O personagem


AFP
Michael Schumacher


A pergunta de hoje

O colunista responde

Aconteceu na semana
Esporte em números
Veja na TV


PENSATA

Sábado, 16 de setembro de 2000

O xixi de Todt e o choro de Schumacher

José Henrique Mariante
     


É piada recorrente entre jornalistas da F-1. Na Itália, Jean Todt pode fazer xixi no tanque da Ferrari, com anuência da FIA. E o pior é que, dessa vez, a brincadeira fez algum sentido, levando-se em conta o ridículo posicionamento dos comissários em relação à gasolina resfriada usada pelo time italiano e prontamente banida em Indianápolis _não tinha termômetro?

Com xixi ou não, a Ferrari fez uma excelente corrida em Monza. Não foi superior, longe disso. Mas correu com segurança, refletida na primeira fila obtida no sábado, e no desempenho de Schumacher no domingo.

O certo é que ninguém esperava a vitória ferrarista, e a surpresa de salvar um campeonato parece ter tocado o alemão, que chorou como menino ao ouvir a primeira menção à palavra Senna.

Schumacher nunca foi de se preocupar com números. Sempre os considerou apenas consequência de sua vitoriosa carreira. E seu choro causou impressão, principalmente naqueles que insistem em fazer comparações.

Não acredito que Schumacher chorou por ter alcançado uma das fantásticas marcas daquele que deveria ser seu grande adversário nas pistas, duelo sonegado do público desde a morte do piloto brasileiro em Imola.

Acho mais fácil acreditar que Schumacher de repente se viu alcançando alguma coisa, reconhecimento até, após anos de críticas e de um carro de desempenho sofrível.

Diante desse deserto, transformou Senna ou o recorde em algo palpável, já que bater Hakkinen, Newey, a Mercedes e toda a McLaren parece não ser suficiente _talvez, nunca será.

Schumacher é um grande piloto, o melhor que a geração de agora irá acompanhar pela TV, mas nunca uma unanimidade.

Seja pela sua arrogância, seja por seu jeito encardido de pilotar. Falta-lhe justamente um adversário a altura que justifique sacanagens como a de frear pouco antes da saída do carro-madrinha _para atrasar todo o pelotão e eliminar os ingênuos, como Button.

Atitudes assim soam gratuitas. Houvesse um Senna na pista, a história seria diferente.

*

A história continua a mesma. A F-1 matou mais um e, para desespero da FIA e dos donos de equipe, justamente na Itália.

E mais uma vez a Justiça local tentará achar uma culpa ou um culpado, o que jamais conseguirá.

Esporte a motor mata gente. Pode ser uma afirmação lamentável, mas é inexorável. Como a morte.



E-mail:
mariante@uol.com.br



Leia mais: