Descrição de chapéu China Coronavírus

'Turistas de vacinas' da China viajam a Macau para se imunizar contra a Covid

Explosão de casos e proibição de fórmulas ocidentais mais eficazes levam chineses ricos a buscar alternativas

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Gloria Li Chan Ho-Him Eleanor Olcott
Hong Kong e Tóquio | Financial Times

Chineses do continente ansiosos para conseguir vacinas ocidentais de RNA mensageiro em vez dos imunizantes de fabricação nacional estão indo para Macau, onde lotaram o único hospital que oferece esses fármacos para turistas.

Pequim não aprovou nenhum imunizante estrangeiro contra a Covid-19 para uso em seus cidadãos. Em vez disso, utiliza aqueles fabricados pelos grupos chineses Sinovac e Sinopharm. Analistas afirmam que esses produtos fornecem níveis de imunidade mais baixos do que as alternativas ocidentais, que usam a tecnologia conhecida como mRNA.

Duas turistas mulheres andam com malas por uma rua, que fica no centro histórico de Macau
Turistas andam com malas no centro histórico de Macau - Eduardo Leal -10.out.2022/AFP

Mas uma reviravolta abrupta de Pequim neste mês em sua antiga política de Covid zero provocou uma explosão de casos e um aumento no número de habitantes da China continental que buscam vacinas de mRNA em Macau. A ex-colônia portuguesa e região administrativa especial é o único local fora da China continental para onde os cidadãos do país podem ir sem terem de fazer quarentena ao voltar.

As vagas de vacinação foram rapidamente esgotadas, pois o surto da China ficou fora de controle. Em outubro, Ivy, 27, uma moradora de Dongguan, do outro lado da fronteira, na China continental, recebeu sua primeira dose de mRNA no Hospital de Ciência e Tecnologia da Universidade de Macau, único local que administra vacinas para turistas pagantes.

Na semana passada, ela voltou para outra dose, mas descobriu que os horários de vacinação estavam lotados até o final de dezembro.

Um funcionário do atendimento ao cliente no hospital de Macau disse que seu telefone tocava "sem parar" desde que o surto começou a ganhar força na China, no início de dezembro. Ele também observou, entretanto, que houve um aumento de clientes que cancelaram horários após pegarem o vírus.

A cobertura de vacinação desigual na China lançou as bases para o caos que domina seu sistema médico, enquanto os hospitais ficaram sobrecarregados com pacientes doentes após o fim da política de Covid zero, segundo analistas.

Cerca de 85 milhões de pessoas —um terço dos 267 milhões de cidadãos chineses com 60 anos ou mais– não receberam uma terceira dose de vacina necessária para um alto nível de proteção contra a variante ômicron do coronavírus. Entre aqueles com 80 anos ou mais, essa taxa é de cerca de 60%, ou 21 milhões de pessoas.

Pequim prometeu dedicar mais recursos para preencher as lacunas na cobertura vacinal.

Mas Yanzhong Huang, pesquisador-sênior de saúde global do centro de estudos do Conselho de Relações Exteriores, disse que esses esforços podem vir "tarde demais".

"Campanhas de reforço levam de três a quatro meses para serem concluídas. Nesse estágio, essa onda de vírus terá atingido o pico."

A ascensão do "turismo vacinal" estava sendo impulsionada por "ricos" habitantes do continente com acesso a estudos científicos que comparam a eficácia das vacinas, afirma Nicholas Thomas, professor associado da City University de Hong Kong especializado em política externa chinesa e segurança de saúde na Ásia.

Um estudo de Singapura publicado neste mês na Lancet descobriu que indivíduos que receberam três doses da Sinovac ou Sinopharm —baseadas em tecnologia mais antiga, que usa o vírus inativado para provocar uma resposta imune— tinham quase duas vezes mais risco de desenvolver Covid grave do que pessoas que receberam três doses de mRNA. Aquelas com as injeções chinesas também tinham 50% mais risco de ser hospitalizadas.

O negócio do turismo de vacinas em Macau rapidamente deu origem a intermediários que cobram taxas para organizar viagens e outras logísticas. Viola, uma agente de seguros baseada em Macau, disse ao Financial Times que cobra US$ 60 para organizar sessões de vacinação para seus clientes do continente.

Um consultor administrativo de 27 anos, que se identificou apenas como Wan, e sua mulher pagaram US$ 170 cada um (R$ 898) por uma dose da vacina de mRNA depois de decidirem não serem imunizados com alternativas domésticas.

O consultor disse que o casal estava preocupado com a eficácia das vacinas chinesas e com a "falta de transparência sobre os dados do ensaio".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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