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Insisto em comentar as vantagens e desvantagens do mundo virtual. Não perderei tempo em lembrar as vantagens, elas entram pela cara da gente, tornam-se dia-a-dia mais indispensáveis e mais fáceis de manuseio.
Fico então com as desvantagens, e uma delas me remete ao processo de pensar, de refletir. Desde que Aristóteles criou o método peripatético, os melhores pensamentos da humanidade vieram quando filósofos, inventores, matemáticos, músicos e poetas obedeciam aquele processo de pensar caminhando, ou caminhar pensando.
Beethoven passeava na floresta quando voltou correndo, com a Sexta Sinfonia inteira na cabeça. Kant era metódico, todos os dias saía para seu passseio à tarde, os vizinhos podiam acertar o relógio pela hora em que ele percorria o bosque de Königsberg. E foi assim que ele criou seu monumental sistema dedicado à razão pura.
Strauss compunha suas valsas passeando pelos bosques de Viena e Anchieta escreveu seu poema nas areias de uma praia. Ficar plugado a uma tomada pode ser prático, mas não é criador.
Em Heidelberg, existe o Passeio dos Filósofos, uma trilha no meio da mata onde diversas gerações de pensadores e artistas caminhavam, pensavam e criavam. Há uma foto dramática do cardeal Pacelli, quando soube que seria eleito papa no próximo escrutínio. Ele ficou caminhando pelo Cortile de São Dâmaso, sozinho, meditando sobre se devia aceitar o papado naquela situação, com o mundo às vésperas da mais cruel de todas as guerras.
Viver plugado a uma corrente de pessoas e informações pode ser divertido e útil. Mas agride o que o ser humano tem de melhor e mais insubstituível: o seu gosto, o seu erro, a sua miséria e sua glória.
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08/08/2000 - O anão zangado
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