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PENSATA

Terça-Feira, 17 de outubro de 2000


Revolução permanente

Melchiades Filho
     

Diego Medina
Na NBA, às vezes não há nada mais chato que um jogo equilibrado, disputado, que chegue indefinido aos minutos finais. Isso mesmo. Quanto melhor, mais desagradável ao torcedor.

O paradoxo se explica pelo chamado "overcoaching", a participação obsessiva (ou invasiva) do técnico nos momentos mais críticos do espetáculo.

Quem acompanhou os playoffs do último campeonato norte-americano, especialmente as séries entre Los Angeles Lakers e Portland e entre o time californiano e o Indiana, vai se recordar.

Um período de 12 minutos de tempo de jogo no cronômetro chegava a durar uma hora, graças a pedidos de tempo e orientações para que os atletas travassem o relógio com faltas. Cada ataque ou defesa era minuciosamente desenhado. A quadra transformava-se em uma prancheta.

Xiii, você pode estar pensando, lá vem outro colunista reclamar dos treinadores, lembrar que quem ganha o jogo é o craque...

Não, não pretendo referendar no basquete o discurso que tomou conta do futebol. Pelo contrário, penso que a tática tornou-se fundamental para vencer.

Mas é preciso perguntar onde está a inteligência de uma estratégia que tira o fluxo e a beleza do esporte e que, em último instância, esvazia a arquibancada.

Em menos de três meses no cargo, o vice-presidente de Operações da NBA, Stu Jackson, chegou a esse diagnóstico.

Embora não fira o regulamento, o "overcoaching" aliena o fã e, por isso, deve ser considerado antijogo e combatido, propôs ele em reunião de cúpula em julho.

A liga norte-americana já vinha no embalo de mudanças, mas não hesitou em radicalizá-las.

Na temporada 99/00, a NBA mudou as regras a fim de coibir o uso das mãos no jogo de corpo da defesa e de garantir "imunidade total" aos atletas que se deslocassem para receber a bola.

O jogo ganhou muita velocidade. A produção de pontos aumentou 6%, de 183,2 para 195 por partida _dez times registraram médias centenárias, nove a mais do que em 1999. E o aproveitamento dos arremessos também subiu, de 43,7% para 44,9% _depois de 16 anos de declínio sucessivo (em 1984, a pontaria era de 49,2%).

Desta vez, os cartolas trabalharam para destravar os jogos.

As equipes terão direito a pedir seis tempos técnicos ao longo da partida, um a menos _três, e não quatro, no último período de jogo; dois, e não três, na prorrogação e assim por diante.

Com algumas exceções, a duração desses intervalos também vai cair, de 100 para 60 segundos.

Mas a mais importante novidade ocorre quando um atleta sofre falta quando tem o caminho livre para a cesta. Antigamente, ele recebia o direito de chutar dois lances livres. Agora, vai arremessar apenas uma vez. Mas sua equipe manterá a posse de bola.

A alteração procura desestimular o "efeito Shaquille O'Neal": os times agrediam jogadores com mau desempenho nos lances livres para recuperar rapidamente a posse de bola e ampliar as chances de se recuperar no placar.

Alguns críticos temem a descaracterização do basquete, acham que a NBA arrisca-se demais com a revolução permanente. A gente vai poder conferir a partir do dia 31.



NOTAS

Mudanças 1

Reprograme o controle remoto. Depois de quase uma década, as partidas da NBA deixam a programação da TNT. No leilão que a liga realiza a cada dois anos, a PSN apostou mais alto e arrebatou os direitos. Baseada em Miami, a emissora pretende usar o basquete como "tampão" da grade dominical _dependendo do horário do futebol italiano, os jogos poderão ser exibidos até com "delay". Os fiéis da bola laranja que se acostumaram a varar as noites de segunda e quarta-feira à frente da TV ficaram órfãos.

Mudanças 2
Na TNT, era possível acompanhar a narração original, em inglês. Na PSN, nem com a tecla SAP vai dar para evitar os bordões de Marco Túlio Reis.

Mudanças 3
Oito dos 29 times da liga norte-americana vão estrear treinadores. O destaque é o legendário Isiah Thomas, que assumiu o Indiana, atual vice-campeão.

Mudanças 4
Quase cem atletas trocaram de equipe na pré-temporada. Prometo analisar o perde-ganha nas próximas semanas.



E-mail: melk@uol.com.br


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