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A ciência da ciência e da inovação

Com recursos e pesquisa, devemos criar antídotos contra os ataques em curso

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Confiança leva tempo para se construir, mas pode se esvair rapidamente. Essa constatação também se aplica à ciência, especialmente quando opiniões baseadas apenas em opiniões se difundem para afrontar consensos construídos por evidências exaustivamente demonstradas.

Esse fato vem sendo crescentemente aproveitado por políticos em vários países, que inserem o ataque à ciência em suas plataformas eleitorais. É preocupante a receptividade desse tipo de discurso. Em especial quando os que o vocalizam são eleitos e têm poder de transformar as palavras de desprezo em políticas que derrubam conquistas que pareciam consolidadas.

Laboratório do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, em São Carlos (SP) - Juca Varella/Folhapress - Folhapress

Neste ano de 2024 há eleições em cerca de 65 países, envolvendo mais da metade da população mundial. Países globalmente influentes estão na lista, incluindo EUA e Índia. Se não no topo de campanhas, mas seguramente dentro delas, a ciência aparece direta ou indiretamente, seja em discursos que a valorizam, seja nos que a desvalorizam —quando não a rejeitam.

É preciso criar antídotos para reduzir os ataques à ciência. Isso requer esforços, recursos e pesquisa. Sim, pesquisa. "Pesquisa da pesquisa", ou "ciência da ciência", como vem sendo chamada.

Não é mais suficiente repetir, como um mantra, que vale a pena investir em pesquisa científica e que a ciência traz benefícios. É preciso demonstrar isso sistematicamente e, mais ainda, comunicar para atingir os mais diferentes públicos. Para se opor à "contra ciência" é preciso mais ciência, é preciso pesquisas que produzam evidências demonstrando seus impactos na sociedade, sejam estes econômicos, sociais, ambientais e/ou intelectuais.

"Ciência da ciência" é um campo que emerge de vários outros empenhados em estudar a ciência, a tecnologia e a inovação e seus efeitos na sociedade e no planeta. Para tanto, interliga disciplinas e instituições de natureza diferente, acadêmicas e não acadêmicas.

Construindo bases de dados e desenvolvendo conhecimento sobre a ciência descobrem-se coisas importantes. Descobre-se, por exemplo, que resultados de cerca de 3.000 pesquisas científicas financiadas pela Fapesp foram usadas no Brasil e no mundo para elaborar mais de 2.000 documentos de políticas públicas de governos de países do Norte e do Sul, bem como de organizações como FAO, OMS, Ibama e Anvisa, dentre outras.

Aprende-se que certos tipos de financiamento público são mais eficazes que outros na promoção da inovação em empresas, o que poderia reduzir o voluntarismo das políticas e o potencial desperdício de recursos públicos. Aprende-se ainda que, graças aos programas de pós-graduação e das bolsas que viabilizam a formação de mestres e doutores no Brasil, as empresas e os governos encontram recursos humanos de alto nível em nosso país.

Em junho próximo ocorrerá em Brasília a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI). Os estados já estão fazendo reuniões preparatórias. Da conferência se espera uma nova política de CTI. Espera-se que ela seja bem informada, com dados, evidências e estudos, e que seja monitorada, avaliada e bem comunicada. O Brasil tem muita gente competente nessas áreas, mas é preciso dar escala e convergência para o que hoje se apresenta disperso e com pouca influência.

É preciso criar uma capacidade nacional de "ciência da ciência e da inovação" para aumentar e dar visibilidade aos impactos positivos e, ao mesmo tempo, reduzir os espaços de desinformação.

Amâncio Jorge de Oliveira
Coordenador-executivo da Escola de Diplomacia Científica e da Inovação (USP)

Elizabeth Balbachevsky
Vice-coordenadora do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (USP)

Guilherme Ary Plonski
Diretor do Instituto de Estudos Avançados (USP)

Sergio Salles-Filho
Professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências (Unicamp)

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