria o único cenário possível."

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