Descrição de chapéu América Latina

Livro de correspondente da Folha explora América Latina em ebulição e durante pandemia

Sylvia Colombo traça um panorama da região, com foco em Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia e Venezuela

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São Paulo

No Chile, as manifestações começaram devido ao aumento da tarifa do metrô de Santiago. No Equador, o estopim foi o fim dos subsídios para a gasolina. No Peru, os atos eram contra a corrupção, enquanto na Venezuela o alvo era o ditador Nicolás Maduro. Já os bolivianos estavam divididos: uma parte estava na rua contra Evo Morales, e a outra, a favor dele.

Esses são alguns dos exemplos da onda de protestos que explodiu na América Latina há dois anos, em um sinal de que existia um sentimento generalizado de descontentamento popular.

Em 2020, a região —assim como o resto do mundo— seria sacudida de novo, dessa vez pela pandemia de coronavírus. Correspondente da Folha em Buenos Aires desde 2016 (e, anteriormente, de 2011 a 2013), Sylvia Colombo se debruça sobre esse cenário para tentar entender a situação atual da América Latina em seu novo livro, “O Ano da Cólera” (ed. Rocco).

Com evento virtual de lançamento marcado para a próxima quinta-feira (29), a obra traz um panorama dos protestos e acontecimentos políticos recentes na região, traça uma análise histórica das causas da insatisfação popular e mostra o impacto da crise sanitária da Covid-19.

Tudo isso é feito com foco nas diferenças e particularidades de cada país, sem tratar a América Latina como um bloco monolítico. “Uma análise que coloca todo mundo junto, como se a América Latina fosse uma coisa só, é preconceituosa e preguiçosa”, afirma ela, que é formada em história pela USP. “Por exemplo, não dá para falar da Bolívia e do Equador do mesmo jeito que se fala da Argentina e do Uruguai, por causa da questão indígena.”

Assim, o livro foi dividido em sete partes. Na primeira e na última, Sylvia faz uma análise mais geral dos acontecimentos em toda a região, mostrando o que há de comum. Já os cinco capítulos do meio são dedicados aos diferentes países (Chile, Venezuela, Bolívia, Uruguai e Argentina). Essa solução permite à autora detalhar as características sociais, históricas e políticas específicas de cada lugar.

No caso chileno, por exemplo, a jornalista volta até o golpe de 1973, que derrubou o governo de Salvador Allende e instituiu a ditadura militar. De lá, ela mostra como o regime de Augusto Pinochet criou uma Constituição que não atendeu às demandas sociais, em uma crescente que leva aos protestos de 2019 —os chilenos aprovaram no ano passado a convocação de uma Constituinte para fazer uma nova Carta.

Na parte sobre a Venezuela, a autora também vai ao passado para mostrar como o antigo sistema bipartidário atendia apenas aos anseios da elite econômica e política, o que criou o cenário para o surgimento de Hugo Chávez —e como o país se transformou desde a chegada dele ao poder, em 1999, até a situação atual sob Nicolás Maduro.

A estrutura de volta no tempo também aparece nos capítulos sobre Argentina (com destaque para Maurício Macri e para o kirchnerismo), sobre a Bolívia de Evo Morales e da questão indígena e sobre os motivos de o Uruguai ter virado modelo de estabilidade para a região.

A essa análise histórica e política Sylvia acrescenta ainda um tempero local, com histórias que viveu ou apurou durante suas viagens recentes a esses locais —muitas das quais permeadas pela maneira com que cada país enfrenta a disseminação do coronavírus.

O projeto inicial, inclusive, não incluía a pandemia e teria como foco apenas os protestos que marcaram a região em 2019. Mas a crise sanitária foi inescapável porque acabou se entrelaçando ao pano de fundo que já fervia na região. “A América Latina é um continente com muitas comorbidades. É uma região com muita desigualdade, muita pobreza, muito trabalho informal”, diz a autora. “O coronavírus mostrou que esses problemas não podem ser encobertos e que, em muitos casos, eles se agravaram. O que leva a gente a pensar que, talvez, quando essa tormenta passar, essas demandas voltem à tona.”


Qual a situação nos principais países retratados no livro

Argentina Mauricio Macri perdeu a reeleição em outubro de 2019 para a chapa de centro-esquerda formada por Alberto Fernández, eleito presidente, e pela vice Cristina Kirchner

Bolívia Evo Morales tentou obter um quarto mandato nas eleições de outubro de 2019. O pleito teve denúncias de fraude, Evo renunciou e deixou o país após pressão dos militares. Jeanine Añez assumiu como presidente interina e governou até novembro de 2020, quando novas eleições definiram Luis Arce, aliado de Evo, como novo presidente. Añez foi presa em março de 2021, acusada de golpismo

Chile Uma onda de protestos eclodiu no país em 2019 depois que o governo tentou aumentar a tarifa do metrô da capital, Santiago. As manifestações acabaram levando à convocação de uma Assembleia Constituinte, que deve ser eleita em maio para escrever a nova Constituição do país

Uruguai Luis Lacalle Pou, de centro-direita, foi eleito presidente em novembro de 2019 e colocou fim a uma sequência de três governos da Frente Ampla, de centro-esquerda

Venezuela Em 2019, Juan Guaidó, então chefe do Legislativo, proclamou-se presidente interino do país e tentou, com apoio internacional, remover o ditador Nicolás Maduro, mas fracassou. O regime resistiu à pressão com apoio da cúpula do Exército, mesmo em meio a uma grande crise econômica

O Ano da Cólera: Protestos, Tensão e Pandemia em 5 Países da América Latina

  • Preço R$ 54,90 (256 págs.)
  • Editora Rocco
  • Autora Sylvia Colombo
  • Lançamento Bate-papo virtual com a autora acontece às 15h da próxima quinta (29); com transmissão pelo Instagram da editora

Capa do livro 'O ano da cólera", de Sylvia Colombo
A capa do livro - Divulgação
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