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Conheça os melhores filmes de 2021, segundo críticos do The New York Times

'Ataque dos Cães', 'Amor, Sublime Amor', documentários e outros longas que estreiam no Brasil em 2022 estão na lista

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A.O Scott Manohla Dargis
The New York Times

Mesmo que o filme não seja ótimo, ir ao cinema continua a ser. Mas houve alguns lançamentos maravilhosos, de documentários sobre música a musicais, westerns e histórias simplesmente estranhas.

Os 10 melhores argumentos quanto à importância dos filmes

A.O. Scott

Este ano, a sensação para mim foi a de que cada bom filme representava um argumento em favor da importância do cinema. Havia muita ansiedade, relacionada à pandemia e a outras coisas, sobre qual poderia ser o futuro dessa forma de arte.

Será que tudo passará a depender do streaming, exceto alguns poucos espetáculos associados a grandes franquias dos quadrinhos e do passado do cinema? Será que as plataformas de streaming (e seus assinantes) serão receptivas a obras ousadas, difíceis, incômodas ou esotéricas? Quem quer que afirme conhecer as respostas para essas perguntas estará sendo insensato.

O que posso lhes dizer com certeza é que os dez filmes de que falo abaixo e os outros 11 que quase entraram na lista fizeram tudo que podiam para resistir à desonestidade, complacência e malevolência que se espalham pelo mundo. Recompensam a atenção do espectador, despertam seus sentimentos e respeitam sua inteligência. E tudo isso ajuda.

1. "Summer of Soul"
EUA, 2021. Direção: Questlove

O documentário sobre uma série de shows realizados ao ar livre no Harlem em 1969, que entrelaça imagens maravilhosas de apresentações ao vivo e entrevistas com músicos e espectadores, é uma injeção de alegria pura. O elenco é um panteão de gênios negros, que inclui Stevie Wonder, Sly Stone, Staple Singers, Mahalia Jackson e muita gente mais. Mas o filme é mais do que uma cápsula do tempo: é uma lição de história e um argumento sobre por que a arte importa —e o que ela pode fazer em momentos de conflito e ansiedade.

2. "Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental"
Romênia/Luxemburgo/República Tcheca/Croácia, 2021. Dir.: Radu Jude

De sua abertura contendo sexo explícito à sua conclusão tumultuosa, esse filme romeno que desafia categorias captura quase bem demais o clima ansioso e desesperado do presente. Uma professora de Bucareste (a brilhante e destemida Katia Pascariu) vê seu emprego em risco depois que um vídeo de sexo que ela gravou com o marido se torna um sucesso quase viral. Enquanto isso, a pandemia da Covid e as hostilidades sempre fervilhantes da guerra cultural transformam a vida cotidiana em um teatro de queixas e ansiedade. O que mantém tudo isso unido –com muito esforço– é a intelectualidade abrasiva da direção de Jude e a raiva feroz que alimenta sua zombaria.

3. "Ataque dos Cães"
Reino Unido/Canadá, 2021. Dir.: Jane Campion. Disponível na Netflix

Há muitos cineastas talentosos, interessantes e competentes trabalhando hoje. E há Jane Campion, que pratica cinema em um nível completamente distinto. O talento técnico que ela evidencia nesse western grandioso e de paisagens amplas —as imagens, a música, o contraponto nos desempenhos de Benedict Cumberbatch, Kirsten Dunst, Jesse Plemons e Kodi Smit-McPhee– evoca as melhores tradições da narrativa hollywoodiana tradicional. Mas não existe coisa alguma de convencional ou careta na maneira pela qual Campion adapta o romance de Thomas Savage sobre ciúme, poder e intriga sexual.

4. "Pequena Mamãe"
França, 2021. Dir.: Céline Sciamma. Estreia nos cinemas em 2022

A morte de uma avó, o pesar de um pai, a descoberta de uma nova amiga —essas experiências comuns, ao longo de algumas semanas na vida de uma menina de oito anos de idade, oferecem a estrutura narrativa básica para esse filme seco e perfeito. Determinar se ele deve ser descrito como um conto de fadas moderno, como uma história psicológica de fantasmas ou como uma fantasia de viagem no tempo realizada com baixa tecnologia cabe ao espectador. O que é certo é que o desempenho das gêmeas Joséphine e Gabrielle Sanz, que interpretam amigas possivelmente imaginárias, tem uma pureza e clareza que Sciamma —de "Retrato de uma Jovem em Chamas"— emprega para o máximo impacto emocional.

5. "Bring Your Own Brigade"
EUA, 2021. Dir.: Lucy Walker

Esse documentário assustador sobre os incêndios nas matas da Califórnia também se torna, quase por acidente, uma exploração da resposta polarizada, caótica e fadada à derrota dos Estados Unidos à pandemia do coronavírus. O retrato que Walker pinta é complicado, em parte porque as pessoas também o são: estúpidas, generosas, irresponsáveis e corajosas. Não se pode definir o filme como otimista, mas sua mente aberta, compaixão e rigor intelectual oferecem alguma proteção contra o desespero.

6. "Bergman Island"
França/Alemanha/Bélgica/Suécia, 2021. Dir.: Mia Hansen-Love

Em um ano em que os rumores da morte das salas de cinema se espalharam em companhia de todas as outras más notícias, foi delicioso encontrar essa exploração calorosa, irônica e emocionalmente esperta do amor pelo cinema, da produção do cinema e do turismo cinematográfico. Dois cineastas viajam a Faro, uma ilha na Suécia onde o diretor Ingmar Bergman vivia e trabalhava, para descobrir alguma coisa —ou que os filmes são vida ou que a vida é mais do que filmes.

7. "Drive My Car"
Japão, 2021. Dir.: Ryusuke Hamaguchi

Um ator e diretor de teatro (Hidetoshi Nishijima) que enviuvou recentemente viaja a Hiroshima para dirigir uma versão experimental de "Tio Vânia", de Chekhov. Uma jovem (Toko Miura), que também sofreu perdas recentes, é contratada como sua motorista. Partindo disso —e do conto de Haruki Murakami que serve de base à história—, Hamaguchi cria uma meditação discreta e profunda sobre a complexidade das conexões humanas. O espírito de Chekhov é uma presença forte na história, e é honrado pelo apreço compassivo mas nada sentimental que o filme demonstra por seus personagens.

8. "Memoria"
Colômbia/Tailândia/França/Alemanha/México/Catar, 2021. Dir.: Apichatpong Weerasethakul

Os filmes de Weerasethakul desafiam qualquer categorização fácil e são difíceis de resumir. Descrevê-los como oníricos é incompleto, porque o espectador nunca sabe quem exatamente está sonhando. No caso, pode ser Jessica (Tilda Swinton), expatriada escocesa que vive na Colômbia. Ou quem sabe visitantes alienígenas, o cineasta, o planeta Terra ou o tempo. O certo é que o filme aguça os sentidos e ativa emoções que não se tornam menos poderosas porque encontramos dificuldades para nomeá-las.

9. "Amor, Sublime Amor"
EUA, 2021. Dir.: Steven Spielberg. Com: Ansel Elgort, Rachel Zegler, Ariana DeBose. Nos cinemas. 14 anos

De algum modo, Steven Spielberg e Tony Kushner —e um elenco jovem e enérgico de Jets e Sharks—conseguiram realizar um golpe cinematográfico surpreendente. Respeitando a arte e as boas intenções do musical teatral que originou a história, eles o transformaram em algo urgente, moderno e empolgante. Há muito o que deslindar nos gestos de reverência e revisionismo do filme, mas o principal são as grandes emoções, as canções memoráveis e a fé inabalável em que a sinceridade será sempre mais forte do que o cinismo.

10. "The Velvet Underground"
EUA, 2021. Dir.: Todd Haynes. Disponível no Apple TV+. 16 anos

Como "Summer of Soul", esse documentário revisita a música da década de 1960 com um espírito mais histórico que nostálgico. Em lugar de entrevistar músicos atuais para que prestem tributo a seus predecessores, Haynes se concentra no Velvet Underground em seu momento e na cena artística que o gerou. Ele dedica atenção especial às conexões entre a banda e o cinema experimental que florescia em Nova York, cujos trabalhos inspiram seu estio visceral, cerebral e visualmente denso de contar histórias.

Além disso:

"Annette" (Leos Carax), "O Discípulo" (Chaitanya Tamhane), "Flee" (Jonas Poher Rasmussen), "The Green Knight" (David Lowery), "A Mão de Deus" (Paolo Sorrentino), "King Richard: Criando Campeãs" (Reinaldo Marcus Green), "Mogul Mowgli" (Bassam Tariq), "Mães Paralelas" (Pedro Almodóvar), "Identidade" (Rebecca Hall), "O Planeta" (Amalia Ulman), "The Souvenir Part 2" (Joanna Hogg), "Spencer" (Pablo Larraín), "The Tragedy of Macbeth" (Joel Coen).

O melhor filme passou em um cinema

Manohla Dargis

Em julho, assisti a um dos filmes mais medíocres que vi este ano —e foi glorioso. Depois de mais de 16 meses de streaming em casa, fui ao cinema ver Matt Damon resmungando sobre os problemas dos brancos em "Stillwater". O filme era chato, banal e irritante, e minha resenha o definiu dessa maneira. Mas embora eu tenha lamentado que o filme não fosse melhor, ainda assim me senti grata, porque me permitiu voltar ao cinema, à telona e à companhia dos demais espectadores.

A presença das demais pessoas certamente me preocupou. Estavam de máscara —bem, a maioria estava— mas será que eu me sentiria segura e tranquila por duas horas em companhia daquelas pessoas? Eu já estava vacinada, e de máscara, mas ainda estava me readaptando ao mundo. No entanto, a sala era boa, a tela era enorme, e decidi que seria possível —embora antes tivesse de dizer a um cara sentado por perto que ele precisava, sim, colocar a máscara que tinha estacionado na altura do queixo. Ele atendeu ao meu pedido, e eu me acomodei, de volta a um lugar que sempre me fez imensamente feliz: estava no cinema.

De lá para cá, assisti a muitos outros novos lançamentos em pessoa, o que inclui visitas a dois festivais em que devorei cinema como uma pessoa faminta (e por isso meu muito obrigado aos festivais de cinema de Toronto e de Nova York). Tive alguns meses de licença no começo do ano para trabalhar em um livro, e embora eu tenha assistido a muitos filmes, novos e antigos, no período (alô, Marie Dressler!), sentia falta de sair (para qualquer lugar). Sentia muita falta de imagens realmente grandes e brilhantes, e dos meus pequenos rituais, incluindo a busca rápida pelo lugar perfeito e a espera repleta de antecipação pelo começo do filme, pelo momento em que uma pessoa aperta o botão e faz começar o show.

Críticos de cinema tendem a escrever sobre filmes como entidades separadas. Mesmo ao resenhar franquias que copiam cópias de outras franquias, é frequente que nos atenhamos ao objeto da crítica. Embora às vezes revelemos como um filme nos fez sentir (alegres, tristes), raramente escrevemos sobre a verdadeira profundidade de nossas experiências ao assisti-los —a sensação gerada pelas imagens ao fluir da tela para nossos corpos e memórias— ou sobre o efeito que isso tem sobre nós. Há muitos motivos para isso, incluindo as convenções da crítica cinematográfica, que tendem a medir os filmes com base em certos valores, tradicionalmente prescritos, alguns dos quais literários, outros comerciais: a história era boa, tinha algo a dizer, vale a pena sair de casa para vê-la, vale a pena gastar o dinheiro que isso vai requerer?

É evidente que o dinheiro é sempre parte da equação, e isso fica evidente em muitas das discussões sobre o futuro das salas de cinema. A maior parte do debate sobre a experiência de ir ao cinema, hoje em dia, se resume a jornalistas e figuras da indústria do cinema papagaiando a lógica do capitalismo, ou seja, o cinema deve ir para onde o poder da indústria ditar.

A Netflix e os demais grandes serviços de streaming tiveram um impacto imenso, sem dúvida, e podemos falar sobre o que isso significou dentro de alguns anos. Mas qualquer que seja a racionalização, o motivo para que o foco na Netflix e na Disney seja tão intenso é seu domínio monopolista não só sobre o setor de entretenimento, mas sobre a mente coletiva da mídia comercial. No entanto, também existem outras considerações.

E, sim, o número de pessoas que assistirão a "Ataque dos Cães", o filme mais recente de Jane Campion, será maior do que o que assistiu a qualquer de seus outros filmes, em uma carreira que já dura décadas, porque o novo trabalho está disponível na Netflix. Mas o que importa é o filme. E você deveria assisti-lo, em casa ou, se puder, no cinema. É um trabalho lindo, não importa o tamanho da tela. Mas estou grata por tê-lo visto diversas vezes no cinema. Para começar, pude me concentrar no filme e não nas distrações de minha casa, mas acima de tudo pude experimentar o poder das imagens monumentais, e sentir de modo profundo e visceral a claustrofobia dos interiores sombrios e a ausência arrebatadora de limites de suas paisagens abertas.

Como todos os filmes que amo, "Ataque dos Cães" me incomodou. Assisti ao filme, senti o filme, mergulhei no filme. E, como todos os filmes de que mais gosto, ele é muito mais que a soma de suas partes, por mais bem cinzeladas que elas sejam. Admiro o fluxo da narrativa, mas o significado do filme está além de sua divisão em capítulos e de seu diálogo. Nas tomadas aéreas de Campion sobre uma terra árida e solitária, e em seus closes angustiados —a crina de um cavalo iluminada contra o céu, a dança rítmica de um filamento de couro contra o corpo de um homem—, ela deflagra uma cascata de associações. Ao ver Benedict Cumberbatch, que interpreta o vilão atormentado do filme, você divisa em seus passos John Wayne, Gary Cooper, Clint Eastwood. Vê o arco do western como gênero, os homens e mulheres que você conhece, o mundo em que você vive.

1. "Drive My Car" (Ryusuke Hamaguchi)
Japão, 2021. Dir.: Ryusuke Hamaguchi

Obra-prima sobre vida e morte e arte, de um dos diretores mais empolgantes a chegar ao cenário internacional em muito tempo, "Drive My Car" se inspira no teatro e na literatura —uma dose de "Esperando Godot", mas principalmente "Tio Vânia" e o o conto de Haruki Murakami que dá título ao filme— a fim de criar um trabalho de cinema puro.

2. "Ataque dos Cães"
Reino Unido/Canadá, 2021. Dir.: Jane Campion. Disponível na Netflix

Muito se disse, e com razão, sobre o desempenho poderoso de Benedict Cumberbatch como uma força malévola chamada Phil, no mais recente trabalho de Campion. Muito mais poderia ser dito sobre a delicadeza e a beleza do trabalho de Kirsten Dunst como Rose, sustentando o centro moral do filme com uma interpretação devastadora que mostra de que maneira o otimismo pode ser morto brutalmente, mas renascer.

3. "The Velvet Underground"
EUA, 2021. Dir.: Todd Haynes. Disponível no Apple TV+. 16 anos

Tudo funciona nesse soberbo testemunho de Todd Haynes sobre um mundo perdido que ajudou a criar o nosso: a música, a arte, as drogas e as ideias. Lou Reed e John Cale, Andy Warhol e Jonas Mekas, a beleza e a feiura, a moradia acessível em Nova York e a liberdade artística conferida pelos aluguéis baratos, as luzes, rugidos e sombras cada vez mais escuras que engoliam pessoas. Está tudo aqui. Assista –e ouça bem alto.

4. "Summer of Soul"
EUA, 2021. Dir.: Questlove

Há muito a amar no documentário de Questlove sobre uma série de shows realizados no verão de 1969 em Nova York, especialmente a música, que nos eleva. Mas considere também o design formal e o rigor, e a maneira pela qual o filme se contrai e expande, acompanhando os chamados e respostas dos palcos, e o modo pelo qual Questlove estreita o foco em pequenos momentos de beleza –uma nota sublime, um passo de dança, um sorriso– e depois volta a expandir graciosamente os horizontes ao dialogar com o passado, o presente e o futuro possível.

5. "Identidade"
EUA, 2021. Dir.: Rebecca Hall. Disponível na Netflix. 14 anos

Passado na década de 1920, o filme delicado e forte de Hall trata de duas mulheres negras americanas, amigas desde a infância, que se passam por brancas. Uma delas, Irene (Tessa Thompson), o faz por conveniência, como ao entrar em um hotel segregado racialmente, e a outra, Clare (Ruth Negga), vive permanentemente como branca. Separadamente e juntas, com anseios e looks conflitantes, elas tentam superar as barreiras de cor, que W.E.B. Du Bois definiu como "o problema do século 20", e que ainda persistem teimosamente e continuam a dividir os Estados Unidos.

6. "Azor"
Suíça/França/Argentina, 2021. Dir.: Andreas Fontana. 12 anos

Com distanciamento gélido e controle meticuloso, esse drama chocante acompanha um banqueiro suíço e sua mulher em uma viagem de negócios aparentemente rotineira pela Argentina em 1980. Enquanto eles percorrem o país, a justaposição entre as casas burguesas que eles visitam e as forças armadas onipresentes cria uma tensão cada vez mais enervante, que culmina em um final destrutivo. No filme, cada sorriso polido e cada cortesia insossa está a serviço de um mundo de maldade.

7. "The Card Counter: O Jogador"
EUA, 2021. Dir.: Paul Schrader

Schrader vem contando sua história favorita há décadas —a de um homem sozinho em uma sala, sozinho em sua mente— às vezes com grande efeito e às vezes nem tanto, mas sempre de maneiras interessantes. Agora, com Oscar Isaac, Tiffany Haddish e Willem Dafoe, Schrader relata a mesma história uma vez mais, e entra na cabeça do espectador com sentimentos, uma mensagem política dispersa, violência horrenda e confiança diretorial.

8. "O Discípulo"
India, 2020. Dir.: Chaitanya Tamhane. Disponível na Netflix

De vez em quando, o personagem título, um cantor clássico de música hindustani (Aditya Modak), cavalga noite adentro, e ouvimos a voz de um guru musical que enche o ar e anima a alma. O jovem cantor sonha com a grandeza, mas, à medida que os anos passam e ele não encontra a perfeição por mais que treine, a separação entre aspiração e realidade vai se tornando cada vez mais larga. Em um ano de trilhas sonoras esplêndidas, esta é uma das mais inspiradoras.

9. "Roda do Destino"
Japão, 2021. Dir.: Ryusuke Hamaguchi. Estreia em 6 de janeiro nos cinemas

Este filme, o segundo de Hamaguchi a ser lançado nos Estados Unidos este ano, se divide em três histórias complicadas que dependem do acaso e, segundo ele, foram inspiradas por Eric Rohmer. Nem todas as partes funcionam igualmente bem, mas todas têm momentos de beleza e graça acompanhados por rios de palavras maravilhosas e complexas. Quando uma das personagens leva uma das mãos ao coração, em um momento em que se deixa dominar pelo sentimento, a tentação é a de fazer o mesmo na plateia.

10. "Spencer" (Pablo Larraín)
Reino Unido/Estados Unidos/Alemanha/Chile, 2021. Dir.: Pablo Larraín. Estreia nos cinemas em 3 de fevereiro

O drama de Larraín tem uma atmosfera perfeita (e repulsiva), e serve ao mesmo tempo como crítica devastadora à monarquia britânica, como retrato psicológico ardente e como filme de horror gótico com um lado cômico. Se você continua a rir e às vezes derramar lágrimas com a novela "The Crown", assistir a esse filme pode acabar com seu sorriso –ou fazê-lo rolar de rir.

Além disso...

"Bring Your Own Brigade" (um documentário inteligente e sensato que aponta soluções para a crise do clima e não faz o espectador chorar de depressão); "Duna" (é, eu sei, mas curti o espetáculo grandioso, de uma espécie que Hollywood raramente produz hoje em dia); "The Electrical Life of Louis Wain" (parte da safra Benedict Cumberbatch deste ano e filme obrigatório para quem quer que goste de animais, ou tenha um coração no peito); "Faya Dayi" (um sonho glorioso em que embarcar); "The First Wave" (um documentário comovente, inteligente e profundamente humano sobre a pandemia); "In the Same Breath" (um estudo objetivo, mas compassivo sobre a pandemia na China); "Licorice Pizza" (especialmente a cena do caminhão –eu assistiria a duas horas daquele trabalho de câmera e volante, dirigido, coreografado e encenado de maneira tão maravilhosa); "A Noite do Fogo" (perturbador e incômodo); "Preparations to Be Together for an Unknown Period of Time" (um lindo labirinto); "Stillwater" (o filme é ruim, mas me levou de volta aos cinemas); "The Truffle Hunters" (um lamento tocante quanto a comunidades e tradições que estão desaparecendo rapidamente); "A Mulher que Fugiu" (serialismo cinematográfico elegante, irônico e tocante).

Tradução de Paulo Migliacci

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