De Mito 22 a Lula Livre e Golden Shower, confira as 'cervejas eleitorais'

Lula, Jair Bolsonaro e Ciro Gomes são homenageados em rótulos

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São Paulo

Em dia de eleição, o consumo de bebidas alcoólicas é proibido na maioria dos estados brasileiros, mas até a véspera está liberado para todo mundo (com moderação). Para alguns eleitores cervejeiros, é possível beber e mostrar ao mesmo tempo seu apoio, ou rejeição, aos principais candidatos à Presidência.

Nascida no Rio de Janeiro, a nanocervejaria Rock’n Brau surgiu unindo música e cerveja, como o nome sugere. No entanto, os rótulos de mais repercussão são políticos, com destaque para a red ale Lula Livre, criada quando o ex-presidente foi preso, em 2018, no âmbito das investigações da Lava Jato.

"Parte do dinheiro era direcionado na época para ajudar o pessoal do acampamento em Curitiba", conta o sócio-proprietário Diogo Cavalheiro, que não é filiado a nenhum partido, mas milita junto ao Movimento dos Pequenos Agricultores.

Golden Shower, cerveja pilsen, fabricada pela Cervejaria Mito - Divulgação

Dois anos antes da Lula Livre, a Rock’n Brau já havia lançado uma blond ale batizada de Fora Temer, que já saiu de linha (e do governo). O sucesso atual é a Lula 2022, uma refrescante pilsen, vendida em garrafa de 500 ml.

A Rock’n Brau também já lançou títulos como a Antifascista, uma belgian golden strong ale com 8% de teor alcoólico; e a Fora Boso, uma clássica wissbier.

"Apesar do nome, ela não é uma cerveja de estação, mas um sentimento enraizado. A Fora Boso veio pra preencher nossa indignação com o sabor da revolta", diz o texto no perfil da cervejaria no Instagram.

Há também a cerveja Lula 2022, produzida pela nanocervejaria de Apiaí (interior de São Paulo) Cerveja Artesanal Terra, marca que ressalta cuidados com o ambiente e com os princípios da agroecologia. A garrafa de 500 ml pode ser encontrada nas lojas Armazém do Campo, ligadas ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

No outro lado da polarização cervejeira, Jair Bolsonaro já foi homenageado. No entanto, alguns dos rótulos pró-capitão não são iniciativas de cervejarias, mas sim de empresários que encomendam a bebida.

Uma delas surgiu em 2018 a pedido do próprio Flavio Bolsonaro. O filho 01 do presidente teria tido a ideia para presentear apoiadores na campanha presidencial e falou com o empresário Adriano Lazzari de Oliveira. Assim foi criada a cervejaria Vapor Negro, em Nova Petrópolis (RS), para fabricar a cerveja Mito.

O sucesso instantâneo e os vários pedidos fizeram com que Lazzari aumentasse a produção da long neck para venda direta, comercializada em três estilos, lager, schwarzbier e red ale (red pode?).

"Vendemos para o Brasil todo, mas o forte foi na região Sul, devido a logística", lembra Lazzari, que deixou de produzir a cerveja durante a pandemia por falta de insumos.

Já a pequena cervejaria de Fortaleza Hey Ho produz sob encomenda a Mito 22, vendida em lata de 473 ml com preço sugerido de R$ 10,90. O rótulo traz a imagem de Bolsonaro com óculos escuros, fazendo o característico sinal de arma com as mãos e com uma bandeira verde e amarela ao fundo.

A cervejaria diz que o rótulo não faz parte de seu portfólio e foi produzido a pedido de um empresário. A Mito 22 tem perfil no Instagram (@cervejadomito22), que indica o caminho para quem quiser comprá-la.

Cerveja Bolsonaro, pilsen encomendada por empresários do grupo de direita Lux Brasil - Divulgação

Outro rótulo produzido em homenagem ao presidente é o Bolsonaro —com design parecido com a Mito 22, mas sem os óculos escuros na imagem. A cerveja puro malte, vendida em lata, foi uma encomenda de empresários ligados ao grupo de direita Lux Brasil para a cervejaria gaúcha Salva Craft Beer, de Bom Retiro do Sul, que também avisa que apenas produz a cerveja, mas não comercializa.

Caso curioso aconteceu com outra pequena cervejaria do Rio de Janeiro que nasceu em 2014 com o nome de Mitologia. A cervejaria já estava até sem produção, mas mantinha a página nas redes sociais, quando foi confundida com cerveja pró-Bolsonaro em 2018, com consumidores procurando a página para comprar a bebida. A cervejaria se viu obrigada a fazer um post: "Galera, de uma vez por todas. Essa página não é da cerveja do Bolsonaro. Achamos ele um boçal. Não vendemos cerveja de fascista."

O post viralizou e o proprietário, Bruno Mesquita, retomou o projeto com o nome Cervejaria Mito, apoiando causas LGBTQIA+ e antirracistas, e com rótulos que satirizam declarações de Bolsonaro.

"Dizemos que o Bolsonaro é o nosso chefe do marketing, porque é ele que dá os nomes, ele é muito bom nisso", comenta Mesquita, que já lançou rótulos como a pilsen Golden Shower, a Comitiva Presidencial, uma hoppy lager "com 39 kgs de pó... de lúpulo", a shwartzbier Camarada Bozo, e a session IPA Noivinha de Aristides, todas em garrafa de 500 ml, que podem ser encontradas no Instagram da marca (@cervejariamito).

Histórico de Atleta, cerveja session IPA, fabricada pela Cervejaria Mito - Divulgação

E o que seria da cervejaria com outro governo? "A Mito vai continuar defendendo os mesmos valores, fazendo as mesmas sátiras, mas o protagonismo estará em outro lugar. E a luta continua", defende Mesquita.

Por fim, a terceira via, assim como nas pesquisas eleitorais, ainda parece claudicante no universo cervejeiro. Por iniciativa do delegado da Polícia Civil do Rio Orlando Zaccone, que se filiou ao PDT, foi criada a cerveja Cirão da Massa. O rótulo, com o rosto de Ciro Gomes em uma ilustração de cangaceiro, tem a descrição "cerveja pilsen de Sobral".

Para a esquerda idealista atrás de uma cerveja política, e não politizada, a sugestão é a cervejaria Tito Bier, com rótulos da "linha vermelha", como a red ale Trotsky, a red IPA Marx ou a altbier Rosa (homenagem a Rosa Luxemburgo); além da american pale ale Thoreau, indicada aos mais naturalistas.

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