Comento o caso da professora que ganha R$ 13 mil, mas se perdeu nas dívidas

Endividar-se acima da capacidade de pagamento ocorre até mesmo com empresas conduzidas por executivos preparados

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Sou professora de Instituto Federal há 11 anos e, desde os primeiros anos, minha vida financeira vai mal. Sempre estive endividada. Apesar de ter uma renda suficiente para me sustentar, boa parte de meu salário sempre ficou nos bancos com esses empréstimos. Meu salário bruto é R$ 13 mil e eu recebo R$ 5.700, graças aos consignados e impostos retidos na fonte. Não sei como faço para sair desse ciclo.

Inaê

professora

Só há uma coisa pior do que não conseguirmos alcançar nossos sonhos: ter de devolvê-los. Essa é uma das atitudes que Inaê deve tomar para superar as dificuldades e ter a chance de recuperá-los.

Segundo a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), cerca de 77% das famílias brasileiras estão endividadas. Desse total, 12,5% das famílias dizem não ter condição de pagar suas dívidas. Esse é o caso da professora Inaê.

Ela é funcionária pública e desde cedo buscou o endividamento financeiro como forma de antecipar seus sonhos.

Antecipação de sonhos leva professora à recuperação judicial - Sheremetio/Adobe Stock

Atualmente, mais da metade de sua renda já está comprometida com empréstimos consignados. Com a impossibilidade regulatória de contrair ainda mais créditos consignados, ela passou a usar fontes de financiamento mais caras, como cartão de crédito e empréstimos pessoais para suprir seus desejos.

As dívidas se acumularam, se tornaram insustentáveis e, nesse momento, ela confessa: "Não sei como faço para sair desse ciclo. Estou inclusive em recuperação judicial e, por outro lado, sendo processada pelo banco, por conta de empréstimos pessoais e cartão de crédito que não consigo pagar e estão se acumulando em juros há um ano e meio. O que devo fazer?".

Calcule o que falta para sua independência financeira

Endividar-se acima da capacidade de pagamento é algo que ocorre até mesmo com empresas conduzidas por executivos altamente preparados.

O primeiro passo para não cair na armadilha do endividamento é aprender a controlar o impulso.

A maioria das compras é feita por impulso. Costumo dizer que "vontade é aquilo que dá e passa". Se esperarmos a vontade passar, o consumo não é feito e não se cai na armadilha do endividamento. Simples de ser dito, mas sei da dificuldade de executar, e muitos não conseguem.

Entretanto, assim como existe solução para empresas em situação de endividamento extremo, também há para pessoas físicas.

O mercado corporativo ensina a lidar com isso. Há quatro atitudes que as empresas adotam e que Inaê deve executar. Listo estas ações adaptando-as ao caso da professora:

  1. Renegociação das dívidas: Inaê deve buscar com seus credores uma readequação de prazo, taxa e montante de forma que algum pagamento seja possível. Quem emprestou correu um risco e os credores preferem receber menos a não receber nada. Portanto, a renegociação é parte da solução para ambos os lados;
  2. Corte de despesas: A professora deve revisitar sua planilha de gastos e cortar ao máximo seus custos. O primeiro passo é listar todas as despesas e manter apenas o que é realmente fundamental. Será preciso entender que seu padrão de vida vai cair fortemente. Esta queda é temporária, mas necessária para que ocorram mudanças de hábitos e sobrem recursos para honrar a renegociação das dívidas;
  3. Venda de ativos: Deve ser avaliada a venda de muitos dos sonhos que foram antecipados. Principalmente aqueles que ainda carregam dívidas, como carro, eletroeletrônicos, celular, vestuário, acessórios e outros. A venda deve ser avaliada para qualquer bem que possa ser transformado em dinheiro;
  4. Elevação de receita: Por fim, a professora deve analisar formas de elevar sua receita atual. Por exemplo, dentro de sua linha de atuação, ela pode lecionar aulas de reforço nas horas vagas que antes eram destinadas para lazer ou descanso. Sim, seu tempo é um dos seus maiores ativos e se você souber vender bem este ativo, poderá até dobrar sua receita mensal. No início de minha carreira, eu praticamente dobrava o salário que eu ganhava do banco dando aulas à noite e nos fins de semana. Assim como no corte de despesas, o sacrifício no início será maior, mas o benefício será duplo. Ocupando suas horas vagas, você vai ganhar mais e ainda deve economizar, pois sofrerá menor tentação com impulsos de compras.

Segundo Inaê, a situação em que ela se encontra hoje é consequência de 11 anos de descuido com suas finanças. Portanto, também vão ser necessários alguns anos para readequar suas dívidas e retomar seu padrão de vida.

A velocidade estará diretamente relacionada ao esforço imposto em cada uma das quatro ações listadas acima.

Sem dúvida, todo o esforço será recompensador, pois os problemas financeiros acabam contaminando nossa vida pessoal, nossa família e até mesmo nossa saúde.

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