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Culinária afetiva busca transmitir o conforto da comida de avó fora de casa

Com cardápios inspirados em receitas de família, chefs se aproximam dos clientes e resgatam origens da alimentação brasileira

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Rio de Janeiro

Foi inspirado nas receitas de suas avós, uma mineira e outra paraense, que o chef Rodrigo Isaias elaborou o cardápio do restaurante Benedita, em São Paulo.

Cozinhar sempre uniu a família de Rodrigo, que gostava de fazer as refeições junta. "A comida estava sempre ali no meio, ligando aquilo tudo."

Para ele, o afeto era transmitido nessas ocasiões, quando o preparo ficava a cargo das avós. Esse é o sentimento que busca transmitir no restaurante, que evoca a nostalgia de sabores da infância.

Foto mostra um prato de vatapá com camarões servido no restaurante Benedita, do chef Rodrigo Isaias
Vatapá da Vó Zenaide, do Benedita, em São Paulo - Keiny Andrade/Folhapress

A comida do Benedita reflete a mesa de todas as regiões do país e tem receitas criadas por familiares de Rodrigo. Entre as opções, o vatapá da Vó Zenaide (R$ 64) leva dendê, camarão, leite de coco e é engrossado com farinha de arroz.

Influenciado pela espiritualidade da família —o dono foi criado como católico—, o Benedita celebra festas religiosas como Círio de Nazaré.

Segundo Marcella Sulis, professora de gastronomia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a cozinha afetiva valoriza as origens da alimentação brasileira, com pratos típicos e opções acessíveis, que lembram, justamente, comida de avó.

Para Marcella, a afetividade também supre o isolamento na vida cotidiana, sobretudo nos centros urbanos, onde pessoas procuram se reconectar com a comida caseira mesmo longe de casa.

Além do apelo à brasilidade, essa culinária integra a história pessoal dos chefs com a dos restaurantes, criando intimidade com o cliente. "Eles focam não só em ter uma comida boa, mas em conteúdo e processo criativo voltados a questões ligadas à cultura e à tradição", afirma Marcela.

Dandara Batista, chef do AfroGourmet, no Rio de Janeiro, usa a cozinha africana e a ancestralidade para despertar a memória afetiva.

Ela diz que, embora o apagamento histórico tenha tornado nebulosa a origem da culinária afro-brasileira, o paladar reconhece os sabores do continente. "É uma comida que remete a memórias que as pessoas nem sabem que têm."

Dandara se aproximou da gastronomia africana pelas raízes baianas da família paterna. Ela cresceu cercada pela influência da culinária do estado, que considera como principal expoente dessa comida afro-brasileira.

Para aprender sobre a cozinha da África, Dandara viajou a países como Angola e São Tomé e Príncipe.

No AfroGourmet, ela prepara pratos a partir de referências familiares. Um deles é o cozido de rabada sul-africano (R$ 42), uma releitura da receita da avó materna, que leva, além da rabada, legumes, arroz de açafrão e passas.

Restaurantes de cozinha afetiva usam ainda outros elementos para criar nostalgia.

No Maracujá, em São Paulo, o brigadeiro é servido em uma panelinha, igual ao feito em casa. O bolo de coco vem embrulhado em papel laminado, como nas festas infantis.

A chef Elisa Fonseca comprou a casa em 2012 e começou a adaptá-lo para abraçar a cozinha afetiva. Incluiu no cardápio receitas da família, como o mexidinho mineiro, que aprendeu com a mãe. O prato (R$ 54), é feito com arroz, feijão, filé-mignon, couve, queijo-coalho, farinha de milho e ovo frito com gema mole.

O acolhimento se estende à relação com os clientes —os fregueses mais fiéis aparecem em fotos em uma das paredes. "Quero que o restaurante tenha o aconchego de avó para que as pessoas o reconheçam como extensão da própria casa."

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