Descrição de chapéu Governo Trump

Senado nega ouvir testemunhas e abre caminho a vitória de Trump em impeachment

Republicanos têm maioria na Casa e se mantêm fiéis ao presidente americano

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Washington e São Paulo | Reuters

O Senado americano decidiu nesta sexta-feira (31) que não convocará novas testemunhas para depor no processo de impeachment do presidente Donald Trump, abrindo assim caminho para sua absolvição. 

A medida era considerada a última tentativa dos democratas para prolongar o processo contra o presidente dos EUA, mas a proposta foi derrubada com 51 votos contrários e 49 a favor, após mais de quatro horas de debate no plenário.

A maioria republicana na Casa, que barrou a proposta, também deve absolver Trump na votação final, que ocorrerá na tarde de quarta-feira (5) —um dia depois de o presidente fazer o discurso do Estado da União.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, discursa durante evento no Iowa nesta quinta (30)
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, discursa durante evento no estado de Iowa nesta quinta (30) - Leah Millis - 30.jan.20/Reuters

A expectativa era de que os senadores decidissem já nesta sexta o futuro de Trump, mas os parlamentares acabaram decidindo por fragmentar a última etapa do processo, com os argumentos finais na segunda-feira (3) e discursos no plenário na terça.

Uma das possibilidades era de que a votação fosse na segunda-feira (3) —data que coincidiria com o início das primárias democratas, em Iowa.

Quatro pré-candidatos do partido são senadores (Bernie Sanders, Elizabeth Warren, Amy Klobuchar e Michael Bennet), e a expectativa era de que eles fossem ao estado para os últimos eventos de campanha dessa primária com o impeachment já resolvido.

Como a votação final foi adiada, eles podem ser obrigados a ficar em Washington.

O presidente é acusado de abuso de poder por pressionar o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, a investigar Joe Biden, líder nas pesquisas entre os democratas para ser o candidato à Presidência na eleição de 2020 e ex-vice-presidente durante a gestão de Barack Obama. 

Em 16 de janeiro, um órgão do Congresso responsável por auditar as contas do governo federal concluiu que Trump violou a lei ao reter uma ajuda militar de US$ 391 milhões para a Ucrânia. 

A verba foi aprovada pelos deputados para ajudar Kiev a combater os separatistas apoiados pela Rússia na parte oriental do país, mas retida pela Casa Branca como uma maneira de pressionar Zelenski a investigar Joe Biden e seu filho Hunter, que trabalhou no conselho de uma empresa de gás ucraniana.

Para Trump, Biden teria agido para demitir um contestado procurador-geral da Ucrânia que investigou a empresa de gás na qual o filho atuou.

Hunter, porém, nunca foi alvo do inquérito, e as apurações se concentravam no período anterior à sua chegada à companhia. 

O presidente americano também é acusado de obstruir o Congresso ao atrapalhar as investigações depois que o episódio foi descoberto. O republicano nega todas as acusações e afirma que a oposição tenta fazer uma caça às bruxas contra seu governo.

Os democratas defendiam a convocação de testemunhas, principalmente o ex-assessor da Casa Branca John Bolton, mas a maior parte dos republicanos era contra. 

Bolton, ex-assessor de Segurança Nacional, escreveu um livro ainda não publicado no qual detalha que Trump disse a ele querer congelar a ajuda financeira à Ucrânia até Kiev abrir investigações contra rivais democratas. A Casa Branca vetou a publicação do manuscrito.

Nesta sexta, o jornal The New York Times revelou que Bolton também relata na obra que mais de dois meses antes de Trump pedir ao presidente da Ucrânia em um telefonema para investigar seus adversários políticos, o presidente o instruiu a ajudá-lo na tarefa.

Nesse cenário, a oposição, que conta com 47 assentos no Senado, precisava do apoio de ao menos quatro republicanos moderados para conseguir autorizar as convocações.  

Os democratas até conseguiram convencer dois republicanos —Mitt Romney e Susan Collins—, mas os outros dois senadores que estavam em dúvida, Lisa Murkowski e Lamar Alexander, anunciaram ao longo desta sexta-feira que iriam votar contra o projeto, o que inviabilizou a aprovação. 

"Dada a natureza partidária desse impeachment desde o início, cheguei à conclusão de que não haverá um julgamento justo no Senado. Não acredito que a continuação desse processo mude nada. É triste para para admitir que, como instituição, o Congresso fracassou ", afirmou Murkowski ao justificar seu voto.

Já Alexander chegou a criticar Trump ao anunciar sua decisão contrária à convocação de testemunhas e disse que o presidente agiu de maneira "inapropriada ao pedir para um líder estrangeiro investigar um adversário político e barrar o envio de ajuda dos Estados Unidos para encorajar a investigação". 

Para o senador pelo estado do Tennessee, porém, isso não é motivo suficiente para aprovar o afastamento de um presidente. Outros senadores republicanos indicaram que concordam com ele na crítica às ações de Trump. 

Líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer criticou a decisão dos adversários.

"Se meus colegas republicanos se recusam até mesmo a convocar testemunhas e a ver documentos neste julgamento, este país se encaminha para a maior operação de ocultação desde Watergate", disse ele, referindo-se ao escândalo que levou o então presidente Richard Nixon a renunciar em 1974.

A novela sobre a convocação ou não das testemunhas vinha se arrastando desde 18 de dezembro, quando a Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados) aprovou o impeachment contra o presidente, levando à sua fase seguinte.

O líder dos republicanos no Senado, Mitch McConnell, defendeu desde o início que a Casa não precisava convocar as testemunhas porque quem deveria ter feito isso eram os deputados.

Mas a presidente da Câmara, a democrata Nancy Peolsi, recusou-se por 20 dias a enviar os artigos de impeachment para os senadores caso eles não autorizassem a convocação de testemunhas. 

No início de janeiro, no entanto, ela acabou cedendo à pressão e decidiu enviar as acusações mesmo sem garantias de que as testemunhas seriam chamadas.

Os democratas passaram então a pressionar os republicanos moderados para que autorizassem a convocação, mas no fim a estratégia não funcionou. 

Desde o início do processo, analistas consideravam pouco provável que a oposição conseguisse os dois terços do Senado necessários para remover Trump do cargo. Permitir o depoimento de novas testemunhas, contudo, poderia provocar danos políticos ao presidente enquanto ele busca a reeleição.

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