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Como arqueóloga revolucionou a Serra da Capivara

Podcast conta a trajetória de Niéde Guidon e seu papel na criação do parque que se tornou patrimônio mundial

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Há um nome francês que passou a ser utilizado para batizar crianças do sertão piauiense a partir dos anos 70 —algo que talvez cause estranhamento ao viajante desavisado. Meninas e mulheres chamadas "Niéde" estão espalhadas pela região, mas o fato tem motivo. É uma homenagem a uma das personalidades mais conhecidas da Serra da Capivara, que não é uma artista, nem uma figura política, mas uma arqueóloga.

A arqueóloga brasileira Niede Guidon posa para foto em sua casa durante entrevista, em Campinas (SP), em 1991. (Foto: César Itiberê/Folhapress) - Folhapress

Niéde Guidon completou recentemente 90 anos de idade. É franco-brasileira e a grande responsável pelo projeto que transformou o lugar em parque nacional. Tentou pela primeira vez chegar à região em 1963, após ter contato com imagens do que lhe relataram ser "uns desenhos de caboclos" na Serra da Capivara. Malas feitas e um jipe preparado, a arqueóloga inicia uma aventura com sua amiga Silvia que termina interrompida por uma ponte caída na estrada. Planos adiados.

Foi apenas nos anos 70 que Niéde pôde ver de perto as pinturas rupestres –testemunhos da passagem do ser humano pela região sertaneja há milênios– e iniciar os trabalhos de escavação que, de tão surpreendentes, colocaram em dúvida a teoria corrente sobre a origem do homem nas Américas. A questão permanece um impasse científico entre especialistas.

O Parque Nacional Serra da Capivara foi considerado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO em 1991, e é o único lugar brasileiro citado pelo jornal The New York Times entre 52 destinos para turistas em busca de viagens sustentáveis, mas isso não significa que os trabalhos da arqueóloga tenham sido fáceis. A cobrança por atenção do poder público e a busca por investimentos foram constantes durante o seu período à frente da Fundação Museu do Homem Americano, responsável pela administração do parque.

Para contar a história de Niéde e do Parque Nacional Serra da Capivara, a jornalista Adriana Abujamra viajou até o sertão, onde conversou com a arqueóloga e com outros personagens envolvidos no processo de construção do patrimônio cultural —principalmente os moradores atuais e antigos da região.

Os sertanejos que ocupavam o local têm uma relação complexa com Niéde. Alguns foram removidos de suas terras e a responsabilizam por isso, outros puderam ficar e veem nela o esforço contínuo por melhorar as condições de vida na Serra da Capivara. Muitos trabalham na fundação criada por ela, ou nos museus e na manutenção do parque. Por meio da oferta de oportunidade de um emprego, mulheres puderam se ver livres de situações de exploração e abuso.

Os relatos múltiplos se somam à pesquisa de Adriana no livro "Niéde Guidon: uma arqueóloga no sertão", da editora Rosa dos Tempos. A publicação estreia a Coleção Mulheres, organizada por Joselia Aguiar, que se propõe a dar voz a mulheres com contribuições nos mais diversos campos.

O Ilustríssima Conversa está disponível nos principais aplicativos, como Apple Podcasts, Spotify e Stitcher. Ouvintes podem assinar gratuitamente o podcast nos aplicativos para receber notificações de novos episódios.

O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.

Já participaram do Ilustríssima Conversa Bela Gil, que defendeu a remuneração do trabalho realizado por donas de casa, Javier Montes, escritor espanhol que se debruçou sobre a vida da dançarina e naturista Luz del Fuego, Paulo Arantes, professor de filosofia da USP para quem Lula terá sucesso se frear a extrema direita, Eliane Brum e Maria Rita Kehl, convidadas para o episódio comemorativo dos cinco anos do podcast, João Moreira Salles, autor de um livro sobre o modelo predatório de ocupação da Amazônia, Ailton Krenak, que abordou a tragédia do povo yanomami, Gabriela Lotta e Pedro Abramovay, que discutiram os papéis de burocratas e políticos em uma democracia, Felipe Loureiro, que analisou as relações entre EUA e Rússia depois do início da Guerra da Ucrânia, Denise Ferreira da Silva, para quem a violência racial é um pilar da modernidade, Letícia Cesarino, antropóloga que expõe como algoritmos favorecem o populismo, entre outros convidados.

A lista completa de episódios está disponível no índice do podcast. O feed RSS é https://folha.libsyn.com/rss

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