O personagem


AP
Gil de Ferran


A pergunta de hoje

O colunista responde

Aconteceu na semana
Esporte em números
Veja na TV


PENSATA

Sábado, 28 de outubro de 2000

Década sem brilho

José Henrique Mariante
     

Diego Medina

O automobilismo nacional passou os últimos anos se vangloriando de recordes de vitórias. Nesta temporada, o ufanômetro ganha outro fundo de escala (o recorde não virá), o de títulos, sete por enquanto.

Dos sete, sem desmerecer as outras conquistas, para o grande público valem duas: a da F-3000, de Bruno Junqueira, e a do Inglês de F-3, de Antonio Pizzonia.

De novo, sem querer desmerecer o trabalho de Junqueira, quem de fato será lembrado de todo o grupo é o amazonense, o piloto brasileiro mais bem cotado para a F-1 nos próximos anos.

O oitavo título, o de mais impacto, pode surgir amanhã, em Fontana, com o líder da temporada Gil de Ferran largando com cinco pontos de vantagem sobre o mexicano Adrian Fernandez. Ou seja, o país está a 500 milhas de sua primeira conquista no automobilismo de ponta desde o tricampeonato de Ayrton Senna na F-1, na temporada de 1991.

Faz tempo.

Nesse período, Emerson Fittipaldi ainda ganhou as 500 Milhas de Indianápolis, e Senna, mesmo a bordo de uma porcaria de carro que eram os McLarens sem os motores da Honda, ainda brilhou em diversas provas _até sentar em outro, bem melhor, apenas para se arrebentar no muro.

Desde então, o público teve que engolir um monte de promessas e poucas realizações. Desde a péssima idéia de criar o bando de Miami até verdadeiros absurdos, como convocar entrevista coletiva para kartista de dez anos.

O automobilismo, porém, sobreviveu a essa enxurrada de espuma graças aos espasmos de alguns poucos e a fidelidade do público aficionado que, mesmo pequeno, manteve os índices de audiência em níveis suficientes.

Esse é o resumo da última década do esporte a motor no Brasil. Mais erros do que acertos, mais falatório do que talento, mais patrocínio de conveniência do que investimento de verdade.

A brincadeira, porém, parece mais séria a partir desta temporada. Seja pelo fato de Barrichello ter chegado a um time de ponta, seja pela menor oferta (consequentemente mais cuidadosa) de dinheiro nas diversas categorias.

É sintomático, portanto, que o número de vitórias tenha diminuído e o de títulos aumentado.

Ainda é pouco, porém, para o país finalmente encarar o esporte de forma séria, única saída para quem não tem gênios na pista.

O esporte em geral vive de exceções por aqui. Baseado nelas, os dirigentes esportivos têm dois caminhos: usar a estrela do momento para gerar adeptos e atletas e fazer dinheiro ou usá-la para unicamente fazer dinheiro.

Existe, claro, a terceira alternativa, também muito comum, que é fazer dinheiro para si.

Quem acompanha o automobilismo brasileiro sabe em qual dessas categorias ele se encaixa.

E sabe também que muita coisa deve mudar, pois simplesmente não há nenhuma estrela para segurar esse incômodo rojão.

Pizzonia, Junqueira e tantos outros são apenas candidatos até prova em contrário. Gil, um piloto sério, pode ajudar se confirmar o título, mas nunca a ponto de resolver o problema.

Barrichello? Só campeão.

É mais prudente trabalhar.



Notas

No ar
A notícia de que a Record passará a deter os direitos da Indy a partir do ano que vem, com o restabelecimento das transmissões ao vivo, causou um silencioso rebuliço nos corredores das TVs brasileiras. Um convite já foi recusado, outro está sendo estudado, e tem muita gente torcendo para o telefone tocar.

Não e não
À "Autosport", os protagonistas do Mundial deste ano e provavelmente do próximo negaram sequer cogitar a aposentadoria. Schumacher disse que levou cinco anos para ter um carro competitivo da primeira à última corrida e que não seria justamente agora o momento de parar. Hakkinen, que espera o primeiro filho para o Natal, afirmou que mesmo tricampeão não deixaria as corridas neste momento. Por simples falta de motivo para tanto.


E-mail:
mariante@uol.com.br



Leia mais: