Descrição de chapéu
Andrii Iermak

É chegada a hora de Brasil e Ucrânia se unirem

Para o futuro da democracia, ficar calado ou permanecer neutro não é opção

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Andrii Iermak

Chefe de gabinete da Presidência da Ucrânia

Desde pequeno, três assuntos me fazem lembrar do Brasil.

O primeiro é a bossa nova. Fiquei encantado na primeira vez em que ouvi "Garota de Ipanema". Segundo: o café. Quando a União Soviética estava nos seus últimos anos, bens que costumavam ser sinais de luxo ultrapassaram os limites da Cortina de Ferro. Forte e perfumado, tornou-se um ingrediente essencial no dia a dia dos ucranianos. O terceiro é, obviamente, o futebol. Dos lendários Pelé e Garrincha ao icônico Ronaldo.

Mas esses assuntos são para tempos de paz. Nestes dias turbulentos, tenho pensado em outro tema que me lembra o Brasil: a capoeira. Admiro a força daqueles que a criaram —pessoas que resistiram à escravidão. Desde a invasão ilegal da Ucrânia pela Rússia, tive a honra de conhecer pessoas igualmente heroicas.

O líder ucraniano, Volodimir Zelenski (à esq.), e seu chefe de gabinete, Andrii Iermak, em encontro com o presidente dos EUA, Joe Biden, em Kiev - Gleb Garanich - 20.fev.23/Reuters - REUTERS

Mas os paralelos entre a Ucrânia e o Brasil vão além. Os atos de agressão da Rússia não foram apenas contra o nosso povo, mas também contra o meio ambiente. A Ucrânia perdeu um terço de suas florestas. Ecossistemas estão à beira da extinção. Os brasileiros abrigam boa parte do pulmão do nosso planeta —a Amazônia— e, por isso, compreendem que esta é uma ameaça para a humanidade.

O futuro do mundo livre está sendo decidido neste momento nos campos de batalha da Ucrânia. Moscou rompeu promessas feitas em acordos internacionais para justificar as tentativas de exterminar um Estado soberano. A sua máquina de propaganda funciona no Brasil e em todo o mundo, disseminando afirmações sem sentido sobre a hegemonia do Ocidente.

Os ucranianos sofreram a deportação forçada de 20 mil crianças, viram tortura e execução do seu povo e a destruição de cidades inteiras. E isso é só a ponta do iceberg. A ideologia do mundo russo é uma mistura explosiva de capitalismo selvagem, imperialismo e nacionalismo chauvinista. E não dá sinais de que vai parar.

Os países do hemisfério Sul lutaram contra o colonialismo e ditaduras impostas por outras nações durante parte da sua história. A Ucrânia está fazendo o mesmo. Mas a escolha que cada líder mundial tem que fazer agora é muito maior do que decisões sobre armas ou sanções.

Será que os Brics querem ser associados a um Estado que cometeu tais horrores? Será que a conveniência econômica supera os riscos para a humanidade e as ameaças globais à segurança ecológica, nuclear e alimentar? Os acontecimentos na Ucrânia não são apenas por territórios ou recursos.

Se a Rússia não for interrompida, como o resto do mundo impedirá que outros regimes semelhantes se repitam na Ásia, África ou América do Sul?

A agressão e o genocídio não podem ser justificados. O acordo entre Moscou e Minsk para a instalação de armas nucleares no território belarusso é mais um passo na direção do desastre. A Ucrânia desistiu das suas armas nucleares e foi invadida. Deverá o Brasil voltar a buscar ogivas nucleares por precaução?

Ficar calado ou permanecer neutro não é opção. Esta é uma decisão que determinará o futuro da democracia. A visão ucraniana, que oferece um futuro global mais seguro, está delineada na fórmula da paz do presidente Volodimir Zelenski. Não se pode permitir que o terrorismo fique impune.

Os ucranianos e os brasileiros não têm só uma filosofia comum, mas também interesses que pautam as economias do futuro. Nossos países podem iniciar uma nova era de relações, seja na expansão das nossas indústrias aeroespaciais ou de transformação de alimentos, seja em projetos de sustentabilidade ou em produtos eletrônicos.

É a hora de nos mantermos unidos.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.