Pressão alta, aquela barriga maior que deveria, colesterol alterado e glicose sobrando porque o corpo não está absorvendo direito são alguns dos alertas de que você pode ter uma doença pouco conhecida, mas que atinge a cada dia mais brasileiros: a síndrome metabólica.
Reconhecido internacionalmente por entidades médicas e de saúde, este distúrbio age de forma silenciosa e é capaz de dobrar os riscos de morte gerais, além de triplicar a mortalidade por problemas cardiovasculares no comparativo com quem não têm o problema.
Também conhecida como síndrome x, síndrome de raven e síndrome da resistência à insulina, esse conjunto de alterações foi identificado nos anos 1980 e altera o metabolismo e a parte hormonal. Está diretamente conectada ao acúmulo de gordura no centro do corpo e à resistência à insulina.
QUAIS SÃO OS FATORES DE RISCO PARA SÍNDROME METABÓLICA?
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o diagnóstico de síndrome metabólica pode ser feito quando há presença de três ou mais dos seguintes critérios: obesidade abdominal (cintura maior que 102 para homens e que 88 para mulheres); colesterol HDL baixo (dislipidemia), hipertrigliceridemia, hipertensão e glicemia de jejum elevada.
Os fatores de risco para o desenvolvimento da doença podem ser genéticos ou ambientais, ambos capazes de dificultar o tratamento do excesso de peso (principalmente na região abdominal).
Entre os fatores externos que levam ao distúrbio do metabolismo estão uma alimentação inadequada, a inatividade física, idade superior a 60 anos e alterações hormonais.
QUAL É A RELAÇÃO DA SÍNDROME METABÓLICA COM DIABETES?
A síndrome metabólica é um conjunto de doenças que se manifesta ao mesmo tempo e tem como elo a resistência insulínica, quadro no qual os níveis de açúcar (glicose) no sangue ficam altos e prejudiciais ao corpo.
Isso acontece quando o hormônio chamado insulina não consegue absorver essa glicose. Esse estágio glicêmico alto já indica o que os médicos chamam de pré-diabetes, mas, muitas vezes, o paciente só descobre o problema de forma tardia, quando já se tornou um diabético crônico.
COMO IDENTIFICAR E TRATAR O DISTÚRBIO METABÓLICO?
A identificação e orientação inicial do tratamento de síndrome metabólica pode e deve ser feita por todas as áreas médicas, em especial pelos responsáveis pela condução de exames clínicos dos pacientes, como endocrinologistas, cardiologistas, clínicos gerais e até ginecologistas.
A médica endocrinologista Paula Pires afirma que o tratamento demanda mudanças de hábitos que levem à redução do acúmulo de gordura abdominal.
Para tanto, é preciso sair do sedentarismo com pelo menos 150 minutos de caminhadas semanais, reduzir o uso de sal e o consumo de alimentos industrializados, controlar o estresse, diminuir a ingestão de bebidas alcoólicas e cessar o tabagismo.
"Uma alimentação em que a base é de legumes, frutas, salada, grãos integrais, proteínas magras e fibras, ou seja, comida simples, caseira, sem industrializados, pode estabilizar os níveis de açúcar no sangue, melhorando a ação da insulina, o que melhora o metabolismo como um todo", afirma Pires.
Outros benefícios desses cuidados é que também vão eliminar sintomas que atrapalham o cotidiano, como cansaço mental, fadiga muscular, fome descontrolada e compulsões alimentares. "Melhorar [ainda] a saúde do intestino, da pele, memória e bem estar geral", reforça a médica.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), além de sair do sedentarismo e de manter uma alimentação mais saudável, é preciso também descanso adequado do organismo. "Ações para a melhoria e identificação de problemas que levam à privação de sono ou a um sono de qualidade inadequada também estão associados a uma melhora das condições metabólicas e desses parâmetros de síndrome metabólica", afirma o médico Paulo Miranda, presidente da SBEM.
COMO SE TRATAR PELO SUS?
O tratamento para síndrome metabólica no sistema público é feito a partir de ação multidisciplinar e foca na mudança dos hábitos de vida do paciente.
O atendimento deve ser iniciado via unidades básicas de saúde (UBS) do SUS e, após exames e encaminhamentos, costuma incluir acompanhamento com nutricionista e, em alguns casos, medicamentos para controle e redução do risco de desenvolvimento do diabetes.
Importante lembrar que cada uma dos componentes da síndrome metabólica deve ser cuidado de forma específica, incluindo fármacos também para melhoria de hipertensão, níveis de colesterol e obesidade, sempre com condução feita por um médico e um plano de tratamento com metas, ajustes e auxílios.
"Infelizmente, hoje, no SUS, nós não temos nenhuma terapia farmacológica disponível para obesidade e sobrepeso, que é a condição de saúde base deste desenvolvimento. Tratamento, que seria o sobrepeso e a obesidade. Então, neste campo, ainda há uma falha de disponibilidade de tratamento", diz Paulo Miranda, presidente da SBEM.
A SBEM informou que, em conjunto com a Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), têm trabalhado "de maneira muito intensa para tentar criar uma condição favorável para a incorporação desses tratamentos."
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