Desde os primórdios, a história está repleta de atrocidades que foram cometidas em nome de Deus. Fundamentalistas da pior espécie se esconderam atrás de uma autoproclamada santidade, de uma alegada conexão com o divino e com o suposto dom de interpretar o sagrado para, vez ou outra, queimar pessoas vivas ou atirar aviões contra prédios.
Embora tenhamos avançado —em alguns lugares do mundo, infelizmente, não—, o Congresso Nacional brasileiro está prestes a produzir mais uma ignomínia nesse sentido.
Trata-se do projeto de lei para combater as fake news. Parte expressiva da bancada evangélica é contra mesmo tendo forçado o relator a colocar no texto a garantia "do livre exercício da expressão e dos cultos religiosos" e a "exposição plena dos seus dogmas e livros sagrados".
Fora as religiões de matriz africana, há alguma outra igreja no país que sofra alguma ameaça contínua contra sua existência, sua liberdade de expressão e de culto?
Não há. A única ameaça real é contra a odiosa pregação discriminatória contra homossexuais, já que a homofobia e a transfobia são crimes desde 2019 por decisão do Supremo Tribunal Federal.
Esses piedosos querem perpetuar o singelo direito de continuar semeando a homofobia em seu rebanho, o direito de discriminar e fazer discriminar milhões e milhões de seres humanos que serão punidos coletivamente pelo crime de ser o que são.
De quebra, vão continuar permitindo às big techs viverem livres de qualquer regra, como bem entenderem, a ponto de se sentirem à vontade para responder com emoji de cocô a perguntas jornalísticas.
Líderes evangélicos têm o dever de se opor abertamente a esse bafo medieval exalado por charlatães que se arvoram porta-vozes de milhões e milhões de crentes país afora.
O Estado, por sua vez, deve fazer valer o seu caráter laico, sedimentando de vez o princípio de que nenhum suposto escrito sagrado justifica discriminação e violência contra seres humanos.
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