Descrição de chapéu São Paulo Governo Lula

Boulos põe Haddad na campanha e faz 'disputa de marcas' com Nunes

Pré-candidato do PSOL exalta 'gestões progressistas'; equipe do atual prefeito lista legados e lembra derrotas de petistas

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São Paulo

O pré-candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) ampliou as menções ao legado do que chama de gestões progressistas já eleitas na capital e incorporou à pré-campanha o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), hoje ministro da Fazenda, com quem fez um evento nesta sexta-feira (24).

Apoiado pelo presidente Lula (PT), Boulos tem como vice Marta Suplicy (PT) e conta ainda com o endosso de Luiza Erundina (hoje no PSOL). As duas ex-prefeitas também tiveram atividades com o deputado federal nesta semana. A agenda com Haddad foi a primeira nesta pré-campanha.

Boulos quer estimular uma comparação de marcas entre os três governos petistas e a administração Ricardo Nunes (MDB). A pré-campanha do PSOL considera o atual prefeito incapaz de deixar heranças duradouras. Aliados de Nunes rebatem as críticas e atacam o histórico das gestões de esquerda.

O pré-candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL), em evento com o ministro Fernando Haddad (à dir.) e a ministra Marina Silva (à esq.) - Marlene Bergamo/Folhapress

A associação com os ex-prefeitos, tratada como um trunfo, embute riscos para a candidatura do deputado. Nem Marta nem Haddad se reelegeram. Erundina não conseguiu fazer sucessor —em 1992, quando ela, então no PT, encerrava o mandato, ainda não existia a possibilidade de reeleição.

Haddad deixou a prefeitura reprovado por 40% e aprovado por apenas 18% da população, segundo o Datafolha. Ele teve 16,7% dos votos na tentativa de reeleição, em 2016, quando o PT amargava alta rejeição. João Doria (à época no PSDB) venceu o pleito no primeiro turno, algo inédito na cidade.

Auxiliares de Boulos minimizam o histórico, falando em uma espécie de reabilitação de Haddad perante o eleitorado paulistano. O petista, que disputou o governo estadual em 2022, superou Tarcísio de Freitas (Republicanos) em votação na cidade tanto no primeiro quanto no segundo turno.

O ministro também figurou em pesquisa Datafolha de março sobre o melhor prefeito da cidade nos últimos 40 anos. Ele ficou na terceira posição, com 11% das menções dos entrevistados, empatado numericamente com Erundina e Mário Covas (PSDB). O ranking foi liderado por Marta (16%).

"São três gestões com um legado que é inegável", diz Josué Rocha, coordenador da pré-campanha. Segundo ele, a intenção é mostrar que a frente construída por Boulos "já administrou São Paulo, e com bons resultados, demonstrando uma visão de cidade comprometida com as pessoas".

Para Rocha, Nunes não tem exemplos de "programas de longo prazo ou medidas que remodelaram a vida da população".

Presidente municipal do MDB, Enrico Misasi afirma que a resposta aos governos petistas foi dada nas urnas. "Os três trunfos eleitorais, entre aspas, que o Boulos está trazendo tiveram a oportunidade de fazer o sucessor ou tentar a recondução e foram prontamente rechaçados pela população."

Misasi, também secretário municipal de Relações Institucionais, contesta a ideia de que Nunes carece de marcas e cita como exemplos: programa Domingão Tarifa Zero, faixas azuis para motos, filas zeradas para creches, ampliação da rede socioassistencial, equilíbrio financeiro e quitação da dívida com a União.

"O prefeito vai ficar para sempre como aquele que conseguiu zerar a segunda ou terceira maior dívida pública do país", diz.

Sem experiência no Executivo, Boulos pega carona em vitrines de governos do PT para sinalizar como seria uma eventual gestão sua. Ele também recheou o grupo que formula seu plano de governo de ex-secretários e colaboradores de administrações passadas, inclusive de fora da esquerda.

Um levantamento da equipe lista como principais feitos do trio de ex-prefeitos, entre outros: corredores e faixas de ônibus, Bilhete Único, CEUs, política de uniforme e material escolar gratuito, criação da Controladoria-Geral do Município, abertura de ciclovias e construção de Casas de Cultura e hospitais.

Rocha diz que as derrotas eleitorais de Erundina, Marta e Haddad são explicadas pela conjuntura política de cada momento, "mas, independentemente disso, os legados que deixaram e as avaliações positivas das gestões deles são sentidos, porque trouxeram benefícios substanciais para a vida das pessoas".

"O Nunes cita o recapeamento [como marca]. Na minha opinião, é um serviço de zeladoria e manutenção que deveria ser permanente, e não ser encarado como uma grande marca", afirma.

Indagado, Misasi responde que o programa Asfalto Novo aparece em pesquisas como uma bandeira que a população associa ao prefeito. "Cuidar da cidade é obrigação. E a população quer justamente que se cumpram as obrigações do prefeito da melhor maneira possível. É isso o que a gente está buscando fazer. Quando você cumpre uma obrigação de maneira extraordinária, isso vira uma marca."

O evento de Boulos com Haddad incluiu também a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), sua apoiadora, para um seminário aberto ao público sobre cidades do futuro e transformação ecológica.

Haddad exaltou no discurso "o legado dos governos progressistas", com "marcas lembradas de uma forma muito carinhosa", sobretudo a da participação popular. O petista disse que Boulos será "o 4.0" na trajetória e aconselhou o aliado a se preparar para críticas como as sofridas em intensidade pelos antecessores.

Falando de sua própria experiência, ele mencionou a resistência a ações como a Paulista Aberta e a ampliação da coleta seletiva. Deu ainda uma alfinetada em Nunes, sem citá-lo nominalmente, ao afirmar que o atual prefeito "cedeu a pressões" do setor imobiliário na revisão do Plano Diretor.

Como mostrou a coluna Painel, a presença do ministro contribui na estratégia do pré-candidato do PSOL de suavizar sua imagem e afastar a pecha de radical. Haddad, que encampou projetos como o arcabouço fiscal e a reforma tributária, é bem avaliado por alas do mercado financeiro.

Também nesta sexta, Boulos visitou com Erundina um projeto social na zona sul. A deputada federal foi vice dele na campanha à prefeitura em 2020, quando chegaram ao segundo turno. A vinculação a ela já era usada, na época, para atenuar a inexperiência do cabeça de chapa.

Com Marta —que foi repatriada pelo PT numa articulação de Lula para ser vice desta vez— Boulos tem feito aparições desde janeiro. Nesta quinta-feira (23), os dois foram a um ato em comemoração dos 20 anos do Bilhete Único, instituído por ela no transporte público quando era prefeita.

"Quem trouxe conquista para esta cidade foram os governos populares, é quem olha para o povo, quem está nas periferias, o povo mais sofrido. E este ano, em outubro, nós temos a oportunidade de construir novamente um governo popular", discursou Boulos no evento.

Na filiação de Marta ao PT, em fevereiro, Haddad afirmou que "a população paulistana, quando puxar pela memória, vai lembrar de alguma coisa que aconteceu nesses 12 anos de governos progressistas na cidade". O ex-prefeito também foi, no ano passado, ao ato do PT que oficializou a aliança com Boulos.

Segundo o presidente municipal do PT, Laércio Ribeiro, Haddad se dispôs a participar de outras atividades, sobretudo aos fins de semana. "Muitas das políticas que nós vamos defender agora são medidas que foram implementadas na gestão do Haddad", diz ele, também coordenador da pré-campanha.


Os 'governos progressistas' em SP que Boulos evoca

Luiza Erundina (à época no PT, hoje no PSOL)
Governou a cidade de 1989 a 1992. Deputada federal, foi candidata a vice de Boulos na eleição de 2020 em estratégia para atenuar a inexperiência dele

Marta Suplicy (PT)
Prefeita de 2001 a 2004, voltou ao PT a convite de Lula neste ano, após passagens por MDB e Solidariedade, para ser vice na chapa do PSOL

Fernando Haddad (PT)
Administrou São Paulo de 2013 a 2016. Hoje ministro da Fazenda, atua como cabo eleitoral de Boulos, que tem defendido medidas da gestão do petista

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