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O que a Folha pensa forças armadas

Só o voto é secreto

Concessão mínima a militar pode pacificar cenário, mas deve ser feita às claras

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O ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, em reunião com o ministro da Defesa , general Paulo Sérgio Nogueira - Alejandro Zambrana/Secom/TSE

Por uma feliz coincidência, os ministros que conduzirão as presidências do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, e do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, durante as votações nacionais de outubro partilham o hábito de falar pouco fora dos autos judiciais.

O costume, adotado por colegas da dupla, de opinar livremente sobre temas que não estão em julgamento insere-se nos arcaísmos que a moderna República deveria superar —assim como as reuniões sem registros com interlocutores escolhidos para tratar de assuntos de notório interesse público.

Não há atas que revelem o teor dos dois encontros ocorridos entre Moraes e o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, para tratar da fiscalização das urnas.

Não por acaso, o TSE abriu concessões às demandas vocalizadas pelo ministro militar e seu chefe no Planalto após as reuniões. A corte incorporou a biometria ao teste habitual de integridade dos tradicionais dispositivos eletrônicos.

Trata-se do exercício de realizar no dia do pleito um escrutínio simulado e documentado com uma fração das urnas escolhida por sorteio para verificar se os resultados do aparelho batem com os de uma votação em papel feita na ocasião.

Escapa aos especialistas não militares da comissão de transparência do TSE a vantagem do teste com a urna acessada por impressão digital, que fica sujeito à recusa do eleitor real de fazer a simulação na hora de votar. Ainda assim, a corte decidiu realizar a checagem com a biometria em 56 urnas, das 641 a ser verificadas.

Além disso, as Forças Armadas pretendem conferir por sua conta se o boletim físico de cerca de 380 urnas equivale ao resultado publicado no site da Justiça Eleitoral.

Nota-se pelas ninharias das concessões —um punhado de urnas sem valor amostral no universo de mais de 500 mil aparelhos distribuídos pelo país de dimensão continental— que os militares brasileiros se entregam na melhor das hipóteses a um jogo de cena inócuo apenas para satisfazer as ignorâncias do presidente da República.

No pior e mais improvável dos cenários, as Forças participariam de nova trama golpista numa história repleta delas, o que jogaria por terra quase 40 anos de comportamento profissional na democracia.

A disposição de Alexandre de Moraes de ceder em aspectos perfunctórios às sugestões dos militares pode ajudar a pacificar a reta final das eleições. Não há razão, porém, para fazê-lo com reuniões sem registro, no modo mais típico de regimes que o presidente Jair Bolsonaro (PL) gosta de enaltecer.

Quanto aos militares, que o Brasil tenha aprendido a lição de que jamais deverão ser convidados novamente a opinar sobre eleições.

editoriais@grupofolha.com.br

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