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O que a Folha pensa petrobras

Ingerência em empresas é prejudicial ao país

Investidas de Lula sobre a Petrobras e a Vale explicitam intervencionismo que resultou em desastres no passado recente

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Carla Carniel/Reuters

A Petrobras, estatal, é a maior empresa brasileira em valor de mercado na Bolsa de Valores. A Vale, privatizada em 1997, é a terceira, logo atrás do Itaú Unibanco. Em comum, as duas gigantes encabeçam setores centrais para investimentos e exportações do país —e são alvo da cobiça do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Nos últimos dias, acumularam-se sinais alarmantes de mandonismo governamental nos rumos das duas companhias. O mais recente deles é a carta de renúncia de um membro do Conselho de Administração da Vale, José Duarte Penido.

No documento, afirma-se que o processo sucessório no comando da mineradora "vem sendo conduzido de forma manipulada, não atende ao melhor interesse da empresa e sofre evidente e nefasta influência política". Inexistem detalhes no texto, mas não é segredo que o Planalto buscou alojar o ex-ministro Guido Mantega no posto.

O insucesso da empreitada, tudo indica, não arrefeceu o ímpeto de tutelar a Vale —o que já ocorreu em administrações petistas anteriores. Não é difícil tomar como tentativas de intimidação as frequentes críticas de Lula à gestão da ex-estatal, que incluíram cobrança de alinhamento ao "pensamento de desenvolvimento do governo".

Incertezas quanto ao alcance de tais pressões espantaram investidores. Algo semelhante se deu com a Petrobras, também a partir de movimentos obscuros de Brasília.

Na semana passada, a petroleira surpreendeu ao anunciar a decisão de limitar ao mínimo obrigatório a distribuição de dividendos relativos a 2023. Soube-se que a medida, compatível com as preferências doPlanalto por mais investimentos, contrariou a recomendação da diretoria da empresa.

Sucederam-se reuniões a portas fechadas, intrigas palacianas vazadas à imprensa, especulações sobre a queda do presidente da companhia e, como de costume, declarações destrambelhadas de Lula.

Em entrevista ao SBT, o mandatário saiu-se com a tese de que a Petrobras não pode pensar apenas em seus acionistas, mas em "200 milhões de brasileiros que são donos dessa empresa".

O arroubo demagógico —acompanhado de surradas diatribes contra o mercado e os juros— só alimentou os temores de que o governo petista vá impor mais de sua agenda política e ideológica à gestão da estatal, como se nada tivesse aprendido com os escândalos de corrupção e prejuízos bilionários do passado recente.

Melhoras da governança nos últimos anos tornaram Petrobras e Vale menos vulneráveis às vontades dos governantes de turno. Entretanto os riscos de intervenção política espúria em decisões econômicas, como se vê, persistem.

editoriais@grupofolha.com.br

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