Defesa da democracia encerra série Perguntas sobre o Brasil

26º debate do ciclo reuniu embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos, e professor da Universidade de Lisboa Alaor Carlos Lopes Leite

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Belo Horizonte

"Portugal esteve, está e estará ao lado do Brasil na democracia e na liberdade", disse o embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos, convidado do 26º e último diálogo do ciclo Perguntas sobre o Brasil, que teve início em setembro de 2022.

Norteado por duas questões principais –O Brasil precisa de Portugal? Portugal precisa do Brasil?–, o debate da última quarta (10) foi marcado por afirmações de defesa do regime democrático nos dois países, levando em consideração os marcos de um ano dos ataques golpistas do 8 de Janeiro, lido como "um teste de resiliência" pelos participantes, e de 50 anos da Revolução dos Cravos, que encerrou a ditadura salazarista em 25 de abril de 1974.

a foto mostra, em destaque, o rosto de luís faro ramos. ele é um homem branco de cabelos grisalhos
O embaixador de Portugal no Brasil, Luís Felipe Melo e Faro Ramos - Isac Nóbrega/PR/Isac Nóbrega - 07.jan.21/PR

"Foi muito importante ter havido uma reação praticamente instantânea de vários países estrangeiros, inclusive o meu [Portugal], dizendo que não havia qualquer dúvida sobre qual lado nós estávamos", afirmou o embaixador a respeito do 8 de Janeiro.

Realizado pelo Centro de Pesquisa e Formação (CPF) do Sesc São Paulo, pela Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA) e pela Folha, o diálogo contou ainda com Alaor Carlos Lopes Leite, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. O debate foi mediado por José Manuel Diogo, presidente da APBRA e colunista da Folha.

"Há algum tempo, o Brasil enfrenta, assim como Portugal, os dilemas que a desinformação massiva pode causar para o regime democrático", disse Leite. "Como é que podemos desperdiçar a chance de, partilhando a mesma língua e tendo ocorrido esse providencial encontro histórico entre as nações, aprender a viver em liberdade juntos?"

José Manuel Diogo lembrou que, atualmente, muitos setores da nação ibérica contam com "uma presença incontornável de brasileiros", situação que ajuda a enfrentar os problemas demográficos do país europeu. "Portugal é hoje um destino natural para quem está no Brasil", disse, comparando esta migração com aquela que, décadas atrás, impulsionou o desenvolvimento do Sudeste brasileiro com a força de trabalho da população nordestina.

"Portugal precisa do Brasil por inúmeras razões", concordou Faro Ramos. "O Brasil dá escala a Portugal e engrandece o país pelo mundo afora."

Para ilustrar seu argumento, o embaixador destacou pelo menos quatro áreas em que essa relação pode ser potencializada: língua, segurança, saúde e educação. Especialmente num cenário de crescimento do investimento brasileiro em Portugal e de fortalecimento das relações institucionais entre os dois países.

Nesse contexto, é possível citar o convite do Brasil para que Portugal atue, ao longo deste ano de 2024, como observador do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo, e as visitas oficiais de seus mandatários. O presidente português Marcelo Rebelo de Sousa participou da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista, por sua vez, priorizou Portugal como um dos primeiros destinos de suas viagens internacionais, em abril de 2023.

"Se essa relação, aqui e ali, encontrou pontos de maior contato e arrefecimento, é preciso, nesse momento histórico, reavivar essa chama, recordar que o que nos une é algo mais profundo, e não uma aliança contingencial ou um acerto geopolítico", complementou Leite.

Para o professor, a cultura se firma como um elemento eficiente para manter essa "chama acesa", mais até do que a política e a economia. "Isso me faz crer que esse encontro ao nível cultural deve, sobretudo, cultivar o regime de liberdades conquistado nos dois países", afirmou.

Transmitido pelos canais do Sesc São Paulo, do Diário de Coimbra e da APBRA no Youtube, a última edição do ciclo de diálogos continua disponível na íntegra online. Assista abaixo.

Ao longo de um ano e cinco meses, a série Perguntas sobre o Brasil discutiu temas como o baixo crescimento da economia do país, os efeitos da ditadura militar nos dias de hoje, a importância das cotas raciais, o descaso com a Amazônia e o movimento tropicalista. Também abordou a influência da obra de autores como Carolina de Jesus e Jorge Amado.

O ciclo se inspirou na lista elaborada pelo projeto 200 anos, 200 livros, que reuniu duas centenas de obras importantes para entender o Brasil a partir da indicação de 169 intelectuais.

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