Descrição de chapéu Reforma tributária

Economistas fazem manifesto em defesa da reforma tributária da Câmara; veja quem assina

Entre os nomes estão ex-presidentes do BC, como Arminio Fraga, ex-ministros da Fazenda, como Maílson da Nóbrega, e pesquisadores

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São Paulo

Economistas, entre ex-ministros, ex-presidentes do Banco Central e pesquisadores, assinaram um manifesto divulgado nesta terça-feira (4) em defesa da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 45/19, texto da reforma tributária que tramita na Câmara dos Deputados.

A carta enfatiza que há um consenso de que o sistema tributário brasileiro precisa de uma reforma "urgente".

"Reconhecemos que não existe reforma tributária ideal. No entanto, temos confiança de que a reforma tributária, se aprovada, terá um efeito muito positivo sobre a produtividade e o crescimento do país, além de reduzir nossas desigualdades sociais e regionais", diz um trecho do manifesto.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), reúne-se com os governadores e secretários de Fazenda, na Residência Oficial da Câmara, para discutir a reforma tributária. - José Cruz/Agência Brasil

Um grupo de 67 economistas assina a carta, entre eles Arminio Fraga e Affonso Celso Pastore, ex-presidentes do BC; Maílson da Nóbrega e Guido Mantega, ex-ministros da Fazenda; Samuel Pêssoa, pesquisador associado do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas); Octaviano Canuto, diretor-executivo no Banco Mundial, diretor-executivo do FMI (Fundo Monetário Internacional) e vice-presidente do BID (Banco Interamericano do Desenvolvimento); Carlos Eduardo Xavier, presidente do Comsefaz (Conselho dos Secretários de Fazenda); Edmar Bacha, ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social); entre outros.

À Folha Arminio Fraga disse que a reforma compõe uma das mudanças de direção em curso no Brasil.

"A curto prazo, alguns setores vão ter que se adaptar e perder um pouco. Mas todos saem ganhando se o horizonte de tempo for de alguns anos", disse. O economista acredita que o texto esteja suficientemente maduro para ser votado na Câmara. "Essa reforma já está em discussão há muito tempo."

A carta foi divulgada na semana em que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), pretende pautar e aprovar a reforma tributária, antes do recesso parlamentar. No último fim de semana, o deputado começou a medir o apoio das bancadas partidárias à PEC 45 para saber quantos votos cada uma é capaz de entregar.

Lira quer saber quais são os bloqueios que impedem uma aprovação maior ao texto. Por se tratar de uma PEC, a matéria precisa do voto favorável de 308 deputados em dois turnos no plenário da Casa.

O texto em discussão cria um IVA (Imposto sobre Valor Agregado) Dual e prevê que a tributação sobre consumo estadual e municipal (ICMS e ISS) seja substituída por um único imposto, o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços). Já os tributos federais (IPI, PIS e Cofins) serão reunidos na CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços).

De acordo com o manifesto dos economistas, essa proposta de reforma é "abrangente", e está alinhada "às melhores práticas internacionais".

"Essa reforma dará ao Brasil a oportunidade de implementar um dos mais modernos sistemas de tributação sobre consumo do mundo", afirmou à Folha Maílson da Nóbrega.

O ex-ministro da Fazenda diz que, diferentemente do IVA implementado na União Europeia a partir dos anos 1960, com diversas alíquotas diferenciadas, o Brasil tem agora a oportunidade de olhar para experiências mais bem-sucedidas e modernas de IVAs, como o da Austrália e da Nova Zelândia.

Segundo o economista, alíquotas diferenciadas, inclusive para saúde e educação, acabam privilegiando os mais ricos, que podem pagar por esses serviços.

Além disso, segundo Nóbrega, essa diferenciação faz com que as empresas se organizem para driblar os impostos mais altos, o que leva a uma perda da eficiência do sistema, um dos maiores objetivos da reforma tributária.

DIVERGÊNCIAS

Estados, municípios e o setor de serviços têm apresentado resistência ao texto da reforma tributária em discussão na Câmara, com propostas de alteração. Governadores são contrários ao conselho federativo, que consta na reforma e será responsável por gerir a arrecadação do IBS, e argumentam que o órgão vai tirar a autonomia dos estados.

Sobre essa discussão, Maílson da Nóbrega afirmou que os estados e municípios precisam escolher se querem manter sua soberania ou garantir a prosperidade. "Federações poderosas no mundo aceitaram a gestão única do IVA em detrimento de sua autonomia, porque preferiram a prosperidade. É o caso da Alemanha", disse.

Governadores também discutem alterar o ano de início do IBS. Como afirmou na última sexta (30) o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), mandatários dos Executivos estaduais que temem perder arrecadação por causa dos benefícios fiscais do ICMS querem que o novo imposto tenha validade apenas a partir de 2033.

Castro defende mais tempo para discutir a reforma tributária, mesmo que isso signifique atrasar a votação na Câmara dos Deputados.

Outra crítica às propostas de mudanças vem do setor de serviços. Entidades empresariais entendem que a reforma aumenta a tributação do setor ao estabelecer uma única alíquota de imposto sobre mercadorias e serviços.

Mas Nóbrega disse que 90% das empresas do setor fazem parte do Simples Nacional, e por isso não serão afetadas pela reforma. "Pouquíssimas empresas serão prejudicadas", defendeu.

LEIA O MANIFESTO COMPLETO

É consenso que a reforma do sistema tributário brasileiro é necessária e urgente.

Nesse sentido, manifestamos nosso apoio à PEC 45, uma proposta de reforma abrangente da tributação do consumo, que substitui o ICMS, o IPI, o ISS, e a Contribuição para o PIS e a Cofins por dois tributos sobre bens e serviços (IBS e CBS) harmonizados, com base ampla e alinhados às melhores práticas internacionais.

Reconhecemos que não existe reforma tributária ideal. No entanto, temos confiança de que a reforma tributária, se aprovada, terá um efeito muito positivo sobre a produtividade e o crescimento do país, além de reduzir nossas desigualdades sociais e regionais.

Sabemos que mudanças como essa geram resistências e temor por parte de alguns agentes econômicos e de entes da federação. Mas temos certeza de que os benefícios para a população e para a economia brasileira serão colhidos por todos.

Precisamos aprovar a reforma tributária da PEC 45/19 em 2023. Essa mudança tem sido discutida há 35 anos e a proposta atual foi ampla e democraticamente debatida nos últimos 4 anos. Agora, temos a melhor janela para aprovação das últimas décadas com alinhamento político entre o Congresso, Governo Federal, maioria dos Estados e Municípios e do setor privado. Esta é a nossa oportunidade de deixar um legado de prosperidade, transparência e mais justiça em nosso país.

VEJA QUEM ASSINA

  1. Affonso Celso Pastore - Economista e ex-presidente do Banco Central.
  2. Andrea Calabi - Ex-secretário do Ministério de Planejamento e Orçamento. Também foi secretário do Tesouro Nacional, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), presidente do Banco do Brasil e do BNDES, secretário do Planejamento e secretário da Fazenda do Estado de São Paulo.
  3. Arminio Fraga - Economista, ex-presidente do Banco Central do Brasil.
  4. Aod Cunha - Economista, ex-secretário da Fazenda, professor do curso de pós-graduação em finanças da PUC/RS.
  5. Bento Antunes de Andrade Maia - Economista e pesquisador do CCiF (Centro de Cidadania Fiscal). Tem doutorado na Unicamp e mestrado na UFRJ.
  6. Bráulio Borges - Graduado e mestre em teoria econômica pela FEA USP, é economista sênior da LCA desde 2004 e pesquisador associado do FGV Ibre.
  7. Breno Ferreira Martins Vasconcelos - Advogado. Pesquisador do Núcleo de Estudos Fiscais da FGV-SP e do Núcleo de Pesquisas em Tributação do Insper.
  8. Bruno Carazza - Professor e analista político e econômico.
  9. Carlos Eduardo Navarro - Advogado e mestre em Direito. Professor de Direito Tributário da FGV Direito SP e IBDT. Pesquisador do NEF (Núcleo de Estudos Fiscais) da FGV. Ex-juiz do TIT/SP (Tribunal de Impostos e Taxas de São Paulo).
  10. Carlos Eduardo Xavier - Presidente do Comsefaz (Conselho dos Secretários de Fazenda), secretário da Fazenda do Rio Grande do Norte, auditor fiscal do Tesouro Estadual do RN, mestre em engenharia da produção pela UFRN.
  11. Celso Rocha de Barros - Doutor em sociologia pela Universidade de Oxford e colunista da Folha
  12. Cristiane Alkmin Junqueira Schmidt - Ex-secretária da Economia de Goiás (Fazenda, Planejamento e Orçamento) e ex-vice-presidente do Comsefaz.
  13. Edmar Bacha - Economista. Parte da equipe econômica que projetou e implementou o Plano Real, foi presidente do BNDES e é sócio-fundador e diretor do IEPE/CdG (Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Graças).
  14. Edson Domingues - Professor titular do departamento de Ciências Econômicas da UFMG. Coordenador do Núcleo de Estudos em Economia Ambiental e Aplicada.
  15. Eduardo Fleury - advogado e economista, consultor do Banco Mundial.
  16. Ernesto Lozardo - Professor de economia da EAESP-FGV e ex-presidente do Ipea.
  17. Eurico de Santi - Professor e coordenador do NEF da FGV Direito SP e Diretor do CCiF.
  18. Fabio Barbosa - Administrador e executivo.
  19. Fabio Giambiagi - Economista, com graduação e mestrado pela UFRJ. Funcionário do BNDES desde 1984. Ex-membro do staff do BID e ex-assessor do Ministério de Planejamento. Foi superintendente de Planejamento do BNDES.
  20. Fernanda de Negri - Diretora e pesquisadora do IPEA, doutora pela Unicamp, com pós-doutorado no MIT (Massachusetts Institute of Technology).
  21. Fersen Lambranho - Engenheiro, chairman da GP Investments.
  22. Germano Rigotto - Ex-governador do Rio Grande do Sul e presidente do Instituto Reformar de Estudos Políticos e Tributários.
  23. Guido Mantega - Ex-ministro do Planejamento, ex-presidente do BNDES, ex-ministro da Fazenda e pesquisador da FGV-SP.
  24. Glauco Arbix - Professor titular da USP, pesquisador do Observatório da Inovação do Instituto de Estudos Avançados e do Center for Artificial Intelligence-USP-Fapesp-IBM.
  25. Guilherme Cezar Coelho - Fundador da Samambaia.org e Instituto República.org.
  26. Helcio Tokeshi - Ex-secretário da Fazenda do Estado de São Paulo.
  27. Isaías Coelho - Pesquisador do Núcleo de Estudos Fiscais da FGV Direito SP.
  28. João Amoêdo - Engenheiro e administrador. Um dos fundadores e ex-presidente do Partido Novo.
  29. João Fernando de Oliveira - Vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências e professor titular da Escola de Engenharia de São Carlos-USP. Ex-diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, cofundador e primeiro presidente da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial).
  30. José Alfredo Graça Lima - Embaixador.
  31. Jorge Gerdau - Empresário e presidente do Conselho Superior do Movimento Brasil Competitivo.
  32. José Roberto Mendonça de Barros - Economista, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e ex-secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior da Presidência da República.
  33. Larissa Luzia Longo - Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas em Tributação do Insper.
  34. Laura Carvalho - Economista, professora do Departamento de Economia da FEA-USP e diretora global de equidade da Open Society Foundations.
  35. Leonel Pessoa - Doutor em Direito pela USP e professor da FGV Direito SP.
  36. Maílson da Nóbrega - Economista e ex-ministro da Fazenda.
  37. Manoel Pires - Economista, professor da FGV e da UnB e coordenador do Observatório de Política Fiscal da FGV/Ibre. Foi Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e chefe da Assessoria Econômica do Ministério do Planejamento.
  38. Márcio G. P. Garcia - Economista e professor da PUC-Rio.
  39. Marco Aurelio Cardoso - Economista do BNDES, mestre pela UFRJ, ex-secretário de Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul e ex-secretário de Fazenda do Município do Rio de Janeiro.
  40. Marco Bonomo - Professor do Insper. PhD em Economia pela Princeton University.
  41. Marcos Mendes - Doutor em economia e pesquisador Associado do Insper.
  42. Maria Carolina Gontijo - Advogada tributária, professora e dona do perfil Duquesa de Tax nas redes sociais.
  43. Maria Cristina Pinotti - Economista, sócia da A.C. Pastore & Associados. Trabalhou nos departamentos econômicos do BIB-Unibanco, Divesp e MB Associados.
  44. Mayara Felix - Pesquisadora de pós-doutorado em Yale Cowles. Professor-assistente de Economia e Assuntos Globais na Universidade de Yale.
  45. Marta Arretche - Cientista política, professora titular do Departamento de Ciência Política da USP.
  46. Melina Rocha - Consultora Internacional e diretora de cursos da York University - Canadá. Doutorado pela Université de la Sorbonne Nouvelle – Paris 3.
  47. Nelson Machado - Diretor do Centro de Cidadania Fiscal. Ex-ministro da Previdência social.
  48. Octavio de Barros - Economista, vice-presidente da CCBF (Câmara de Comércio França-Brasil) e membro do conselho de empresas e instituições.
  49. Otaviano Canuto - Ex-vice-presidente e diretor executivo no Banco Mundial, diretor executivo no FMI e vice-presidente no BID.
  50. Pablo Moreira - auditor fiscal da Receita Federal, membro da equipe Tax-Gap/RFB, ex-gerente de estudos (GEST2/COEST/CETAD/RFB).
  51. Paulo Ribeiro - Economista, coordenador e professor do Insper.
  52. Pedro Cavalcanti Gomes Ferreira - Economista, professor da EPGE-FGV.
  53. Pedro Passos - Empresário.
  54. Renata dos Santos - Economista, secretária de Estado da Fazenda de Alagoas. Já atuou em cargos na Fazenda do Rio de Janeiro, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e na Eletrobras.
  55. Ricardo Varsano - Consultor de política tributária, ex-economista sênior do FMI e ex-diretor de pesquisa do Ipea.
  56. Roberto Freire - Advogado, político, constituinte na ANC - 1988, presidente do Cidadania 23 e ex-senador por Pernambuco.
  57. Roberto Rocha - Ex-senador, deputado federal e estadual pelo estado do Maranhão. Foi relator da PEC 110 no Senado.
  58. Rozane Siqueira - Professora titular do departamento de economia da UFPE, PhD em economia pela University College London. Foi coordenadora de estudos fiscais na SPE/Ministério da Fazenda.
  59. Ruy Ribeiro - Economista e professor do Insper.
  60. Samuel Pessôa - Pesquisador associado do FGV IBRE e chefe da pesquisa econômica do JBFO. Mestre em física pela USP e doutor em economia pela FEA USP. Colunista da Folha.
  61. Sandra Rios - Senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais e diretora do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento.
  62. Sergio Fausto - Diretor-executivo da Fundação FHC, membro do conselho de sócios do Cebrap, ex-assessor dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento.
  63. Sérgio Gobetti - Pesquisador do Ipea, ex-secretário Adjunto de Política Fiscal e Tributária da SPE/Ministério da Fazenda e doutor em Economia pela Universidade de Brasília.
  64. Thomas Conti - doutor em economia, professor do Insper e do IDP-SP (Instituto de Direito Público de São Paulo).
  65. Valdir Moysés Simão - ex-ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e Controladoria.
  66. Vanessa Rahal Canado - Doutora em direito pela PUC-SP. Ex-diretora do CCiF e ex-assessora especial do Ministro da Economia para assuntos relacionados à reforma tributária.
  67. Vitor Pereira - professor do MPAM/Enap, doutor em economia pela PUC-Rio, especialista em economia da educação, consultor e ex-diretor de avaliação da SAGI-MDS.
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