Seja em um concurso de beleza, seja no mundo corporativo, boa articulação e domínio de outras línguas são essenciais para conquistar uma coroa ou um cargo de liderança. Atentos à demanda, professores de oratória e de idiomas ampliam o portfólio para atender, além de executivos, quem busca sucesso no universo das misses.
Maria Brechane, 19, Miss Universo Brasil e próxima representante do país no principal concurso de beleza do mundo, considera a comunicação um dos atributos mais importantes, sobretudo no período de confinamento —quando as candidatas convivem entre si e são avaliadas durante duas semanas.
"Ao longo da minha jornada até o Miss Universo, sempre tive muito cuidado com certos detalhes, como uma boa oratória, cuidado com a mente e uma boa comunicação em outros idiomas. Um bom inglês é fundamental para conversar com as pessoas, expressar e defender suas ideias."
Para aprimorar o domínio do idioma, Brechane tem aulas com a professora Renata Vilani, 46, que começou a se especializar na preparação de candidatos de concursos de beleza há dois anos. O primeiro contato com o mercado ocorreu em uma publicação no Instagram da então Miss Universo Brasil, Julia Gama.
"Fiz um vídeo comentando o inglês dela, indicando pontos positivos e alguns de melhora. A Julia interagiu com o post, conversamos e comecei a dar aulas para ela."
Depois da parceria, Vilani foi procurada por outras candidatas e passou a prestar serviços para as principais franquias de competições, trabalhando com participantes do Brasil e de outros países da América Latina, já que a Be-live, sua escola, também oferece curso de espanhol.
Majoritariamente individuais, as aulas online são ministradas pela professora e por sua equipe, que conta com 11 membros e atende cerca de 200 alunos. Morando em Itu, no interior de São Paulo, ela fechou o ponto físico da escola e fatura R$ 120 mil por mês com o modelo atual, em que só cursos intensivos têm atendimento presencial.
Vilani explica que o principal diferencial de seu método é o foco no repertório para assuntos exigidos pelo concurso de que a aluna participa.
"Há concursos em que as candidatas precisam propor soluções para problemas sociais, como desigualdade. Então é interessante ter o vocabulário desses temas, algo que não necessariamente eu passaria em uma aula comum."
Hoje, o principal público de Vilani são misses, mas também há pessoas que buscam melhorar o inglês no trabalho.
"Muitas vezes, o inglês do aluno já é bom, mas ele não domina termos cruciais para o campo em que atua, o que é fundamental em uma multinacional, por exemplo, em que reuniões e negociações em inglês sobre temas muito específicos são cotidianas."
A intersecção entre o mundo dos concursos de beleza e o corporativo não se limita ao idioma, afirma a psicopedagoga e professora de oratória Romilce Colombo, 63.
"Muito do que se exige de uma miss hoje também é exigido de um executivo, tanto em cargos de liderança como para quem submete seu trabalho à avaliação de alguém."
Romilce trabalha com a filha, Caroline, 34, desde 2012. Criadoras do método que chamam de "seu corpo, sua fala", elas utilizam elementos da oratória para ajudar misses e misters a manterem a calma durante as fases do concurso.
"Alguns candidatos têm uma dicção muito boa, mas, por nervosismo, pecam no encadeamento das ideias. Nosso objetivo é justamente encontrar o equilíbrio para que tanto a dicção quanto a fluência e a tranquilidade na fala sejam igualmente boas."
O serviço custa de R$ 2.400 a R$ 5.760, dependendo da duração do curso, que pode ser de dois a seis meses. Individuais e remotas, as aulas acontecem uma ou duas vezes por semana —a necessidade do aluno é avaliada em um encontro inicial gratuito.
Mãe e filha atendem em média 40 alunos e obtêm faturamento mensal de R$ 70 mil, segundo Caroline.
"Tudo que o corpo faz enquanto falamos é parte da comunicação. Não é só a argumentação e a dicção, mas também o movimento das mãos, dos olhos, a postura. No caso de uma miss, isso é avaliado com ainda mais minúcia."
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