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Lula esgota crédito do 8/1 em eleições no Congresso, e governo começa agora

Operação pró-Pacheco terá preço ao petista, e bolsonarismo ainda respira; Lira será desafio

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Igor Gielow
Igor Gielow

Repórter especial em São Paulo, foi editor, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília

São Paulo

Jogo jogado, as previsões das últimas 24 horas se confirmaram e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá na presidência das duas Casas do Congresso Nacional os nomes que apoiou. Vitória do petista, que terá a vida facilitada, certo?

Nem tanto. O principal substrato da tensa quarta-feira (1º) é que o crédito político obtido pelo petista com a baderna golpista do dia 8 de janeiro deu o que tinha de dar para o petista.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, comemora vitória na eleição desta quarta-feira (1º) - Ton Molina/Reuters

Ele ainda aproveitou um último uníssono sobre o tema ao fazer coro à presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, nas críticas aos vândalos e golpistas durante discursos na abertura do ano do Judiciário.

Cabe separar aqui o que é cálculo político, dado que Lula trabalha para marcar como um conspirador todo opositor, seja ele um bolsonarista fanático ou não, e a justa e necessária pressão para mapear e cercear quem idealizou e quem perpetrou o ataque do dia 8 passado.

Isso se viu claramente no Senado. Por evidente, uma eventual vitória de Rogério Marinho (PL-RN) seria uma espécie de tapa na cara da reação institucional à depredação das sedes dos três Poderes. Ele só está lá por obra de Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente que segue soltando diatribes em seu exílio americano.

Alguém dirá que nenhum deles pode ser culpado pela ação da turba. Não é preciso ser um leitor de Edward Gibbon ("Ascensão e Queda do Império Romano", 1776) para saber o papel de manipuladores de massa. Se isso se materializará juridicamente, é outra história.

Mas a votação de Marinho, com o esforço aplicado pelo Planalto em favor de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), abrindo por conta e risco todas as conhecidas caixas de ferramentas que levaram à perdição do petismo federal nas gestões anteriores, mostra um sinal que demanda leitura fria: a energia bolsonarista, disposta a admitir como correto o 8/1, ainda está viva.

Claro, o fato de não ter chegado lá pode insinuar uma perda de gás e, principalmente, o deslocamento cada vez maior de um Bolsonaro com jeitão de exilado na Flórida, pregando em assembleias de convertidos para custear sua estadia.

Mas ela, a tal energia, aí está personificada no ectoplasma de ex-presidente emanado pela ex-primeira-dama Michelle, e ajudou a dar 32 de 81 votos a Marinho. A união do antipetismo ao bolsonarismo parece ter deitado raízes no Congresso, depois de se mostrar um fenômeno eleitoral.

Marinho se alimentou também de questões paroquiais, como a ojeriza que a campanha ostensiva de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) fez para Pacheco em troca de manter seu latifúndio e perspectiva de poder. Para Lula, o preço de sua operação ainda terá de ser colocado em faturas, ainda que obviamente o placar sugira uma vida mais mansa no Senado.

Não será, de todo modo, uma Casa sob controle absoluto do presidente reeleito Pacheco, figura habilidosa mas algo titubeante, o que não tira o brilho político da aposta feita nele por Gilberto Kassab, o comandante da sigla.

O mesmo não pode ser dito da Câmara, onde Arthur Lira (PP-AL) confirmou o favoritismo e a volta por cima, após ter seu protagonismo ameaçado pelo PT na transição de governo. Escaldado pelo histórico de Eduardo Cunha e Dilma Rousseff, Lula bancou o inconfiável aliado e não repetiu erros passados, apesar da coceira petista em fazê-lo.

Assim, o presidente poupou os mundos e fundos empenhados para ajudar a eleger Pacheco, mas também se vê com um passivo de notas promissórias com o presidente reeleito da Câmara, as principais versando sobre a gestão do Orçamento. Será um desafio.

Na Câmara também pesou a questão da imagem. Bolsonarista de primeira hora, artífice da tomada de poder pelo centrão após a apoplexia golpista do ex-presidente no 7 de Setembro de 2021, Lira obviamente tinha de virar linha de frente contra a bizarrice de 8/1.

Assim como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), o mais vistoso bolsonarista eleito nos estados em 2022, o jogo agora é de parceria até onde o calo apertar —com a vantagem, para Lira, de que ele depende muito menos da boa vontade federal do que o neopaulista.

Com todo esse quadro, e passando ao largo de notas de rodapé como o papelão final do falecido PSDB no Senado, o que se tem é um contexto no qual o jogo de verdade do governo Lula enfim irá começar, após um mês que passou como um semestre.

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