Descrição de chapéu Financial Times Estados Unidos

Quem é a empresa que fabrica a tampa da porta de avião que se soltou em pleno voo

Spirit AeroSystems fornece fuselagens para Boeing e Airbus, sendo uma das maiores do mundo

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Sylvia Pfeifer Claire Bushey
Londres e Chicago (EUA) | Financial Times

O incidente envolvendo o Boeing 737 Max 9 que perdeu a tampa da porta em pleno voo da Alaska Airlines, na última sexta-feira (5), colocou os holofotes sobre a Spirit AeroSystems, um dos maiores fornecedores do fabricante de aviões.

A empresa, que construiu o painel da porta que se soltou do avião da Alaska na sexta-feira, é um dos maiores responsáveis por instalar estruturas de aeronaves do mundo, construindo fuselagens do 737 Max e outros componentes para a Boeing e para seu rival europeu Airbus.

A porta de 27 kg e quatro pés de comprimento (cerca de 1,2m de comprimento) foi localizada no subúrbio de Portland (EUA), na noite de domingo (7).

Série de fuselagens para o avião Boeing 737 Max são vistos em pátio da Spirit AeroSystems, em Wichita, nos Estados Unidos
Fuselagens do Boeing 737 Max são fabricados pela Spirit AeroSystems, em Wichita, nos Estados Unidos - Nick Oxford - 17.dez.2019 / Reuters

Especialistas técnicos do Conselho Nacional de Segurança dos Transportes (NTSB, da sigla em inglês), a agência governamental independente dos EUA responsável por investigar acidentes de transporte civil, examinarão cada centímetro da porta em busca de pistas.

As ações da Spirit caíram 7% na segunda-feira (8), o primeiro dia de negociação desde o incidente. A empresa também emitiu seu primeiro comunicado, enfatizando que seu "foco principal" era a "qualidade e integridade do produto das estruturas de aeronaves que entregamos" e que continuava trabalhando com a Boeing na investigação do ocorrido na sexta-feira.

"O maior programa da Spirit é o 737, então o que é ruim para o 737 é ruim para a Spirit —não há como contornar isso", disse Sash Tusa, analista da Agency Partners.

Tampa de porta de avião da Alaska Airlines que se soltou em pleno voo é encontrada em Portland, nos Estados Unidos
Tampa de porta de avião da Alaska Airlines que se soltou em pleno voo é encontrada em Portland, nos Estados Unidos - Divulgação/NTSB/Reuters

Especialistas em aviação afirmaram que ainda é cedo para chegar a conclusões sobre o que levou ao acidente com o 737 Max 9, observando que ainda não está claro se a explosão foi um erro de montagem da Boeing, um problema de fabricação da Spirit ou uma outra falha.

A Boeing, citando a investigação em andamento, se recusou a comentar se as portas plug-in instaladas pela Spirit foram então removidas pelo fabricante de aviões em sua instalação fora de Seattle para completar a cabine antes de serem reinstaladas durante a montagem final.

A Spirit foi uma subsidiária da Boeing em Wichita, localizada no coração do centro aeroespacial do Kansas e o maior empregador privado do estado. Ela se separou da Boeing em 2005, quando a companhia aérea trocou os gastos fixos de suas instalações de fabricação e mão de obra para o custo variável de adquirir peças de um fornecedor.

A Spirit produz a fuselagem para o Boeing 737 Max e componentes da fuselagem e asa para o 787 de corpo largo usado em voos de longa distância. Ela também constrói estruturas para aeronaves da Airbus, incluindo peças para o A350 e A320. Ela constrói as asas para o jato A220 em Belfast, Irlanda do Norte.

Furos errados, instalação incorreta e outros problemas

A relação da Spirit com a Boeing tem sido turbulenta e marcada por conflitos sobre preços e ações trabalhistas.

Mais recentemente, a relação tem sido tomada por problemas de produção que afetaram as entregas da Boeing aos clientes das companhias aéreas. Isso ocorreu enquanto o fabricante de aviões buscou aumentar sua taxa de produção e recuperar participação de mercado perdida para a Airbus durante a paralisação da frota Max em 2019 após dois acidentes envolvendo o Max 8 em um período de cinco meses, que matou mais de 370 pessoas.

Em abril do ano passado, a Boeing descobriu que a Spirit havia instalado incorretamente duas conexões no estabilizador vertical do 737, forçando o fabricante de jatos a atrasar as entregas aos clientes.

Quatro meses depois, surgiu um novo problema: furos perfurados incorretamente no painel traseiro de pressão para algumas fuselagens.

Os problemas de controle de qualidade e a inflação crescente custaram à Spirit e levaram a uma redução em seus contratos de preço fixo, segundo analistas. O fornecedor não obtém lucro desde 2019, antes da pandemia de Covid-19, registrando um prejuízo líquido de US$ 546 milhões em 2022 em vendas que superaram US$ 5 bilhões.

Em outubro, o CEO da Spirit, Tom Gentile, deixou o cargo abruptamente e foi substituído interinamente por Patrick Shanahan, que trabalhou 31 anos na Boeing e foi secretário de Estado de Defesa na administração Donald Trump. Shanahan já renegociou um acordo com a Boeing para dar à Spirit melhores preços por seu trabalho nos aviões 737 e 787. Após o incidente de sexta-feira, a United Airlines e a Alaska Airlines realizaram inspeções em aviões 737 Max 9 e encontraram parafusos e outros componentes soltos nos painéis de fuselagem.

O acordo inclui a exigência que a Spirit aumente a equipe de engenharia e controle de qualidade e mantenha estoque de segurança, "incluindo duas semanas de produtos acabados para o funcionamento do 737". Também diz que a Boeing deve concordar com qualquer "mudança de controle" na empresa —proteção para o fabricante de aviões no caso de a Spirit se tornar alvo de compra por outra empresa.

Analistas disseram que o relacionamento de Shanahan com o fabricante de aeronaves já se mostrou crítico e pode ser crucial agora.

"Ter Pat assumindo o comando e, em seguida, obter aquele novo acordo com a Boeing, aproximou ainda mais as duas empresas. Acho que isso deve ajudar a Spirit a resolver seus programas da Boeing", disse Rob Stallard, analista da Vertical Research Partners.

"A primeira prioridade de Pat —corretamente— era renegociar os contratos-chave entre a Spirit e a Boeing. Por muito tempo, a adoração da Boeing pelos retornos sobre investimento ou ativos significava prejudicar tudo, incluindo fornecedores e mão de obra", disse Richard Aboulafia, diretor administrativo da Aerodynamic Advisory.

Outros disseram que ter Shanahan como CEO interino também ajudará as duas empresas a lidarem melhor com a crise atual.

"Não apenas deve ajudar a Spirit. Reforça a confiança que a Boeing deve ter na Spirit", disse Scott Hamilton, da consultoria de aviação Leeham News. "Shanahan é um cara direto que conhece produção e, o que é importante, conhece a Boeing —e a Boeing o conhece."

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