Julgamento de Bolsonaro definirá futuro do Brasil, dizem autoras

Na comemoração dos 5 anos do podcast, Eliane Brum e Maria Rita Kehl debatem impunidade no país e rumos do governo Lula

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Garimpo no rio Curuá, próximo à Terra Indígena Baú, habitada pelo povo indígena kayapó no sul do Pará Lalo de Almeida - 1º.jul.22/Folhapress

Eduardo Sombini
Eduardo Sombini

Geógrafo e mestre pela Unicamp, é repórter da Ilustríssima

O Ilustríssima Conversa, o primeiro podcast da Folha, acaba de completar cinco anos.

Desde a estreia, em fevereiro de 2018, 123 episódios foram publicados. Se você nos acompanha, sabe que o universo do podcast é amplo: já passaram pelo programa autoras e autores para falar sobre as contradições do sistema político brasileiro, o desmatamento da Amazônia e a crise climática, estudos de gênero e sexualidade, a política de drogas e o racismo, entre muitos outros temas.

Para comemorar os primeiros cinco anos no ar, este episódio especial recebe duas escritoras que já participaram do podcast: a psicanalista Maria Rita Kehl, entrevistada em janeiro de 2019 por Walter Porto, e a jornalista Eliane Brum, convidada em novembro de 2021.

Kehl havia lançado "Bovarismo Brasileiro" (Boitempo) quando esteve no podcast. Os ensaios do livro, que busca inspiração em "Madame Bovary", de Gustave Flaubert, discutem a tendência de os brasileiros buscarem ter a vida de um outro e evitar lidar com as condições concretas da realidade do país.

Maria Rita Kehl durante pré-estreia de documentário no Instituto Moreira Salles - Marcus Leoni - 18.out.18/Folhapress

Já Brum conversou sobre "Banzeiro Òkòtó" (Companhia das Letras), que investiga as forças que movem a guerra à natureza, tão visível hoje na Amazônia, e aponta como os povos da floresta resistem à destruição há séculos e podem liderar a nossa sobrevivência à catástrofe climática.

A jornalista mora em Altamira desde 2017 e cofundou o site Sumaúma em setembro de 2022. A plataforma publicou em janeiro deste ano uma reportagem que revelou que 570 crianças yanomamis haviam morrido de causas evitáveis ao longo do governo Bolsonaro.

Mulher de chapéu em um barco
Eliane Brum, autora de 'Banzeiro Ókòtó: Uma Viagem à Amazônia Centro do Mundo' - Lilo Clareto/Divulgação

Neste episódio comemorativo, as convidadas falam sobre as transformações do Brasil nos últimos anos e discutem os primeiros movimentos do governo Lula (PT).

Eliane Brum e Maria Rita Kehl também defendem a responsabilização de Jair Bolsonaro (PL) pela tragédia humanitária do povo yanomami e refletem sobre os caminhos possíveis para transformar a alienação e o negacionismo em ação política concreta.

Acho que nós passamos, durante o governo Bolsonaro, por uma fase moralmente pior que a ditadura. É difícil dizer isso, porque a ditadura também teve muitos apoiadores, mas a imprensa não era livre, talvez as pessoas não soubessem tudo o que estava acontecendo. O governo Bolsonaro foi uma fase moralmente escabrosa porque ele dizia e fazia horrores e ele perdeu por uma diferença pequena. Metade do Brasil continuou do lado dele. Essa é uma coisa muito difícil de assimilar

Maria Rita Kehl

psicanalista e escritora

Acho que o que o Brasil vai conseguir ser depende de como Bolsonaro será julgado. Bolsonaro é o resultado da impunidade: ele era um militar que fez um plano terrorista para explodir bombas em quartéis e esse crime ficou impune. Ele deixou o Exército, mas virou político e foi cometendo crimes e crimes. Acho que o momento é este: sem anistia. Os crimes de Bolsonaro precisam ser investigados e julgados, internamente no Brasil e também no sistema internacional —por genocídio. A questão dos yanomamis é explícita nesse sentido. Isso vai determinar o que vai ser o Brasil, porque, se mais uma vez ele ficar impune, acho que não vai restar nenhum país

Eliane Brum

jornalista e escritora

Jair Bolsonaro em entrevista coletiva no Palácio do Alvorada, em Brasília - Gabriela Biló - 19.out.22/Folhapress

O Ilustríssima Conversa está disponível nos principais aplicativos, como Apple Podcasts, Spotify e Stitcher. Ouvintes podem assinar gratuitamente o podcast nos aplicativos para receber notificações de novos episódios.

O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.

Já participaram do Ilustríssima Conversa João Moreira Salles, autor de um livro sobre o modelo predatório de ocupação da Amazônia, Ailton Krenak, que abordou a tragédia do povo yanomami, Gabriela Lotta e Pedro Abramovay, que discutiram os papéis de burocratas e políticos em uma democracia, Felipe Loureiro, que analisou as relações entre EUA e Rússia depois do início da Guerra da Ucrânia, Denise Ferreira da Silva, para quem a violência racial é um pilar da modernidade, Letícia Cesarino, antropóloga que expõe como algoritmos favorecem o populismo, Roberto Moura, que relançou clássico sobre a história negra do Rio, Celso Rocha de Barros, que falou sobre a história e os desafios futuros do PT, Christian Lynch, autor de livro sobre Bolsonaro e o populismo, Juliana Dal Piva, repórter que vem investigando suspeitas de corrupção da família Bolsonaro, entre outros convidados.

A lista completa de episódios está disponível no índice do podcast. O feed RSS é https://folha.libsyn.com/rss.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.