Jaime Spitzcovsky

Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e Pequim.

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Jaime Spitzcovsky
Descrição de chapéu África

Acordos de Abraão levam países árabes a combater negacionismo do Holocausto

Emirados Árabes Unidos e Marrocos agem contra desinformação de temas ligados a Israel

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Com impetuosa capacidade de destruir barreiras, os Acordos de Abraão, assinados entre Israel e quatro países árabes em 2020, descortinam mais uma fronteira na desafiadora busca por pacificação no Oriente Médio e em seu entorno.

Emirados Árabes Unidos e Marrocos, signatários dos tratados, enfileiram iniciativas para combater o negacionismo do Holocausto, ao incluir o tema em currículos escolares, e promover homenagens a vítimas do nazifascismo.

Ao longo de décadas, negar o Holocausto tornou-se prática bastante difundida nos mundos árabe e muçulmano. Uma propaganda torpe sustentava que o massacre de judeus pela Alemanha nazista consistiria em "um mito a justificar a criação de um país, Israel, habitado por europeus, no Oriente Médio".

O hoje premiê israelense, Yair Lapid, recebe o chanceler emiradense, Abdullah bin Zayed Al Nahyan, em Sde Boker, em março, durante cúpula de signatários dos Acordos de Abraão - Ilan Assayag - 27.mar.22/JINI/Xinhua

Tais disparates contaminaram discursos políticos, livros, programas de rádio e TV, conteúdos na internet —muitos deles usados até hoje no debate público no Cairo, em Damasco ou Bagdá. Em 2006, o iraniano Mahmoud Ahmadinejad chegou a reunir em Teerã negacionistas como David Duke, Robert Faurisson e Michèle Renouf, num deprimente esforço para torturar a história.

Com os Acordos de Abraão, assinados entre Israel, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão, iniciativas para combater a desinformação ganharam novo impulso, ingredientes fundamentais para uma coexistência pacífica entre os diversos povos do caleidoscópico Oriente Médio. Os governos marroquino e emiradense, por exemplo, anunciaram a decisão de trazer para as escolas temas como história e cultura judaicas.

Rabat revelou seus planos na área educacional em meio aos ventos trazidos pelo tratado e justificou a iniciativa como forma de enfatizar "a diversidade na identidade nacional". No final dos anos 1940, a comunidade judaica local contabilizava cerca de 250 mil integrantes, hoje reduzida à casa dos 3.000.

Após a proclamação da independência de Israel, em 1948, com a resolução 181 das Nações Unidas, governos árabes, como o do egípcio Gamal Abdel Nasser, expulsaram comunidades judaicas —ações a gerar a migração de centenas de milhares de refugiados para Israel e outros países, como EUA, França e Brasil.

Israel passou então a atravessar um processo de mudança demográfica, pois no começo do retorno judaico da diáspora, sobretudo no alvorecer do século 20, prevaleciam iniciativas arquitetadas na Europa oriental, com a chegada de imigrantes "ashkenazitas" a falar polonês, russo ou iídiche. Porém, a partir dos anos 1950, a balança populacional israelense passou a indicar aumento progressivo de habitantes originários de países árabes ou africanos e asiáticos, como Etiópia e Índia.

Essas parcelas da sociedade, descritas como "sefaraditas" ou "orientais", respondem hoje por cerca de 50% da população, numa paisagem demográfica cada vez mais diferente dos primórdios do país, à época majoritariamente "ashkenazita". Em termos gastronômicos, pode-se imaginar um país consumindo mais homus, uma pasta de grão-de-bico, do que "guefilte fish", bolinho de peixe típico em mesas do Leste Europeu.

Em meio às mudanças médio-orientais, em setembro o ministro da Relações Exteriores emiradense, xeque Abdullah bin Zayed Al Nahyan, protagonizou visita pioneira e histórica ao Yad Vashem, museu do Holocausto em Jerusalém. São passos importantes para árabes e israelenses conseguirem construir e cimentar alicerces para uma almejada coexistência pacífica.

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