Diego
Medina
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O
automobilismo nacional passou os últimos anos se vangloriando
de recordes de vitórias. Nesta temporada, o ufanômetro ganha
outro fundo de escala (o recorde não virá), o de títulos,
sete por enquanto.
Dos sete, sem desmerecer as outras conquistas, para o grande
público valem duas: a da F-3000, de Bruno Junqueira, e a do
Inglês de F-3, de Antonio Pizzonia.
De novo, sem querer desmerecer o trabalho de Junqueira, quem
de fato será lembrado de todo o grupo é o amazonense, o piloto
brasileiro mais bem cotado para a F-1 nos próximos anos.
O oitavo título, o de mais impacto, pode surgir amanhã, em
Fontana, com o líder da temporada Gil de Ferran largando com
cinco pontos de vantagem sobre o mexicano Adrian Fernandez.
Ou seja, o país está a 500 milhas de sua primeira conquista
no automobilismo de ponta desde o tricampeonato de Ayrton
Senna na F-1, na temporada de 1991.
Faz tempo.
Nesse período, Emerson Fittipaldi ainda ganhou as 500 Milhas
de Indianápolis, e Senna, mesmo a bordo de uma porcaria de
carro que eram os McLarens sem os motores da Honda, ainda
brilhou em diversas provas _até sentar em outro, bem melhor,
apenas para se arrebentar no muro.
Desde então, o público teve que engolir um monte de promessas
e poucas realizações. Desde a péssima idéia de criar o bando
de Miami até verdadeiros absurdos, como convocar entrevista
coletiva para kartista de dez anos.
O automobilismo, porém, sobreviveu a essa enxurrada de espuma
graças aos espasmos de alguns poucos e a fidelidade do público
aficionado que, mesmo pequeno, manteve os índices de audiência
em níveis suficientes.
Esse é o resumo da última década do esporte a motor no Brasil.
Mais erros do que acertos, mais falatório do que talento,
mais patrocínio de conveniência do que investimento de verdade.
A brincadeira, porém, parece mais séria a partir desta temporada.
Seja pelo fato de Barrichello ter chegado a um time de ponta,
seja pela menor oferta (consequentemente mais cuidadosa) de
dinheiro nas diversas categorias.
É sintomático, portanto, que o número de vitórias tenha diminuído
e o de títulos aumentado.
Ainda é pouco, porém, para o país finalmente encarar o esporte
de forma séria, única saída para quem não tem gênios na pista.
O esporte em geral vive de exceções por aqui. Baseado nelas,
os dirigentes esportivos têm dois caminhos: usar a estrela
do momento para gerar adeptos e atletas e fazer dinheiro ou
usá-la para unicamente fazer dinheiro.
Existe, claro, a terceira alternativa, também muito comum,
que é fazer dinheiro para si.
Quem acompanha o automobilismo brasileiro sabe em qual dessas
categorias ele se encaixa.
E sabe também que muita coisa deve mudar, pois simplesmente
não há nenhuma estrela para segurar esse incômodo rojão.
Pizzonia, Junqueira e tantos outros são apenas candidatos
até prova em contrário. Gil, um piloto sério, pode ajudar
se confirmar o título, mas nunca a ponto de resolver o problema.
Barrichello? Só campeão.
É mais prudente trabalhar.
Notas
No
ar
A notícia de que a Record passará a deter os direitos da Indy
a partir do ano que vem, com o restabelecimento das transmissões
ao vivo, causou um silencioso rebuliço nos corredores das
TVs brasileiras. Um convite já foi recusado, outro está sendo
estudado, e tem muita gente torcendo para o telefone tocar.
Não e não
À "Autosport", os protagonistas do Mundial deste ano e provavelmente
do próximo negaram sequer cogitar a aposentadoria. Schumacher
disse que levou cinco anos para ter um carro competitivo da
primeira à última corrida e que não seria justamente agora
o momento de parar. Hakkinen, que espera o primeiro filho
para o Natal, afirmou que mesmo tricampeão não deixaria as
corridas neste momento. Por simples falta de motivo para tanto.
E-mail: mariante@uol.com.br
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