Crime na Amazônia pode ir para tudo ou nada com mudança de governo, diz Ane Alencar

Em episódio da série especial do podcast, geógrafa destaca mercado ilegal de terras como motor do desmatamento

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Queimada em área próxima à Reserva Extrativista do Lago do Cuniã, na divisa dos estados de Rondônia e Amazonas Douglas Magno - 1º.set.22/AFP

Eduardo Sombini
Eduardo Sombini

Geógrafo e mestre pela Unicamp, é repórter da Ilustríssima

O futuro da Amazônia é o tema do terceiro episódio da série especial do Ilustríssima Conversa que discute o que vem pela frente em questões importantes da conjuntura atual.

Desde agosto, o podcast está recebendo intelectuais e pesquisadores para discutir, em um episódio extra por mês, o que eles veem como tendências em suas áreas de atuação nas próximas décadas. As conversas com autores que estão lançando obras de não ficção continuam a ser publicadas normalmente a cada duas semanas.

A convidada deste episódio, Ane Alencar, é geógrafa pela UFPA (Universidade Federal do Pará) e doutora em recursos florestais e conservação pela Universidade da Flórida.

Alencar ocupa a diretoria de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), é uma das mais importantes pesquisadoras da ocorrência de queimadas na região e coordena o MapBiomas Fogo, plataforma que monitora os impactos de incêndios no território nacional.

Mulher com blusa preta com árvores ao fundo
Ane Alencar, geógrafa e diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) - Divulgação

Na entrevista, a pesquisadora ressalta que o desmatamento, impulsionado hoje pelo crime organizado, vem se aproximando cada vez mais do coração da Amazônia pelos eixos das BRs 163 e 319 e afirma que a possibilidade de Jair Bolsonaro (PL) perder as eleições e um novo governo voltar a coibir a destruição da floresta pode estar levando especuladores de terras públicas, garimpeiros e madeireiros a partirem para o tudo ou nada.

Neste governo, as pessoas que querem ganhar dinheiro fácil ocupando terras na Amazônia conseguiram se estabelecer. Vejo que a sensação de uma possível mudança de governo, com um provável fortalecimento das agências de comando e controle e dos mecanismos de punição do crime ambiental fazem com que as pessoas pensem: "Vamos arriscar tudo". Esse arriscar tudo pode ser ir com tudo para cima da floresta, porque, uma vez que o dano é feito, é mais difícil você recompor

Ane Alencar

geógrafa e diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia)

Para Alencar, é preciso que um eventual novo presidente promova um choque de governança logo de imediato, retirando invasores de terras públicas e dando um sinal de que o mercado fundiário ilegal não será mais tolerado.

A geógrafa também defende que é preciso ter na manga novas unidades de conservação, que possam ser criadas logo no início de 2023, abarcando áreas estratégicas que hoje são foco do desmatamento e da grilagem.

PARA SE APROFUNDAR

Eduardo Sombini indica

  • "Tempo Quente", podcast da Rádio Novelo comandado pela jornalista Giovana Girardi sobre o que o Brasil tem feito em tempos de emergência climática;
  • "A Terra É Redonda (Mesmo)", apresentado por Bernardo Esteves, repórter de ciência e meio ambiente da piauí, e, nesta segunda temporada, por Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa. A cada semana, eles conversam com especialistas e tratam de um tema relacionado à política ambiental e à crise climática que o Brasil vai ter que enfrentar nos próximos anos;

O Ilustríssima Conversa está disponível nos principais aplicativos, como Apple Podcasts, Spotify e Stitcher. Ouvintes podem assinar gratuitamente o podcast nos aplicativos para receber notificações de novos episódios.

O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.

Já participaram do Ilustríssima Conversa Juliana Dal Piva, repórter que vem investigando suspeitas de corrupção da família Bolsonaro, Viviane Gouvêa, que discutiu a história da violência estatal contra grupos marginalizados, Esther Solano, socióloga que discutiu o que pensam as mulheres bolsonaristas moderadas, Vagner Gonçalves da Silva, antropólogo que pesquisa as mitologias de Exu, Marcos Nobre, que denunciou o projeto golpista de Bolsonaro, Jean Marcel Carvalho França, pesquisador da história da maconha no Brasil, Vincent Bevins, autor de livro sobre massacres da esquerda durante a Guerra Fria, Rodrigo Nunes, que discutiu as raízes do bolsonarismo, André Lara Resende, crítico da teoria econômica mainstream, James Green, brasilianista autor de um clássico sobre a história da homossexualidade no Brasil, entre outros convidados.

A lista completa de episódios está disponível no índice do podcast. O feed RSS é https://folha.libsyn.com/rss.

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