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Equador em transição

Eleito, liberal Noboa deve buscar conter espiral da violência e erosão democrática

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O presidente eleito do Equador, Daniel Noboa, que votou no domingo (15) vestindo um colete à prova de balas - Marcos Pin/AFP - AFP

Ainda em meio à deterioração institucional que reuniu protestos violentos, dissolução do Parlamento, antecipação das eleições e até o assassinato de um presidenciável, a vitória do liberal Daniel Noboa neste domingo (15), sem maiores sobressaltos até aqui, é um sopro de esperança no conturbado cenário político e social do Equador.

O empresário e ex-deputado de 35 anos —o mais jovem presidente da história do país— venceu no segundo turno a esquerdista Luisa González por 52% a 48% dos votos.

É mais uma dura derrota do correísmo, movimento personalista ligado ao ex-mandatário Rafael Correa (2007-17), condenado por corrupção e hoje asilado na Bélgica.

Em gesto alentador, González parabenizou o adversário e deu a entender que sua coalizão está disposta a negociar reformas prementes no Legislativo.

Um mínimo de unidade nacional será vital para o exíguo mandato de Noboa, que deverá assumir em dezembro e governar a nação andina por apenas um ano e meio.

Mais afeito a atividades empresariais, o futuro líder teve um mandato discreto e era figura pouco conhecida até o primeiro turno.

É imperioso, pois, que anuncie seu gabinete com celeridade e forme alianças ao centro e à esquerda no Legislativo. Como bem sabe o atual presidente, o centro-direitista Guillermo Lasso, a falta de composição acabou impulsionando pedidos de impeachment que desaguaram na dissolução do Parlamento e no pleito fora de hora.

A espiral de violência, inflamada pela guerra do narcotráfico, triplicou nos últimos anos a taxa de homicídios. O símbolo maior desse descontrole foi a morte a tiros, em agosto, do presidenciável Fernando Villavicencio, cujos mandantes ainda são desconhecidos.

Adepto, ao que parece, de uma linha-dura para conter a assustadora insegurança, Noboa precisa delinear melhor como serão as tais "prisões-barco", concebidas para isolar os criminosos mais perigosos. Também deve detalhar os planos para investir em inteligência e prevenção e equipar as polícias.

Na economia, debilitada após a má gestão da pandemia, as promessas de criação de empregos e incentivos fiscais são desafiadoras diante da urgência em ampliar o crédito e atrair investimentos.

Guardadas peculiaridades e proporções, o desgaste da democracia equatoriana é triste reflexo da polarização política que grassa em boa parte da América Latina.

editoriais@grupofolha.com.br

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