Inteligência dos EUA ajuda Ucrânia a matar generais da Rússia, dizem autoridades

Fontes dizem que Washington fornece a Kiev dados em tempo real; naufrágio de navio também teria tido participação americana

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Washington | The New York Times

Os Estados Unidos forneceram informações que permitiram que os ucranianos atacassem e matassem muitos generais russos na Guerra da Ucrânia, disseram autoridades americanas.

A colaboração faz parte de um esforço secreto do governo de Joe Biden para fornecer à Ucrânia dados de inteligência em tempo real sobre o campo de batalha. As informações —obtidas a partir do acesso recente dos EUA ao plano de batalha secreto de Moscou para os combates na região de Donbass, no leste ucraniano— incluem a antecipação de movimentos das tropas russas.

FILE Ñ A Ukrainian soldier looks over the wreck of a Russian tank that became stuck in the mud near the village of Zavorychi, Ukraine, April 5, 2022. The United States has provided intelligence that has helped Ukrainians target and kill many of the Russian generals who have died in action in the Ukraine war, according to senior American officials. (Daniel Berehulak/The New York Times)
Soldado ucraniano olha para tanque russo preso na lama - Daniel Berehulak - 5.abr.22/The New York Times

Oficiais ucranianos afirmam ter matado 12 generais nas linhas de frente, número que surpreendeu analistas militares. As fontes, que falaram ao New York Times sob a condição de anonimato por apresentarem detalhes de inteligência sigilosa que está sendo compartilhada com a Ucrânia, não quiseram especificar quantos morreram como resultado da assistência de Washington.

Os EUA se concentraram em fornecer a localização e outros detalhes sobre o quartel-general móvel dos militares russos, que se deslocam com frequência. Autoridades ucranianas combinaram essas informações geográficas com as de sua própria inteligência –incluindo comunicações interceptadas que alertam os militares ucranianos sobre a presença de oficiais russos de alto escalão– para realizar ataques de artilharia que mataram oficiais de Moscou.

O compartilhamento de inteligência faz parte de um fluxo mais intenso de ajuda dos EUA, que inclui armas mais pesadas e dezenas de bilhões de dólares, demonstrando que as restrições iniciais de Biden a apoiar a Ucrânia mudaram rapidamente à medida que a guerra entra em uma nova etapa que pode durar meses.

Esse apoio americano teve um efeito decisivo no campo de batalha, confirmando alvos identificados por militares ucranianos e apontando novos alvos. Na noite desta quinta (5), a rede NBC News noticiou que a operação que terminou com o naufrágio do navio de guerra russo Moskva, no último dia 14, também teve participação da inteligência dos EUA.

O relatório de Washington teria apenas identificado o navio e sua localização, com a ordem de lançar os mísseis tendo partido exclusivamente de Kiev —Moscou alega que o afundamento se deu devido a um incêndio, não por um ataque ucraniano.

O fluxo de informações práticas que os EUA deram à Ucrânia sobre a movimentação das tropas russas tem poucos precedentes.

Desde que não conseguiu avançar sobre Kiev, a capital, no início da guerra, a Rússia tentou se reagrupar, com um esforço mais concentrado no leste da Ucrânia, que até agora avançou de forma lenta e desigual.

O governo Biden tem procurado manter em segredo grande parte das informações do campo de batalha, com medo de que a operação seja vista como uma escalada e leve o presidente russo, Vladimir Putin, a ampliar o escopo da guerra.

As autoridades americanas entrevistadas não descreveram como adquiriram informações sobre o quartel-general das tropas russas, por medo de colocarem em risco seus métodos de captação. Mas durante a guerra as agências de inteligência de Washington usaram diversas fontes, incluindo satélites comerciais e sigilosos, para rastrear os movimentos das tropas russas.

O secretário da Defesa, Lloyd Austin, chegou a dizer no mês passado que os EUA querem "ver a Rússia enfraquecida a ponto de que não possa fazer o tipo de coisa que fez ao invadir a Ucrânia".

Questionado sobre a inteligência fornecida aos ucranianos, John Kirby, porta-voz do Pentágono, afirmou que não falaria "sobre os detalhes dessa informação". Mas reconheceu que os EUA fornecem à Ucrânia "informações de inteligência que eles podem usar para se defender".

Depois que esta reportagem foi publicada, Adrienne Watson, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, disse em comunicado que a inteligência do campo de batalha não foi fornecida aos ucranianos "com a intenção de matar generais russos".

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, questionado sobre a apuração do New York Times, disse que as forças russas "sabem que EUA, Reino Unido e Otan estão constantemente repassando relatórios de inteligência à Ucrânia". Ele admitiu que esse auxílio, aliado ao fornecimento de armas, freia a ofensiva de Moscou, "mas não é capaz de impedir o cumprimento das metas".

Os EUA fornecem rotineiramente informações sobre o movimento de tropas e equipamentos russos e ajudam a Ucrânia a confirmar a localização de alvos críticos. Outros aliados da Otan (aliança militar ocidental) também fornecem inteligência em tempo real aos militares ucranianos.

O governo Biden está enviando novos armamentos. A versão menor do drone Switchblade, que está chegando agora ao front, pode ser usada para identificar e matar soldados específicos, como um general que esteja sentado em um veículo ou dando ordens na linha de frente.

Embora Washington mantenha a cautela para não inflamar Putin a ponto de ele intensificar seus ataques, autoridades militares atuais e antigas disseram à reportagem que a Casa Branca acha válido alertar a Rússia de que a Ucrânia tem por trás o peso dos EUA e da Otan.

Europeus acreditam que, apesar da retórica de Putin de que a Rússia está lutando contra a Otan e o Ocidente, ele até agora foi impedido de iniciar uma guerra mais ampla. Os americanos têm menos certeza disso e discutem há semanas por que Putin não fez mais para escalar o conflito. Eles disseram que Moscou tem seus próprios cálculos para avaliar se pode lidar com uma guerra maior, particularmente uma que permitiria à Otan invocar sua carta de defesa mútua ou entrar na guerra mais diretamente.

"Claramente, queremos que os russos saibam em algum nível que estamos ajudando os ucranianos e continuaremos a fazê-lo", disse Evelyn Farkas, ex-funcionária do Departamento de Defesa ligada à Rússia e à Ucrânia no governo Obama. "Vamos dar a eles tudo de que precisam para vencer, e não temos medo da reação de Vladimir Putin. Não seremos autodissuadidos."

O compartilhamento de inteligência é considerado uma forma segura de ajuda porque é invisível ou, pelo menos, pode ser negada.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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