Descrição de chapéu Folhajus violência

Fugas de presídios no Brasil tiveram helicópteros, ataques e túneis

Do resgate do traficante Escadinha, em 1985, aos caminhos com ventilação e lâmpadas, sistema penitenciário tem histórico de falhas

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São Paulo

A história prisional no Brasil é rica em casos de fuga em massa e planos elaborados para o resgate de presos. A fuga de dois criminosos em Mossoró, no Rio Grande do Norte —a primeira registrada nos 18 anos do sistema penitenciário federal—, entra num rol que envolve ataques a presídios, sequestro de helicópteros, falhas de segurança e muitos túneis.

No caso do presídio de segurança máxima em Mossoró, a suspeita é que os presos tenham usado materiais de construção para abrir um buraco no teto e escapar. Ainda não se sabe se agentes penitenciários ajudaram os fugitivos, mas a constatação é que houve, no mínimo, falha na inspeção das celas.

Curiosos observam o helicóptero que foi usado na fuga de dois presos de um presídio de Guarulhos, em 2002; aeronave pousou em Embu das Artes, na região metropolitana de SP - André Porto - 17.jan.2002/Folhapress

A maior fuga do Carandiru

O Complexo Penitenciário do Carandiru, na zona norte de São Paulo, tinha dezenas de túneis em seu subsolo. Foi por meio de um deles que um total de 108 detentos escaparam em novembro de 2001, a maior fuga na história do Carandiru, que durante décadas foi o maior presídio da América Latina.

Aquele foi o ano das grandes fugas de presidiários na capital. Quatro meses antes, outra fuga por túnel teve 106 fugitivos. Entre os de novembro estava Alejandro Herbas Camacho Júnior, irmão de Marcos Herbas Camacho, o Marcola, líder da facção criminosa PCC. Ele só seria preso novamente cinco anos depois.

Segundo reportagem da Folha da época, o governo estadual havia descoberto 37 túneis ao redor do Carandiru só entre janeiro e novembro de 2001.

Ao menos um deles contava com iluminação e sistema de ventilação. Os túneis eram construídos de fora para dentro do presídio —passavam por baixo de casas do entorno e de avenidas. Parte da tubulação da cidade era aproveitada na escavação.

O método de fuga não era uma novidade: o primeiro túnel do Carandiru foi descoberto em 1971.

Resgates com helicóptero

Poucos meses depois da maior fuga na história do Carandiru, em 2002, um helicóptero pousou sobre o campo de futebol de um presídio em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. Dois presos, condenados por sequestro e assalto, embarcaram, e o helicóptero levantou voo, escapando dos tiros de agentes penitenciários.

O piloto havia sido rendido por dois criminosos em pleno voo. Eles haviam alugado o helicóptero no Campo de Marte e demoraram cerca de três minutos até chegar ao presídio.

A operação repetia a fuga mais famosa de um presídio no Brasil. Em 31 de dezembro de 1985, o traficante José dos Reis Encina, o Escadinha, foi resgatado por um helicóptero da penitenciária da Ilha Grande, no Rio de Janeiro.

Escadinha era considerado o maior traficante de cocaína do Rio naquele momento. O helicóptero também teria sido sequestrado durante o voo, por um comparsa do traficante. Ele foi levado a Angra dos Reis e continuado a fuga em um carro.

Explosivos e serrotes

Em 2017, ano em que explodiram os confrontos entre facções dentro de presídios, explosivos e serrotes foram os instrumentos de fuga da penitenciária de Pedrinhas, em São Luís (MA).

Houve uma ação coordenada nos lados de fora e dentro: criminosos colocaram os explosivos no muro do presídio pelo lado de fora. Já os próprios detentos conseguiram serrar as grades das celas e alcançar o buraco na parede causado pela explosão.

Ao todo, 32 presos conseguiram fugir. Dois morreram durante a fuga, alvejados por policiais que tentavam contê-los.

Ataque externo

Um caso parecido ocorreu no ano seguinte em João Pessoa (PB). Dessa vez, um grupo de criminosos não só usou explosivos para arrombar o portão do presídio Romeu Gonçalves Abrantes - PB1, como atacou os agentes penitenciários com tiros de fuzil.

O resultado foi uma das maiores fugas na história da Paraíba: 92 presos fugiram da penitenciária, o equivalente a 13,5% do contingente abrigado à época na unidade.

Fuga pela porta da frente

Um caminhão de leite serviu de carro de fuga para três detentos do presídio de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, em setembro de 2000. Eles se esconderam ali enquanto funcionários faziam o reabastecimento da unidade prisional durante a madrugada, e o veículo saiu pela porta da frente —mas, antes disso, os presos tiveram de passar por dois portões internos.

O presídio de Alcaçuz é conhecido por falhas estruturais que facilitaram fugas. O projeto previa originalmente que o prédio fosse erguido num terreno rochoso na cidade de Macaíba, a 14 km de Natal. A planta foi adaptada e a construção ocorreu sobre as dunas do município de Nísia Floresta, ao lado da capital potiguar, com características que facilitaram a presença de esconderijo de armas e fugas com túneis escavados na areia.

Falha em prisão-modelo

Em 2002, outra fuga marcante envolveu dez presos em um CDP (Centro de Detenção Provisória) em Osasco, na Grande São Paulo. Eles conseguiram escapar em um túnel, que tinha iluminação e estruturas de sustentação para que não desabasse.

A fuga foi um sinal de fracasso na política de construção dos CDPs, que à época também eram chamados de "prisões-modelo". Esses locais eram destinados apenas a presos que aguardam julgamento, com a intenção de liberar as carceragens dos distritos policiais.

No entanto, essas prisões logo passaram a receber também detentos condenados e a sofrer os mesmos problemas de superlotação das penitenciárias, assim como rebeliões.

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