Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Prioridade de novo ministro da Defesa da Alemanha é decisão sobre tanques para Kiev

Boris Pistorius assume após conflito derrubar antecessora; Rússia aumentará Forças Armadas

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São Paulo

O governo da Alemanha escolheu um novo ministro da Defesa nesta terça (17) e informou que sua primeira decisão será acerca do fornecimento de tanques de guerra fabricados no país para a Ucrânia, que enfrenta a invasão da Rússia há quase 11 meses.

O social-democrata Boris Pistorius, político local da Baixa Saxônia conhecido por ser linha dura em segurança e imigração, substituiu a muito criticada Christine Lambrecht, que renunciou na segunda-feira.

Um tanque Leopard-2 da Finlândia durante exercício conjunto com a Otan no oeste do país
Um tanque Leopard-2 da Finlândia durante exercício conjunto com a Otan no oeste do país - Heikki Saukkomaa - 4.mai.22/Lehtikuva/AFP

"Há decisões importantes a serem tomadas a curto prazo, em particular a questão urgente de como nós vamos continuar a apoiar a Ucrânia em sua autodefesa", disse o ministro alemão Robert Habeck, da Economia. "A Alemanha carrega a responsabilidade aqui e tem tarefas vitais a cumprir."

Lambrecht deixou uma lista de lavandeira substancial na área de defesa: o fracasso em aplicar de forma coordenada os € 100 bilhões aprovados pelo governo do primeiro-ministro Olaf Scholz para o setor depois do início da guerra, a ineficácia das Forças Armadas e, mais urgente, a questão dos tanques.

Os alemães fabricam o Leopard-2, modelo mais amplamente utilizado na Europa —12 países operam cerca de 2.500 unidades. Com o temor das nações de ver sua defesa comprometida com o envio de veículos de combate para Kiev, a solução mais lógica é que todos forneçam um número compatível com sua frota.

O novo ministro da Defesa da Alemanha, o ex-ministro do Interior da Baixa Saxônia Boris Pistorius
O novo ministro da Defesa da Alemanha, o ex-ministro do Interior da Baixa Saxônia Boris Pistorius - Christof Stache - 1º.dez.22/AFP

O presidente Volodimir Zelenski pediu 300 tanques para conter as ofensivas russas no leste do país, que tiveram alguns sucessos após uma série de derrotas. Análise do IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos), de Londres, estima que cem blindados do tipo já teriam impacto na linha de defesa.

Berlim precisa dar o OK para que outros países enviem a terceiros material bélico comprado de empresas alemãs. Essa parece ser a parte fácil, apesar de toda a hesitação do governo de Scholz. O premiê será questionado sobre isso nesta quarta em Davos, na Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial.

Já a contribuição direta dos alemães é uma incógnita. Os candidatos naturais a fornecer mais blindados são países da Otan, o clube militar do Ocidente, ou seus aliados, com frotas maiores de Leopard-2 e mais próximos da área do conflito.

São eles Finlândia (200 tanques, 100 em estoque), postulante a membro da aliança, e os membros Polônia (347) e Alemanha (376, 55 em estoque, segundo o IISS, 22, de acordo com a fabricante Rheinmettal). Só que a própria fabricante disse que tanques em reserva na Alemanha precisariam de uma revisão e só poderiam ser entregues no começo de 2024, aumentando a pressão para o emprego de blindados ativos.

Isso é polêmico não só pela redução na capacidade de defesa, mas também porque sugere um envolvimento mais direto do que Berlim gostaria de ter na guerra. Desde o começo do conflito, o Ocidente vai subindo a barra das entregas de armas pouco a pouco, para protestos de Moscou, que sempre que pode saca a carta do risco de um conflito nuclear com a Otan.

Por pressão dos americanos, que entregaram mais do que a metade dos US$ 40 bilhões enviados em armas e ajuda militar em 2022 para Kiev, isso tem mudado —embora haja tabus, como o fornecimento de aviões de combate. Washington, Berlim e Paris prometem ceder blindados leves, e Londres anunciou a doação de um esquadrão de 14 tanques pesados Challenger-2.

Esse movimento britânico serviu para adicionar pressão sobre Berlim, como em outras ocasiões. Na sexta (20), tudo deverá ser decidido em um encontro da Otan na principal base americana na Alemanha, em Ramstein. A depender do pacote anunciado, será possível estimar o impacto da medida na guerra.

Os russos até aqui só mantiveram a retórica de que os envios não mudarão o curso da operação militar no vizinho. O porta-voz do Kremlin afirmou que os Challenger-2 irão "arder nos campos" ucranianos, mas só.

O país de Vladimir Putin iniciou nesta terça o programa de aumento de suas Forças Armadas —que tinha 900 mil integrantes no início de 2022, 10% a mais neste ano e, agora, quer chegar a 1,5 milhão até 2026.

Segundo o Ministério da Defesa, a prioridade será o uso de soldados profissionais, sob contrato, não conscritos. É uma forma de reduzir a impopularidade doméstica de medidas como a mobilização de 320 mil reservistas no fim do ano passado, que parece estar dando alguns frutos na frente de batalha.

O plano divulgado advoga uma reorganização estrutural, com a instalação de mais um corpo de Exército, reposicionamento de divisões e a criação de dois serviços de integração de braços diferentes das Forças. Não foi divulgado o custo da iniciativa.

A falta de mão de obra, além de erros táticos e problemas logísticos, custou a vitória que Moscou parecia prever para se dar em poucas semanas. A insuficiência crônica de soldados levou ao emprego de mercenários, como em Donetsk, no leste. A mobilização, avaliam analistas, poderá mitigar os problemas deste semestre —mas a guerra parece cada vez mais um elemento perene da paisagem política europeia.

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