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Bia Pereira e Bob Vieira da Costa

Azeite também é coisa nossa

Já são mais de 120 marcas e 10 mil hectares de oliveiras plantados no Brasil

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Bia Pereira e Bob Vieira da Costa

Respectivamente, jornalista e presidente da agência nova/sb; sócios e produtores do azeite Sabiá

O azeite Sabiá, produzido na serra da Mantiqueira e na serra do Sudeste, no Rio Grande do Sul, foi eleito um dos dez melhores do mundo por um respeitado concurso internacional, o espanhol Evooleum. Como a divulgação do concurso destaca, "a grande surpresa deste ano foi o azeite brasileiro", o único premiado produzido fora da Europa.

Foi exatamente da Espanha que Cristóvão Colombo trouxe para a América as primeiras mudas de oliveiras. Chile, Peru, Argentina, México e Brasil conhecem essa cultura há séculos. O azeite dava luz aos fortes e às igrejas, era lubrificante de armas e estava presente na culinária. A história conta que dom João 6º, antes de retornar para Portugal, em 1821, mandou cortar as oliveiras para evitar que um produto importante de exportação portuguesa tivesse concorrência local.

Convencionou-se, então, que o Brasil não era produtor de azeite. Só que a oliveira cresce bem aqui, com galhos e troncos frondosos, mas apresenta produtividade menor que a mediterrânea. Para dar frutos é preciso estresse térmico, 300 horas abaixo de 12ºC no ano, ou estresse hídrico, seca. Nas regiões de altitude, como a da Mantiqueira, e de latitudes como no Sul, as condições favorecem a cultura.

A olivicultura mostrou sua viabilidade econômica no Brasil a partir de 2006. As empresas de pesquisas, Epamig (MG) e Embrapa (RS), desenvolveram estudos sobre variedades e manejo, proporcionando uma boa adaptação ao solo e clima brasileiros. Isso nos fez ganhar etapas, em termos de qualidade, se comparado aos vastos pomares europeus. Agregue-se a isso que o azeite é um suco de fruta e, quanto mais fresco, melhor. Menos de 15 anos depois, o Brasil se destaca no cenário mundial pela qualidade do azeite que produz.

Hoje ultrapassamos a casa de 120 marcas e de mais de 10 mil hectares plantados no Brasil. Números ainda ínfimos quando o assunto é mercado interno. Temos um consumo per capita/ano de 500 mililitros e importação anual de 100 milhões de litros —segundo maior importador do mundo, atrás dos Estados Unidos. A produção brasileira, 250 mil litros em 2021, não chega a 1% desse mercado. O que prevalece nas gôndolas são produtos importados de safras passadas, ainda com valor nutricional e sensorial, mas muito aquém do extravirgem brasileiro fresco.

O tamanho do mercado atrai também fraudadores. O azeite é o segundo produto mais fraudado no planeta, onde misturas ou refino de azeites velhos são vendidos como legítimo português ou espanhol.

No Brasil, o Ministério da Agricultura já identificou e retirou do mercado muitos azeites falsificados. Aqui exige-se apenas a análise química, uma fotografia de momento do produto. O ideal seria, como na Europa, painéis de análise sensorial capazes de atestar a qualidade de um azeite. Por sorte, estamos avançando na criação do primeiro painel de análise sensorial e aumentando a vigilância. Assim, vamos conseguir desfrutar com um pouco mais de segurança desse "ouro" líquido que é o bom azeite extravirgem brasileiro.

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