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Rock in Rio Eleições 2022

Rock in Rio entrou com fôlego na disputa entre Lula e Jair Bolsonaro

Festival teve ainda performances memoráveis e decepções inesquecíveis com problemas de som e ídolos ofuscados

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Show de Alok no Rock in Rio 2022

Show de Alok no Rock in Rio 2022 Eduardo Anizelli/Folhapress

Rio de Janeiro

Pela primeira vez na história, o Rock in Rio ligou suas caixas de som em meio à campanha eleitoral —e, mais do que isso, às vésperas de uma das votações mais polarizadas de toda a história do Brasil. Isso, é claro, teve reflexo nas apresentações, com público sedento por críticas a Bolsonaro e ataques sutis ou mais abertos ao atual presidente.

Show da banda Coldplay, no palco Mundo - Eduardo Anizelli/ Folhapress

A nona edição do festival, que começou no dia 2 e terminou nas primeiras horas desta segunda-feira, com Dua Lipa, foi marcada pela voltagem política sobre os palcos. É claro que a música apareceu em seu estado puro, com Green Day encarnando o espírito do punk ou Coldplay iluminando o Parque Olímpico, com uma apresentação do tipo blockbuster, escapista e cheia de acenos aos brasileiros.

Isso sem falar de outros shows que foram bastante celebrados, entre eles Justin Bieber, Demi Lovato, Post Malone, Racionais, Djavan, Ludmilla, Maria Rita, CeeLo Green, Matuê e Living Colour.

Houve ainda aqueles que tiveram apresentações abaixo do esperado, caso evidente do Guns N’ Roses, mas também de nomes atrapalhados por problemas no som, como Iron Maiden e Avril Lavigne.

De modo geral, esses dias de festival capturaram o melhor e o pior do Rock in Rio —estiveram por lá shows históricos, defeitos técnicos e má distribuição dos artistas pelos palcos. E também a tensão política, dissolvida no ar, mas sempre presente, tentando não desvirtuar o propósito musical do evento, o que poderia até gerar denúncias de candidatos ofendidos ou contrariados por desrespeito à lei eleitoral.

Usando adesivos e adereços políticos aqui e ali, o público transformou em hit ofensas a Jair Bolsonaro, do Partido Liberal, e entoou coros de "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula", sobretudo em concertos brasileiros. O principal foi o de Ivete Sangalo, que entrou na roda e disse que é preciso mudar tudo nas eleições.

Enquanto seus fãs gritavam contra Bolsonaro, ela afirmou que o Brasil "merece continuar sendo livre e conhecido como país da alegria, educação e arte."

Mas, apesar de recorrentes, os gritos nem sempre ganhavam a atenção de quem estava sobre o palco. O show dos Racionais MCs, por exemplo, esteve costurado de referências políticas, abordando o genocídio negro, mas os rappers não reagiram a coros eleitoreiros.

Glória Groove tampouco esboçou reações aos protestos políticos da plateia. A cantora, que no Lollapalooza deste ano apareceu com um maiô em referência a Lula, ignorou desta vez os chamados dos fãs.

Por outro lado, Criolo falou sobre "celebrar um novo amanhã", Djavan pediu paz e se posicionou contra "coisas esquisitas que tomaram a nossa vida" e Duda Beat disse que o país tem uma "chance de recomeçar" no mês que vem, em referência às eleições.

Tudo isso foi temperado pelos comentários de Roberto Medina e de sua filha, Roberta, responsáveis pelo festival, que tentaram pôr panos quentes e definiram o evento como espaço de união, refutando atos políticos e dizendo que a "música não tem lado".

O rapper Matuê talvez seja quem mais tenha fugido da discrição desejada pelo comando do festival. Ele exibiu uma foto do presidente em chamas, com os dizeres "fora, Bolsonaro", num show lotado do início ao fim. Ainda ergueu um skate com os dizeres "fora, Bozo". Já Emicida fez graça pedindo aos fãs que gritassem mais alto porque não conseguia ouvir o coro contra o presidente e falou sobre as eleições.

Houve também atos políticos instrumentais. Formado por filho e netos de Gilberto Gil, o trio Gilsons fez um arranjo de "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula". Protestos parecidos foram vistos com Ratos de Porão e Maria Rita, que fez um show todo vermelho, a cor do Partido dos Trabalhadores. Nem os nomes internacionais escaparam, embora as manifestações tenham sido mais discretas entre eles.

O Living Colour, que fez um show interessante, levantou cartaz em defesa da democracia. Já o Green Day, que teve uma das performances mais elogiadas de todo o festival, substituiu uma parte da letra de "Holiday", em que critica o governador da Califórnia, por uma crítica indireta a Bolsonaro.

Os únicos gritos a favor do presidente presenciados pela reportagem em todo o Rock in Rio surgiram durante o show do Iron Maiden. Enquanto fãs gritavam contra o mandatário, uma fatia do público puxou gritos de "mito", mas não contagiou as massas.

Se foi difícil passar ileso pela política, quem esperava ouvir boa música teve algumas gratas surpresas. Foram os casos de Green Day e de Coldplay, que geraram verdadeiro estado de êxtase na multidão.

Uma das performances mais elogiadas deste domingo, dia 11, foi a de Ludmilla, que lotou o palco Sunset e colocou todo mundo para rebolar com "Favela Chegou" e "Verdinha" e convidou as cantoras Tati Quebra Barraco, MC Soffia, Majur e Tasha e Tracie.

Mas as decepções também foram grandes. O Guns N’ Roses surgiu com Axl Rose fazendo força para cantar, longe do desempenho vocal de outras épocas —tanto que pediu desculpas depois pela performance. Post Malone se esforçou, mas encontrou dificuldades na chuva forte que caía.

Já Billy Idol esqueceu a letra de seu hit "Eyes Without a Face", num momento que virou meme e gerou vergonha alheia a quem assistia ao músico. O Iron Maiden até foi bem no palco, mas os problemas no som atrapalharam a experiência da maioria dos fãs.

Por mais de meia hora, muitos vaiaram o volume baixo que vinha do palco e gritavam pedindo que o som ficasse mais alto. Só decolou perto do fim. O mesmo ocorreu com alguns nomes que atraíram muita gente e pareceram mal escalados em relação aos palcos escolhidos.

Avril Lavigne cantou para mais gente do que cabia no Sunset, fazendo com que pessoas fossem retiradas ao passarem mal, com o som que tampouco deu conta. O MC Poze do Rodo também reuniu uma multidão que teve dificuldades em ouvir e ver o funkeiro no palco Supernova.

Matuê não chegou a causar transtornos de superlotação, mas teve um público gigante, o que também foi visto com Racionais, Luísa Sonza, Jão, Ludmilla, Papatinho com L7nnon e Hariel, que poderiam estar em espaços maiores.

Enquanto isso, outros artistas que se apresentaram no palco Mundo, um dos mais nobres, não atraíram plateias tão numerosas —foram os casos de Iza e Alok, por exemplo, além do Dream Theater. Mas talvez Justin Bieber tenha sido a grande metáfora agridoce do Rock in Rio deste ano. Por causa do estado de saúde debilitado do músico, o público só teve certeza de que a apresentação de fato ocorreria quase na hora em que ele finalmente subiu ao palco.

Superando as baixas expectativas, o canadense se entregou, cantou hits e interagiu com os seus fãs. As redes o acusaram de usar playback, mas essa não foi a sensação no Parque Olímpico. Quem estava lá dançou —e aplaudiu.

O melhor do festival

Green Day
As rodinhas de bate-cabeça não cessaram um minuto

Coldplay
Show de luzes e espetáculo emocionante

Ivete Sangalo
Fez um Carnaval para um público animado

Papatinho e L7nnon
Mostraram que o funk funciona no Rock in Rio

Demi Lovato
Rock direto para roqueiro nenhum botar defeito

Ludmilla
Fez um show histórico, com pop, pagode lésbico e funk


O pior do festival


Guns N’ Roses
A cada agudo de Axl Rose que não saía, um fã deixava o Parque Olímpico

Avril Lavigne
Ela se esforçou, mas o som baixo a impediu de chegar aos ouvidos dos fãs

1985, A Homenagem
Até agora a reportagem não conseguiu entender o conceito deste show

Marshmello
Músico se esqueceu de que tinha uma multidão para entreter

Billy Idol
Tropeçou nos versos de um de seus maiores hits

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