Descrição de chapéu
Adriano Oliveira

Houve erros de procedimento nas pesquisas eleitorais do primeiro turno? SIM

Imprensa e institutos precisam mudar a forma como divulgam os dados

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Adriano Oliveira

Doutor em ciência política, é professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e fundador da Cenário Inteligência; autor, entre outros, de ”Qual foi a Influência da Lava Jato no Comportamento do Eleitor? Do Lulismo ao Bolsonarismo” (ed. CRV)

Li diversas explicações sobre os resultados das pesquisas eleitorais recentes. Todas elas me convenceram. A abstenção pode influir no resultado do pleito; eleitores, às vésperas da eleição ou até no dia, mudam o seu voto ou definem a sua escolha; e as amostras podem privilegiar, não intencionalmente, determinados segmentos econômicos e sociais.

As pesquisas eleitorais devem continuar a ser divulgadas e não podem ser criminalizadas. Contudo, os institutos de pesquisa mais a imprensa precisam mudar a forma de divulgação. A tradicional variável "intenção de votos", há tempos, não consegue decifrar a escolha do eleitor. A teimosia descredibiliza as empresas de pesquisas. A afirmação fortemente reverberada de que a pesquisa é retrato do momento, também.

Os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) disputam o segundo turno na eleição presidencial - Gabriela Biló/Folhapress e Pedro Ladeira/Folhapress

As pesquisas "erram" porque os institutos e a imprensa insistem em divulgar com grande alarde a ineficiente "intenção de votos" tradicional. O avanço do presidente Jair Bolsonaro (PL), o crescimento de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo e a queda de Marília Arraes (Solidariedade) em Pernambuco são exemplos de que a histórica "intenção de votos" não deve ser publicizada com tanta ênfase.

Em 2018, na eleição para o governo de Pernambuco, a Cenário Inteligência inseriu em seu questionário as seguintes perguntas: 1 - "No próximo dia 2 de outubro ocorrerá eleição para governador. Você já escolheu o seu candidato?"; 2 - "Se sim, quem é o seu candidato?" (espontânea); e 3 - "Se talvez, em quem você pensa em votar?" (espontânea).

As respostas obtidas criam dois grupos: grupo 1, os eleitores que já decidiram o seu voto; e, grupo 2, os eleitores indefinidos. São as respostas destes grupos que são apresentadas, primordialmente, ao cliente ou divulgadas para a opinião pública. Assim sendo, as possíveis manchetes dos jornais são: "No universo dos 52% de eleitores que já decidiram em quem votar, Fábio Carvalho (nome fictício) lidera com 36%". Vejam que a manchete deixa claro que existem 48% de eleitores indecisos e que podem mudar o voto até o dia da eleição.

O grupo 2 permite que possamos decifrar a opção do eleitorado indeciso. Isto é: 35% dos eleitores estão indecisos. Neste caso, a chamada do jornal será: "Maria Eduarda (nome fictício) lidera entre os 35% que estão indecisos". Observem que os dois grupos, quando monitorados em série, permitem a observação dos seguintes mecanismos: 1 - à medida que mais eleitores declaram o voto, Fábio Carvalho consolida a sua liderança ou amplia a sua vantagem; 2 - à medida que mais votantes decidem em quem votar, Maria Eduarda declina. Portanto, com base nos dados coletados através de várias pesquisas, podemos afirmar, com tranquilidade, que Fábio Carvalho deve vencer o pleito eleitoral.

É claro que é possível chegar às vésperas do pleito com uma grande quantidade de indecisos (grupo 2). Neste caso, a pesquisa revelará quem lidera a corrida eleitoral, mas, diante de tantos indecisos, é possível que o resultado da urna seja outro. Ressalto que a pesquisa só é retrato do momento quando consideramos, apenas com o objetivo de decifrar os vencedores ou perdedores, a "intenção de votos" tradicional.

Não são as pesquisas eleitorais que erram. Até porque, inerentes aos questionários, estão várias perguntas que possibilitam ao analista antecipar o possível resultado da eleição. É a intensa divulgação da tradicional "intenção de votos" que conduz os institutos à descredibilização.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.