Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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O horóscopo do doutor Olavo

Previsões, palavrões e brigas de família em uma semana no Twitter do ideólogo do bolsonarismo

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Em seu perfil com 175,5 mil seguidores no Twitter, Olavo de Carvalho se define como “escritor, filósofo, autor de dois best-sellers e professor do Curso Online de Filosofia (COF)”. Fumante inveterado e colecionador de armas, o ex-astrólogo e jornalista, que trabalhou em veículos como Jornal da Tarde e O Globo e é considerado o principal ideólogo do bolsonarismo, dispara tuítes cáusticos e recheados de xingamentos de sua casa em Richmond, nos EUA.

Na semana que começou marcada por declarações ofensivas de @jairbolsonaro no Brasil —em especial sobre Fernando Santa Cruz, militante assassinado pela ditadura militar e pai do atual presidente da OAB— e terminou com sangrentos atentados no Texas e em Ohio, nos EUA, Olavo preferiu centrar fogo nos críticos, rivais intelectuais, na imprensa e até no Cinema Novo.

Uma semana antes, o guru do presidente voltara a um tema de caráter astral que, em maio, o transformou em memes que viralizaram na internet. Negou outra vez ser adepto do terraplanismo, ressaltando porém ter lá suas dúvidas sobre a redondeza do planeta. @opropriolavo “É óbvio que me chamar de terraplanista é analfabetismo funcional extremo. Nessa questão de terra plana tudo o que tenho são perguntas e problemas, nenhuma convicção firmada, e ainda levarei uns anos para ter alguma.”

Diante da insistência de seguidores, recorreu ao método cartesiano: @opropriolavo “NÃO me escrevam, por favor, sobre outros aspectos da questão terraplanista. Só vou pensar nessas coisas daqui a uns anos. Sigo o conselho de Descartes: se você tem um problema grande, divida-o em vários pequenos e trate de um por um.”

Na segunda-feira (29), Olavo alvejou pensadores, em suas palavras, “que a mídia fabricou”, e que considera tributários de seu estilo: Leandro Karnal, Mario Sergio Cortella, Luiz Felipe Pondé e Clóvis de Barros. @opropriolavo “Dos quatro pseudo-Olavos mais notórios que a mídia fabricou, o único do qual eu gosto um pouco é o Clóvis de Burros. Pelo menos ele é engraçado, o que está infinitamente acima da capacidade dos outros três.”

A um deles, desancou furiosamente: @opropriolavo “Atenção, Pumdeu: fascista é o seu cu.” 

@opropriolavo “Desafio publicamente o Pumdeu —ou algum outro igual a ele, que os há aos montes no Brasil— a encontrar em qualquer texto meu alguma defesa de regimes fascistas ou similares. Desafio mesmo.”

Na terça (30), entrou na mira o articulista do jornal Gazeta do Povo, Martim Vasques da Cunha, que o citara ao lado do filósofo conservador inglês Roger Scruton. @opropriolavo “Chamar a mim de ‘guru da direita brasileira’ já é uma palhaçada. Colar esse rótulo no Roger Scruton, então, é ideia que só poderia ocorrer a um bobão como o Mastim Vaca.”

Family affair

 Na quinta-feira (1º), seu post sobre a forma como Hollywood retrata os valores familiares recebeu réplica contundente da filha, Heloísa: @opropriolavo “Nos filmes americanos de hoje em dia, a coisa mais normal do mundo é os filhos odiarem os pais.” 

@helomartinarrib Em resposta a @opropriolavo “Conta que por duas vezes você internou minha mãe no hospício jogou seus quatro filhos na casa da sua sogra pra poder ficar na boa vida, fugir das suas responsabilidades, seu falso cristão.”

Olavo não respondeu a filha. Preferiu torpedear, no dia seguinte, o manifesto divulgado em junho por ex-ministros da Educação. @opropriolavo “Que ex-ministros da Educação, criadores da maior e mais dispendiosa fábrica de analfabetos funcionais do universo, tenham o desplante de reunir-se e dar palpites, é para mim uma simples OBSCENIDADE.”

Voltaria, porém, ao tema da religião no sábado (3): @opropriolavo “Tanto o catolicismo quanto o judaísmo estão infiltrados de satanistas. Enquanto estes não forem identificados, denunciados e expulsos, os católicos e judeus continuarão levando as culpas de males que jamais praticaram.”

Para, em seguida, descer de volta ao mundano e fustigar o deputado Alexandre Frota (PSL-RJ), ex-aliado que se tornou crítico do guru e do próprio presidente Bolsonaro. @opropriolavo “O Fruta, por décadas, viveu decentemente de mostrar pinto e cu. Ficou obsceno quando começou a mostrar opiniões.”

Chanchada nova 

Na segunda-feira (5), Olavo de Carvalho exercitou novamente seus dotes de crítico de cinema. O foco, desta vez, foi o cinema nacional: @opropriolavo “Chanchadas da Atlântida ainda nos divertem, mas do Cinema Novo não sobrou porra nenhuma que valha a pena de assistir.”

@opropriolavo “Quem é o Glauber Rocha perto do Mazzaropi?”

Algumas horas depois, no mesmo dia, rebobinou —com um travo incomum de desalento —seu velho filme anticomunista. @opropriolavo “A época certa para impedir a ocupação do país pela gangue comunolarápia foi de 2000 a 2010. Agora tudo ficou tão imensamente difícil que raia a impossibilidade.”

Até o fechamento desta coluna, na tarde de segunda (5), nada havia tuitado sobre os 34 mortos e 53 feridos dos atentados nos EUA.

Gota d’água

Na segunda (5), o perfil da rede britânica BBC postava reportagem sobre o abalo entre os americanos causado pelo novo massacre. @bbcbrasil “Por que massacres no Texas e em Ohio podem levar EUA a revisar lei de armas.”

Ainda no sábado (3), o radialista e ex-congressista republicano Joe Walsh admitiu: @WalshFreedom “Quando estive no Congresso, oito anos atrás, nossa maior ameaça terrorista era a de muçulmanos americanos radicalizados pelo islamismo. Hoje, é a de homens brancos americanos radicalizados pelo supremacismo branco. Os conservadores precisam ser honestos o bastante para reconhecer isso.”

O correspondente da GloboNews em Nova York contextualizou para a audiência brasileira na plataforma: @gugachacra “Sempre é bom lembrar aos supremacistas brancos brasileiros que, para os supremacistas brancos americanos, vocês não são considerados brancos. São latino-americanos, assim como cubanos, venezuelanos, hondurenhos, salvadorenhos, nicaraguenses, dominicanos, mexicanos e paraguaios.”

Palestra não-declarada

Sergio Moro procurou justificar no Twitter o novo constrangimento causado por diálogos divulgados pela parceria Folha/The Intercept Brasil. @SF_Moro “Em 2016 não fui totalmente sincero. Escondi a doação à caridade decorrente da palestra, pois achei que poderia soar como inadequada autopromoção. Escusas agora pela revelação, mas preciso dela contra falsos escândalos. Há outras doações, mas os fatos importam mais do que a publicidade.”

Em sua contestação, o editor-executivo do site enumerou: @demori “1. Reconhece mais uma vez a autenticidade do arquivo; 2. Reluta em declarar o valor total da palestra (e não apenas a suposta caridade). Ou seja: não diz quanto embolsou nessa e em outras palestras usando o serviço público como trampolim social. Deltan foi 400 mil. Você foi quanto?”

Contradições fardadas

 Do colunista do jornal O Globo, @laurojardim “Foragido, neto de ex-presidente Figueiredo é preso.”

Da advogada e economista @elenalandau “Sob risco de perder fala, general Villas-Bôas defende maconha medicinal.”

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