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O avanço do sionismo cristão

Bandeiras de Israel na Paulista expõem interpretação particular de evangélicos

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As diversas bandeiras de Israel empunhadas por brasileiros e brasileiras na manifestação em defesa de Jair Bolsonaro (PL), no último dia 25 de fevereiro, podem surpreender um observador desavisado, já que a direita religiosa no Brasil, apoiadora do ex-presidente, é composta principalmente por cristãos (evangélicos e católicos).

Essas bandeiras revelam que a direita brasileira não é apenas antipetista, mas pró-Estado de Israel. Seu uso, naquele contexto, é também, sem dúvida, uma contraposição à política externa do atual governo e, especialmente, ao posicionamento do presidente Lula (PT) sobre a guerra em Gaza ser um genocídio. No entanto, tal simbolismo é mais do que uma postura política simplesmente anti-Lula e antipetista —evidencia, isso sim, um tipo específico de cristianismo conservador que vem crescendo no Brasil e na América Latina.

Jair Bolsonaro (PL) e apoiadores empunham bandeira de Israel durante manifestação em apoio ao ex-presidente, convocada por ele próprio, na avenida Paulista, em São Paulo - Danilo Verpa - 25.fev.24/Folhapress - Folhapress

As bandeiras israelenses, que condensam tanto a identidade laica do Estado quanto a identidade religiosa do povo judeu, manifestam a incorporação crescente dos símbolos judaicos por parte de setores cristãos brasileiros, principalmente evangélicos. Existem múltiplos fatores ou interesses por trás dessa incorporação —um deles é a crença de que a salvação, o fim dos tempos e a segunda vinda de Cristo estão associados ao que acontece ao povo judeu. Ou seja, há setores cristãos que enfatizam uma interpretação bíblica e teológica do povo judeu como herdeiro legítimo da Terra Santa, o que incluiria o território da Palestina. Esses cristãos vêm adotando um apoio irrestrito às políticas expansionistas do atual governo de extrema direita israelense e exigem o traslado da Embaixada do Brasil de Tel-Aviv para Jerusalém como reconhecimento desta última ser a capital eterna e indivisível de Israel.

Eles passam a se identificar com um deus de Israel que promete riqueza e destruição dos inimigos daqueles que são seu filhos, apostam na promessa bíblica de que quem abençoe Israel será abençoado, temendo que quem amaldiçoe o país também será amaldiçoado.

Observa-se, ainda, que esses setores cristãos conservadores insistem em associar o terrorismo à esquerda política, arrolando a complexidade geopolítica do conflito para consignas desprovidas de informações históricas e desconectadas da realidade.

Por isso, a maciça flutuação de bandeiras indica que setores cristãos vêm desenvolvendo um ativismo político pró-Israel: isto é, o sionismo cristão, resultado da crescente influência dos "evangelicals" norte-americanos no Brasil. Sionismo cristão que é, também, um dos frutos da política externa do Estado de Israel para os EUA e a América Latina com o objetivo de ampliar sua rede de apoio no plano internacional.

Mas, como sugere recente pesquisa Genial/Quaest, talvez não seja uma posição majoritária nem mesmo entre os evangélicos...

Maria da Dores Campos Machado
UFRJ

Brenda Carranza
Uerj-Unicamp

Cecília Mariz
Uerj

Joanildo Burity
Fundaj

Paul Freston
Wilfrid Laurier University/Canadá

* Equipe da pesquisa "Crescimento do sionismo cristão na América Latina"

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