Descrição de chapéu DeltaFolha unicamp

Número de cientistas do Brasil entre os mais influentes do mundo quadruplica em 5 anos; veja lista

São 1.294 pesquisadores do país definidos de acordo com o impacto científico; USP tem 244 no ranking

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O número de pesquisadores de instituições brasileiras na lista dos cientistas com maior impacto do mundo quase quadruplicou em cinco anos. Saltou de 342 em 2017 para os 1.294 em 2022 (alta de 278%).

O ranking é publicado pelo pesquisador John Ioannidis, da Universidade Stanford (EUA), em parceria com a Elsevier, a maior editora científica do mundo.

Esses 1.294 cientistas fazem parte dos 100 mil mais influentes ou incluídos entre os 2% maiores em cada subárea do conhecimento, segundo levantamento de 2022.

Considerando os dois indicadores, a lista final contém 210.198 pesquisadores. O Brasil tem, assim, 0,61% do total, ocupando a 25ª posição no ranking global.

USP é líder entre as instituições brasileiras no Shangai Ranking
USP é líder entre as instituições brasileiras no Shangai Ranking - Cecília Bastos/USP

Nos anos anteriores, foram 1.212 (2021), 1.132 (2020) e 853 (2019). Os dados de 2018 não estão disponíveis.

Os cinco países com mais cientistas influentes são Estados Unidos (69.258), China (23.484), Reino Unido (16.797), Alemanha (10.087) e Canadá (7.889).

No levantamento, é possível avaliar a influência do cientista pelo impacto de sua carreira científica e também analisar indicadores de anos específicos. A atualização, divulgada no dia 4 de outubro, traz os principais pesquisadores do mundo com citações até o final de 2022.

Dentre os cientistas brasileiros listados estão nomes que tiveram destaque no combate à Covid, como o epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP Paulo Lotufo; a pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical Ester Sabino, responsável pelo sequenciamento do coronavírus; Ricardo Gazzinelli, coordenador do CT Vacinas, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e responsável pela primeira vacina 100% brasileira contra a Covid; e a médica cardiologista Ludhmila Hajjar, que atendeu dezenas de pacientes durante a pandemia e recusou o convite para integrar o Ministério da Saúde no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A avaliação da influência dos cientistas leva em conta um índice chamado c-score, que consiste em um cálculo a partir de seis parâmetros (como índice H de citação; índice Hm de citação em coautoria; e número de artigos com citação como autor único, primeiro autor ou último autor), retirados do Scopus, considerado o maior banco de dados de resumos e citações de artigos e revistas científicas, com mais de 35 mil títulos.

O valor final permite analisar de maneira padronizada o impacto do cientista, em vez de considerar simplesmente o número de citações, explica o autor. Ele ainda divide a avaliação por 22 áreas e 174 subáreas do conhecimento, incluindo ciência, tecnologia, medicina, ciências sociais, artes e humanidades.

Paulo Lotufo afirma que esse resultado reforça a importância de valorizar a colaboração entre pesquisadores e a multidisciplinaridade. "O Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica é um Núcleo de Apoio à Pesquisa central e multiusuário e, no momento, queremos expandir ainda mais o escopo, com mais colaborações", disse.

Na comparação entre as instituições de pesquisa, a USP é a instituição com maior impacto científico, com 244 cientistas listados, seguida de Unicamp, com 89, e Unesp (Universidade Estadual Paulista), com 67.

COMO É CALCULADO O IMPACTO DA PESQUISA CIENTÍFICA

  • Produção científica

    A produção científica de um pesquisador ou pesquisadora é calculada com base nas citações bibliográficas dos artigos cujo cientista é autor (único ou coautor)

  • O índice h (ou h-index) equivale ao número de publicações científicas (n) com pelo menos n citações

  • Assim, se um pesquisador possui cinco artigos com pelo menos cinco citações individualmente, o índice h dele é 5

  • Já se ele possui 10 artigos, mas cada um tem, individualmente, menos de dez citações (n-1), o índice h dele equivale ao número de artigos com citação igual ou maior a n

  • Muitos especialistas questionam o uso do índice h para avaliar o impacto da produção científica do pesquisador, uma vez que é uma métrica bibliométrica, isto é, utilizada principalmente para calcular as citações de revistas e artigos científicos, excluindo livros, dissertações e teses

Entre as universidades federais, estão no topo da lista a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), com 64, a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), com 54 cada uma, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), com 26 cada, e a UnB (Universidade de Brasília), com 23. A Fiocruz também possui 30 pesquisadores listados.

Há, porém, uma diferença considerável entre as áreas de conhecimento. Ciências médicas, engenharia e tecnologia têm maior impacto devido às diferenças das métricas bibliográficas, afirma o presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Renato Janine Ribeiro.

"A publicação nas humanas se concentra muito mais em livros, de autoria única, e não em artigos com autoria coletiva, o que reduz a quantidade de citações desses autores. Então essa métrica não é adequada para o impacto das ciências humanas", afirma.

No caso da saúde pública e áreas correlatas, há diversas publicações em revistas locais, com foco em enfermidades ou problemas regionais, afirma a demógrafa e professora da Universidade Harvard, Márcia Castro, colunista da Folha.

"Temos uma publicação que é excelente na área de demografia, mas o impacto [global] é pequeno. Então é claro que, se considerar as publicações em revistas mais top, como Science, Nature, vai aparecer o viés de tecnologia, engenharia e biomedicina", diz.

Já áreas como biodiversidade e ciências ambientais, consideradas prioritárias em um mundo que enfrenta as mudanças climáticas e os impactos da ação humana, apresentam um número elevado de cientistas entre os mais influentes, dentre eles Paulo Artaxo, que integra o IPCC (Painel Intergovernamental para as Mudanças do Clima da ONU), o pesquisador Miguel Trefaut Rodrigues, do Instituto de Biociências da USP e um dos principais especialistas em lagartos do país, e Hussam Zaher, do Museu de Zoologia da USP, que esteve à frente da descoberta de uma serpente fóssil devoradora de dinossauros.

Nessas áreas, as publicações costumam receber diversas citações por apresentarem uma descoberta científica inédita, no caso da descrição de novas espécies, ou então explorarem problemas ambientais amplos, com impacto direto na vida de milhares de pessoas.

Um estudo divulgado no início deste ano mostra como a produtividade científica no Brasil teve queda pela primeira vez em 2022, chegando ao mesmo nível da Ucrânia, que vive uma guerra com a Rússia desde fevereiro do ano passado.

Para os autores do estudo, a queda na produção científica brasileira foi consequência dos cortes na ciência promovidos pela gestão Bolsonaro.

Helena Nader, presidente da ABC (Academia Brasileira de Ciências), diz que é notável a evolução dos cientistas brasileiros na lista dos mais influentes do mundo, especialmente considerando a situação dos últimos quatro anos.

"É muito relevante que a gente tenha alcançado quase 1.300 cientistas na lista dos mais influentes do mundo, apesar da miséria que a ciência nacional passou. Isso nos faz lembrar como as conquistas da ciência nacional não são absolutas", avalia.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.