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Tutores contam como conduzir negócio com pet influencer; leia depoimentos

Para ser rentável, atividade exige administração responsável, constância e boa relação com seguidores

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São Paulo

Ser sócio do bichinho de estimação pode ser divertido para quem pretende lançá-lo como influenciador, mas o sucesso exige responsabilidade na condução da empresa, constância na criação de conteúdos e uma boa relação com uma parte considerável de seus clientes —os seguidores.

De modo geral, negócios baseados na imagem de pets faturam com contratos publicitários, como ocorre com um influenciador humano. É recomendável que, antes de se associar a uma marca, o tutor teste os produtos ou serviços e divulgue apenas os que se ajustem à rotina do animal, cujo ritmo também deve ser respeitado durante a produção de fotos e vídeos.

Conheça as histórias de quatro tutores de cães e gatos que se tornaram empreendedores com a influência de seus pets.

Gata Lola, dos tutores Leonardo Bagarolo e Evelin Camargo, que tem perfil no Instagram
Gata Lola, dos tutores Leonardo Bagarolo e Evelin Camargo, que tem perfil no Instagram - Lucas Seixas/Folhapress

‘Negócio deve ser tratado com seriedade, como uma empresa’

Leonardo Bagarolo e Evelin Camargo, tutores da Madalena, da Bica e da Lola, influenciadoras nos perfis @madaebica e @lolagatasuperior

A bulldog Madalena, 4, a pinscher Bica, 8, e a gata Lola, 7, deram os primeiros passos na internet em 2020, quando seus tutores, o casal Leonardo e Evelin, entraram em home office e aproveitaram a convivência mais intensa para gravar vídeos de suas pets.

Madalena, ainda sem voz, era o foco da conta no Instagram, feita com o intuito de obter permutas de comida, brinquedos e acessórios para complementar o orçamento. Essas parcerias vieram e, diante do crescimento do mercado pet durante a pandemia, evoluíram para ofertas de publicidades remuneradas.

Com isso, os tutores procuraram uma agência e investiram na profissionalização. Hoje, a lista de clientes inclui clínicas veterinárias e fabricantes de medicamentos e rações que já faziam parte do dia a dia, por exemplo, mas conta inclusive serviços para humanos, como bancos e streamings .

Foto mostra o casal Leonardo e Evelin sentado no chão, com as pernas cruzadas; Leonardo segura uma buldogue e sorri, enquanto Evelin segura uma pinscher e também sorri
Leonardo Bagarolo, 34, e Evelin Camargo, 32, com a bulldog Mada, 4, e a pinscher Bica, 8, protagonistas de vídeos na web - Lucas Seixas/Folhapress

"É um negócio e precisa ser tratado com seriedade, como uma empresa normal. Quando começaram a surgir propostas não só do mundo pet, vimos que as marcas queriam ter exposição nos perfis da Madalena, da Bica e da Lola", diz Leonardo.

Os vídeos também se difundiram devido à popularização do TikTok no país, em 2020, e foram uma das ferramentas para consolidar a influência do trio. Aos poucos, Bica deixou de figurar apenas nos stories do Instagram, conquistou espaço por meio de sua personalidade ácida e agora divide os holofotes com Madalena nas redes.

"Já existiam pets famosos, mas eram extremamente instagramáveis e fofinhos nas fotos. Nossa sacada de trazê-las como protagonistas e com voz foi um divisor de águas, porque isso virou outra categoria, um nicho muito específico que tem animais como personagens principais", afirma Evelin.

Leonardo e Evelin trabalhavam na mesma multinacional —ela era gerente de vendas a distância e ele, gerente de ecommerce—, até que decidiram sair de seus empregos para administrar a empresa. Ambos se tornaram influenciadores e, além do nicho pet, produzem conteúdos de humor nos próprios perfis e investem em cursos de teatro para atuar na televisão e no cinema.

A pinscher Bica e a buldogue Madalena, que têm perfis nas redes sociais
A pinscher Bica e a bulldog Madalena, que têm perfis nas redes sociais; nas redes, elas têm vozes interpretadas pelo tutor Leonardo Bagarolo - Lucas Seixas/Folhapress

Cerca de 1,1 milhão de pessoas acompanham Madalena e Bica no Instagram —a gata Lola possui uma conta à parte, com 338 mil fãs. Respectivamente, suas páginas no TikTok reúnem 8,7 milhões e 1,6 milhão de seguidores. Em 2022, o negócio alcançou faturamento de R$ 1 milhão pela primeira vez, crescimento de 100% em relação a 2021.

O casal projeta uma alta de 30% para este ano e, para evitar a estabilização, um dos planos é estender a influência das pets para fora das telas.

"A publicidade é o principal combustível do nosso negócio e do criador do conteúdo em geral, mas estamos apostando em outras frentes. Para a Madalena, a Bica e a Lola, estamos desenvolvendo um projeto de licenciamento de marca para lançar produtos com a imagem delas", conta Leonardo.

Fernanda Durski, e Marco Aurélio Dias de Andrade, tutores dos gatos influenciadores Klebinho e Nelson (@klebinho3patas)

O perfil no TikTok era de Fernanda, mas quem realmente dominava o feed eram os gatos Klebinho, 4, e Nelson, 6. Ao notar que os posts com os felinos tinham resultados melhores —até viralizavam— e que os seguidores pediam para vê-los cada vez mais, a tutora abdicou de sua conta e a transferiu oficialmente para os bichanos em janeiro de 2022.

Um mês depois, o passo seguinte foi abrir um perfil para os pets no Instagram. À medida que algumas empresas se interessaram por permutas e, mais tarde, por contratos de publicidade paga, Fernanda e Marco Aurélio perceberam que poderiam transformar o hobby em negócio.

Foto mostra Fernanda segurando seu gato no ombro
A modelo Fernanda Durski e o gato Klebinho, do perfil @klebinho3patas - Leticia Moreira/Folhapress

Eles apostam nas "trends", as tendências virais das redes, mas priorizam o conteúdo criado a partir de brincadeiras espontâneas entre Klebinho e Nelson. Quando há um produto a ser divulgado, o anúncio é inserido no contexto de uma história feita com base nas imagens gravadas nos momentos mais agitados.

"A ideia é justamente ser o mais orgânico possível e autoral para manter uma frequência boa de postagens. É importante ter equilíbrio entre trends e vídeos originais para ter um diferencial, porque queremos algo natural, em que a pessoa não estava esperando por uma publi e ela surgiu", explica Fernanda.

O TikTok e o Instagram acumulam, respectivamente, cerca de 734 mil e 263 mil seguidores. Ambos têm proporções semelhantes de engajamento, segundo a tutora, mas o Instagram é o melhor meio para fechar contratos de publicidade e para cultivar o público com interações por mensagens diretas e comentários. Recentemente, os gatos também entraram no Threads.

Diariamente, às 9h, Klebinho aparece nos stories do Instagram para desejar bom dia aos seguidores —e, segundo o casal de tutores, há quem cobre se houver atraso. Depois disso, o cronograma de publicações depende da rotina e das atividades dos gatos.

Foto mostra dois gatos, ambos com tons diferentes de cinza no pelo, deitados em um brinquedo com andares e com bolinhas
Os gatos Nelson e Klebinho, influenciadores no perfil @klebinho3patas - Leticia Moreira/Folhapress

"A narrativa sempre é criada para gerar identificação. O Nelson é rabugento e imprevisível, pode estar carente ou sair correndo quando dou bom dia, e não gosta de câmera. Já o Klebinho nasceu para ser influencer: quando mostro o celular, ele aparece na frente e senta bonitinho", afirma a tutora.

Marco Aurélio é engenheiro de softwares e trabalha em outra empresa, enquanto Fernanda é modelo e assistente pessoal, mas tem os perfis dos gatos como a principal ocupação. Para aprimorar os vídeos, ela investiu em um celular com mais capacidade de armazenamento e uma câmera melhor, além de cursos e ferramentas pagas de edição.

"O faturamento depende de quantas publis fizemos no mês anterior e nunca é a mesma quantidade, mas hoje os perfis do Klebinho se tornaram, dentre os meus outros empregos, minha principal fonte de renda."

‘Criar senso de comunidade é essencial para crescer nas redes’

Gustavo Ramos, tutor do Malcom, do Luther, do Ozzy e do Eddie, influenciadores nos perfis @malcomsalsicha e @osgatosgangsters

Antes de encabeçar sua conta, o dachshund Malcom, 6, protagonizava aventuras no perfil do tutor, inspiradas nos roteiros de programas do canal Animal Planet. Os seguidores de Gustavo, mais conhecido nas redes como Sr. Ramos, aprovaram o estilo, até que o cachorro salsicha ganhou voz e, em 2019, um perfil próprio no Instagram.

Com o tempo, Malcom se destacou como detetive e se juntou ao salsicha Luther, 2. Nas tramas, os dois entram em embates com os gatos gângsters —a dupla Ozzy, 3, e Eddie, 1, que dividem um perfil à parte no Instagram, com 135 mil seguidores.

Agachado, um homem faz carinho em um cachorro salsicha; eles estão no quintal de uma casa
Com narração de Gustavo Ramos, 27, o cachorro Malcom Salsicha é protagonista de histórias de aventura nas redes sociais - Arquivo pessoal

"Conforme tive retorno e vi que as pessoas embarcavam nas histórias, entendi o potencial do conteúdo e comecei a olhar pelo lado profissional. Uma coisa é fazer um vídeo e ficar animado com o resultado, mas mais bacana é ser correspondido na mesma intensidade."

Gustavo trabalhava em uma agência de publicidade e, motivado pelas reações positivas, saiu do emprego para se dedicar exclusivamente à criação das narrativas dos pets, cujos perfis ainda não davam retorno financeiro. Como Sr. Ramos, ele já obtinha renda prestando serviços para negócios de sua cidade, Marabá (PA).

Com as mininovelas de Malcom e dos gatos gângsters, começou a faturar depois de dois anos —primeiro com permutas e patrocínios de pet shops regionais e, depois, com contratos comerciais maiores.

"Alguns vídeos viralizaram durante a pandemia e isso nos ajudou, porque o TikTok bateu um milhão de seguidores e o Instagram começou a crescer." Hoje, Malcom reúne cerca de 864 mil seguidores no Instagram e 2,3 milhões no TikTok, os principais em monetização, e marca presença também no YouTube, no Facebook, no Kwai, no Twitter e no Threads.

Em 2021, o salsicha foi eleito Pet do Ano na rede e venceu o prêmio iBest na categoria Pets. No ano passado, foi reconhecido pelo Meme Awards também como Pet do Ano —e as três premiações foram alcançadas por voto popular, com páginas que possuíam volumes maiores de seguidores, afirma Gustavo.

"Uma das coisas importantes que criamos espontaneamente foi o senso de comunidade. As pessoas gostam dos vídeos, interagem e têm uma sensação de ser parte da família. Isso é essencial para crescer de forma efetiva numa rede social. Sinto que, com o meu público, somos capazes de chegar a qualquer lugar."

Dublados por Gustavo, Malcom, Luther, Ozzy e Eddie já deram voz a produtos e serviços de empresas fora do mercado pet, como streamings. Os primeiros investimentos feitos pelo tutor para alavancar o negócio foram em um celular novo e em brinquedos e acessórios para estimular a interação entre os pets.

‘É desafiador como todo negócio, mas muito mais divertido’

Karoline Freitas e Guilherme Antunes, tutores dos gatos influenciadores Miu, Mu, Morcega e Mandolate (@gatomiu e @wtfmiu)

Sem pretensão de ser transformado em influenciador, Miu, 8, o primeiro gato do quarteto, ganhou em 2014 um perfil próprio no Twitter, onde suas fotos eram publicadas sempre com legendas que tentavam traduzir suas expressões mais marcantes.

Atualmente, a rotina dele com outros três gatos —Mu, 8, Morcega, 7, e Mandolate, de 5 meses—, pode ser acompanhada em seis redes sociais, como Facebook, YouTube e Kwai. Karoline e Guilherme concentram esforços, porém, no Twitter, no TikTok e no Instagram, sendo que o último reúne o público mais fiel e é o canal preferido de empresas interessadas em divulgar produtos e serviços.

Foto mostra o casal Karoline Freitas e Guilherme Antunes com os gatos influenciadores, de cima para baixo, Mu (gato branco com manchas pretas), Mandolate (gato laranja), Miu (gato cinza) e Morcega (gata preta); eles estão deitados em prateleiras na parede
Karoline Freitas e Guilherme Antunes com os gatos influenciadores (de cima para baixo) Mu, Mandolate, Miu e Morcega - Tarla Wolski/Folhapress

A influência dos felinos passou a ser a principal ocupação de Karoline em 2020, quando ela foi demitida do emprego em uma escola de cursos profissionalizantes e começou a dedicar mais tempo à gravação de resenhas dos presentes enviados por marcas —os mimos ou recebidos— a partir da reação de cada pet.

"Tentamos mostrar o que o gato está pensando, e eles são muito diferentes um do outro. O Miu é o mais velho [prestes a completar noves anos], mas é brincalhão, comilão e está sempre ativo. O Mu vive emburrado e é mais quietinho. A Morcega só dorme e agora temos o Mandolate, que é cheio de energia e chegou para fazer bagunça", conta Karoline.

O casal operou uma loja online para gatos e gateiros durante um ano, mas fechou o negócio para trabalhar apenas com a criação de conteúdo nas redes, monetizada por meio de publicidades.

Na maioria das vezes, os contratos são firmados com empresas do mercado pet, desde que os itens sejam testados e aprovados pelos felinos, mas o quarteto também já ajudou a divulgar produtos de limpeza, eletrodomésticos e até filmes, por exemplo.

Um gato cinza está sobre duas paras, 'em pé', com as patas dianteiras erguidas
O gato influenciador Miu, cujo bordão é 'Fala, galera!', ganha voz nas redes com a dublagem do tutor Guilherme Antunes - Tarla Wolski/Folhapress

"É desafiador como todo negócio, por não ter renda fixa e depender de oportunidades, mas é muito mais divertido. Vejo pessoas que querem atuar com isso, mas ficam esperando a hora certa ou a câmera e o cenário perfeitos. Na verdade, é preciso começar a postar para aprender com os erros e melhorar com o tempo", diz Karoline.

Para profissionalizar a influência de Miu na internet, não houve investimento prévio. A receita dos primeiros contratos foi aplicada em equipamentos para aprimorar os vídeos. Hoje, ambos os tutores trabalham exclusivamente com a produção de conteúdo nos perfis dos gatos, que reúnem cerca de 534 mil seguidores no Instagram, 679 mil no TikTok e 162 mil no Twitter.

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