Reação pró-Haddad reduz pressão sobre o câmbio, e dólar cai para R$ 5,36

Ao lado de Tebet, ministro da Fazenda falou em intensificar revisão de gastos; Lula diz não ter nada contra ele

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São Paulo, Genebra, Brasília e Rio de Janeiro

Depois de chegar a ser negociado a R$ 5,430 na quarta-feira (12), o dólar caiu nesta quinta-feira (13) e fechou cotado a R$ 5,367. O recuo foi motivado principalmente por um discurso do ministro da Fazenda, que falou em intensificar a revisão de gastos do governo, e manifestações de apoio a Fernando Haddad. A Bolsa recuou 0,30%, aos 119.567 pontos.

Após uma percepção no mercado de que estava enfraquecido por derrotas no Congresso, o ministro ganhou afagos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do vice, Geraldo Alckmin (PSB).

Nesta quinta-feira, Haddad fez uma declaração ao lado da ministra Simone Tebet (Planejamento) depois de uma reunião da equipe econômica na sede da Fazenda. Ele disse que pediu ao grupo um ritmo mais intenso de trabalhos na discussão sobre a agenda de corte de gastos e que o governo construirá um extenso cardápio de alternativas.

"Começamos aqui a discutir 2025, a agenda de gastos. O que a gente pediu foi uma intensificação dos trabalhos, para que até o final de junho nós possamos ter clareza do Orçamento de 2025, estruturalmente bem montado, para passar tranquilidade sobre o endereçamento das questões fiscais do país", afirmou o ministro.

O pronunciamento foi feito um dia depois de Lula ter causado temores no mercado ao sugerir aumento da arrecadação sem citar cortes de despesas.

O governo tem até o dia 31 de agosto de cada ano para apresentar ao Congresso sua proposta de Orçamento para o exercício seguinte. A equipe econômica faz os cálculos enquanto tenta atender à meta prevista para no ano que vem, de déficit zero.

"Nós estamos botando bastante força nisso, fazendo uma revisão ampla, geral e irrestrita do que pode ser feito para acomodar as várias pretensões legítimas do Congresso, do Executivo, mas sobretudo para garantir que nós tenhamos tranquilidade no ano que vem", acrescentou Haddad.

Conforme mostrou a Folha, a equipe econômica trabalha com a revisão de gastos com determinados benefícios previdenciários e discute a flexibilização das despesas mínimas com saúde e educação –que hoje crescem de forma mais acelerada que os demais dispêndios.

Na véspera, Tebet defendeu em audiência no Congresso que sejam revistos os gastos com seguro-desemprego, abono salarial e BPC (Benefício de Prestação Continuada, pago a pessoas idosas ou com deficiência carentes). Ela também pregou a análise sobre benefícios previdenciários de militares.

"Nós temos um dever de casa agora sobre o lado das despesas. Se os planos A, B, C e D já estão se exaurindo para não aumentar a carga tributária pela receita, sobre a ótica das despesas nós temos plano A, B, C, D e E", afirmou Tebet nesta quinta.

LULA DEFENDE HADDAD

Em viagem a Genebra, o presidente Lula saiu em defesa de seu ministro. "Eu não tenho nada contra o Haddad. O Haddad é um extraordinário ministro", disse ao ser questionado sobre o assunto.

A percepção de enfraquecimento do titular da Fazenda ficou marcada nesta semana depois da derrota na tentativa de obter receitas para compensar a desoneração da folha de pagamentos.

Sob fortes críticas, uma medida provisória restringindo as possibilidades de uso de créditos tributários do PIS/Cofin foi devolvida pelo Congresso. De acordo com Lula, Haddad "tentou ajudar alguns empresários construindo uma alternativa à desoneração feita para aqueles 17 grupos de empresários".

Segundo o presidente, agora cabe aos empresários e aos senadores encontrarem uma solução para manter neste ano a redução de tributos sobre os salários.

"Encontrem uma solução. O Haddad tentou. Não aceitaram. Agora encontrem uma solução", afirmou.

Depois, ao UOL, Lula afirmou que o "mercado deveria estar exigindo que o Banco Central baixasse os juros" e que seu foco "é o povo". "Eu não governo preocupado com o mercado. Quero me preocupar com o povo brasileiro", disse.

O vice-presidente Geraldo Alckmin também mostrou apoio a Haddad ao longo do dia. "O ministro Fernando Haddad tem feito um bom trabalho e o governo é o governo do diálogo", disse.

"Então, tenho certeza que vai ser um esforço para melhorar a arrecadação e, de outro lado, para buscar melhor eficiência no gasto público, ou seja, também trabalhar pelo lado da despesa."

Tenho certeza que vai ser um esforço para melhorar a arrecadação e, de outro lado, para buscar melhor eficiência no gasto público

Geraldo Alckmin

vice-presidente da República

Renan Filho, ministro dos Transportes, foi outro ministro a defender o colega da Fazenda. No X (antigo Twitter), afirmou que Haddad "está certo".

As falas de Lula, Haddad e Alckmin ocorreram entre o fim da manhã e o início da tarde, quando o dólar passou a registrar perdas mais consistentes.

Preocupações com o cenário fiscal do país, no entanto, seguem no radar dos investidores, limitando os ganhos da Bolsa.

"A dúvida do mercado gira em torno da capacidade do governo de entregar as metas determinadas pelo arcabouço fiscal, que vem perdendo a credibilidade", afirmou Jaqueline Kist, sócia da Matriz Capital

Além disso, a economia americana também seguiu em foco, e investidores estão alinhando apostas sobre o início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos, após a última decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central americano).

Na quarta (12), o banco central dos EUA decidiu manter os juros do país inalterados na faixa entre 5,25% e 5,50% e sinalizou que deve realizar apenas um corte nas taxas neste ano. A maior parte do mercado, no entanto, segue projetando duas reduções, em especial depois de um dado de inflação que surpreendeu positivamente os analistas e o próprio Fed. A questão, agora, é quando esse corte ocorrerá.

Com Reuters

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