Eleitores de distrito de George Santos se organizam e pedem renúncia de deputado

Político filho de brasileiros admitiu ter mentido durante a campanha e se tornou alvo de investigações

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Washington

Moradores do distrito de Nova York que elegeu deputado o filho de brasileiros George Santos têm se organizado para elevar a pressão política por sua renúncia. O parlamentar republicano admitiu ter mentido sobre seu currículo e sua história familiar e se tornou alvo de investigações sobre contas de campanha.

Com acesso a deputados e pressão organizada, os Cidadãos Preocupados de NY-03, como o grupo foi batizado, tem trabalhado pela deposição do político eleito. NY-03 é o nome do distrito pelo qual Santos foi eleito —nos EUA, cada distrito elege um deputado. Localizado em Long Island e abarcando parte do Queens, é o mais rico da cidade e o quarto do país, com eleitores tendo uma renda média anual de US$ 179 mil, segundo a revista Forbes.

Jody Kass, 68, foi a responsável por formar o grupo, que conta com algumas centenas de associados em redes sociais. "Fiquei furiosa com esse impostor, e nos juntamos porque sabíamos que os moradores do distrito serão os mais impactados", diz. Apoiadora democrata, ela ressalva que a iniciativa é apartidária.

Moradores do distrito 03 de Nova York em manifestação contra o deputado republicano George Santos - Shannon Stapleton - 13.jan.23/Reuters

"Eu não consigo expressar o quanto estou chocada, confusa e preocupada", disse a republicana Limor Mordo, 58, em depoimento compartilhado pelo grupo. "Nós votamos em uma fraude. Vergonha de você, sr. Santos, e vergonha de nós se o permitirmos assumir o cargo."

Santos já era conhecido na região desde que concorreu para deputado em 2020, sem sucesso, e contestou a derrota. Na época, foi acusado de nem sequer viver no distrito. Nas midterms de 2022, o jornal local The North Shore Leader chegou a dizer que queria apoiar um republicano, mas que "o indicado [Santos] é tão bizarro, sem princípios e rudimentar" que não poderia fazê-lo.

"Ele é uma ameaça para a democracia. Uma das bases desse país é uma eleição livre e justa, e não foi o que tivemos, com tantas mentiras", afirma Kass, reforçando a preocupação com as fontes de recursos do deputado. "Há conexão com um oligarca russo e agora ele recebe relatórios de segurança nacional [na Câmara]. É um problema imenso."

Um dos doadores declarados da campanha de Santos, com US$ 30 mil investidos, é o empresário Andrew Intrater, primo do russo Viktor Vekselberg, alvo de sanções americanas. O jornal The Washington Post mostrou mostrou que a relação entre os dois é antiga e que uma firma de Intrater fez um aporte de US$ 625 mil em uma companhia para a qual Santos trabalhou na Flórida.

Mesmo com um histórico de dificuldades financeiras e um processo de despejo, o próprio deputado investiu US$ 700 mil em sua eleição, e há suspeitas sobre a origem desse dinheiro. Uma acusação apresentada ao Comitê Federal Eleitoral (FEC), que monitora gastos de campanha, aponta que ele ocultou os verdadeiros doadores e usou fundos para pagar despesas pessoais, o que é irregular.

Os Cidadãos Preocupados têm feito pressão entre parlamentares e organizado petições contra Santos. Na terça (17), organizaram uma entrevista com o deputado democrata Ritchie Torres, também de Nova York, vocal opositor do filho de brasileiros. "Ele provavelmente violou a lei de financiamento de campanha e deve ser investigado e responsabilizado", disse.

Mesmo lideranças republicanas fazem críticas abertas. No condado de Nassau, onde fica o distrito 03, o chefe local do partido, Joseph G. Cairo Jr., disse que o político perdeu a confiança da legenda.

Kass vê dois caminhos para tirar Santos do cargo: dois terços do Congresso votarem pela expulsão ou uma renúncia. Santos nega essa possibilidade, que a nova-iorquina só acha que aconteceria se o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, se voltar contra o correligionário —o que até aqui não parece ser o caso.

Santos não respondeu às tentativas de contato da Folha. Depois das primeiras reportagens revelando as mentiras, disse por meio de advogado que era vítima de perseguição. Ao admitir que havia "embelezado" seu currículo, afirmou que não era criminoso. Ao portal Semafor alegou que sua fortuna recente advém da intermediação de negócios financeiros para empresários.

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