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Ministro da Justiça vira braço-direito de Bolsonaro em ataques eleitorais

Integrantes do Judiciário veem Anderson Torres responsável por operacionalizar teses antidemocráticas do presidente

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Brasília

A atuação da Polícia Rodoviária Federal no processo eleitoral consolida Anderson Torres, chefe da pasta à qual o órgão está atrelado, como um dos principais aliados das investidas de Jair Bolsonaro (PL) contra o sistema eleitoral.

Sob a tutela do ministro da Justiça, a PRF descumpriu ordem do ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ao aumentar a fiscalização de veículos de transportes de passageiros no dia do segundo turno da eleição.

A corporação também passou a ser questionada pela Justiça, e seu diretor-geral, Silvinei Vasques, virou alvo de pedido de inquérito, após esse mesmo empenho e essa ampliação do efetivo para o pleito não se repetirem nos dias seguintes, quando bloqueios promovidos por bolsonaristas inconformados com o resultado das urnas tomaram as rodovias do país.

Vasques foi nomeado por Torres dias depois de assumir o cargo como terceiro ministro da Justiça do governo Bolsonaro. Ele sucedeu André Mendonça, indicado para o STF, cujo antecessor foi o ex-juiz Sergio Moro.

O ministro da Justiça, Anderson Torres, durante evento com o presidente Jair Bolsonaro (PL) em Brasília
O ministro da Justiça, Anderson Torres, durante evento com o presidente Jair Bolsonaro (PL) em Brasília - REUTERS/Adriano Machado

A ação da PRF desde a véspera do segundo turno reforçou entre integrantes do Judiciário e de investigadores que atuam em casos que envolvem o presidente a visão de que Torres tem sido o responsável por operacionalizar as investidas golpistas de Bolsonaro.

Como mostrou a Folha, 2.310 agentes da PRF estavam na escala do dia seguinte ao segundo turno das eleições quando os bloqueios tomaram as estradas. Em outras três segundas-feiras do mês (3, 10 e 24), os efetivos foram de 2.018, 2.271 e 2.333 agentes, respectivamente.

O efetivo foi ampliado apenas na terça (1), quando o movimento já havia se espalhado por todo o país, chegando a 3.327 agentes, após determinação do presidente do TSE.

A falta de incremento no número de policiais nas estradas nesses dias contrasta com o reforço ordenado pela cúpula da PRF para o dia da eleição.

Essa discrepância no efetivo é vista como atuação premeditada pela PRF com a finalidade de favorecer os golpistas tanto no domingo de votação como nos dias seguintes durante as manifestações.

Contra Torres ainda é citado o histórico de ao menos outras três investidas de Bolsonaro e de seus apoiadores que contaram de alguma forma com sua participação.

A mais recente foi a que envolveu a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB).

No dia 23 de outubro, um domingo, após Jefferson receber os policiais federais enviados por ordem de Moraes para cumprir o mandado de prisão com três granadas e mais de 50 disparos de fuzil, Bolsonaro anunciou nas redes sociais que havia determinado a ida do ministro da Justiça ao Rio "para acompanhar o andamento deste lamentável episódio".

Notícias começaram a ser veiculadas sobre a ida de Torres à casa do ex-parlamentar, em Levy Gasparian (RJ).

Tão logo soube, Moraes mandou um recado a Torres por meio da decisão em que autorizou a prisão em flagrante do petebista.

No despacho, Moraes afirmou que a intervenção de qualquer autoridade para retardar ou para que a ordem não fosse cumprida seria considerada delito de prevaricação.

"Há notícias, ainda, de que o Ministro da Justiça está a caminho da residência do denunciado, para uma suposta negociação de sua rendição e efetivo cumprimento da ordem de prisão", disse Moraes.

Antes desse episódio, Torres havia entrado na mira do inquérito das milícias digitais relatado por Moraes por causa da sua atuação para viabilizar a live de 29 de julho de 2021, em que Bolsonaro fez o seu mais duro ataque até então às urnas eletrônicas.

Ele foi chamado para depor após a Folha revelar sua tentativa de envolver peritos da Polícia Federal na tentativa frustrada de Bolsonaro de achar provas contra as urnas. O ministro levou dois peritos especializados em urnas para uma reunião com o presidente no Palácio do Planalto.

No encontro, eles foram apresentados às teses sem provas da equipe presidencial, mas se negaram a validá-las.

Mesmo após o encontro e com a negativa dos peritos sobre a existência de indícios de fraude, Torres foi à live e apresentou relatórios antigos produzidos por peritos para, como ele disse, "corroborar" as ideias de Bolsonaro.

Sem conseguir, Torres voltou a tentar utilizar a PF na empreitada de Bolsonaro para desacreditar as urnas, agora já dois meses antes do início da campanha.

Em junho, ele ordenou a criação na PF de um grupo de trabalho para acompanhar a fiscalização das urnas, assegurar a "integridade" das eleições de 2022 e "resguardar o Estado democrático de Direito, que exige integridade e autenticidade dos sistemas eleitorais".

A movimentação foi vista por integrantes da Justiça Eleitoral como mais uma tentativa de ajudar o presidente Bolsonaro a desacreditar o sistema eleitoral.

A tentativa, no entanto, também fracassou: o grupo de trabalho criado na DIP (Diretoria de Inteligência Policial) da PF se manifestou no sentido que sempre se posicionou nos últimos anos.

Os peritos apontam que é possível melhorar ainda mais a segurança, defendem a impressão do voto, mas negam a existência de qualquer indício de fraude no sistema eletrônico de votação.

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