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Biquíni
pornográfico custa R$ 130 mil
O escândalo
crônico da má distribuição de renda
no Brasil cabe dentro de um biquíni.
É, provavelmente, o biquíni mais caro do mundo.
Para ser preciso, R$ 130 mil. O sutiã custa R$ 50 mil;
a calcinha, R$80 mil. Preparado para um desfile no Rio esta
semana, é feito com 2.500 contas de ouro, formando
um tecido -- se fundido, daria uma barra de 1,5 kg.
A tradução: um trabalhador que ganhe um salário
mínimo compraria a peça depois de 71 anos. Desde
que economizasse integralmente seu salário.
Só a lógica da vergonhosa má distribuição
de renda explica como, ao mesmo tempo, podemos produzir um
salário mínimo tão baixo e um biquíni
tão caro.
O contraste é ainda mais visível se comparamos
esse desperdício com notícia publicada, domingo
passado, na Folha de S. Paulo.
Doenças ligadas à falta de saneamento (água
e esgoto) geram milhares de mortes absolutamente desnecessárias.
No ano passado, segundo dados levantados pela repórter
Gabriela Athias, foram 10.844 mortes, provocadas especialmente
pela diarréia -- quase igual aos assassinatos da região
metropolitana de São Paulo.
Mortes por falta de saneamento básico mostram como
ainda temos muitas, e enormes, manchas de Idade Média
em nossa paisagem social.
Uma disparidade provocada, basicamente, não pela diferença
dos salários -- mas pela diferença do acesso
ao conhecimento.
Ou seja, a disparidade não é fabricada nas fábricas
ou escritórios, mas nas salas de aula. Ou a ausência
delas.
As demais vergonhas (um biquíni tão pornograficamente
caro) são apenas consequências.
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